A história do Homem-Aranha, em especial, me agradou muito. O roteirista Brian Michael Bendis acertou a mão em sua versão adolescente do herói. Esse é o Cabeça-de-Teia como sempre deveria ser: meio magricela e com jeitão mais ágil. Segundo o próprio Bendis, em seu texto de apresentação, agora o Aranha “lembra um nadador ou um ginasta adolescente, o que de fato é. Nas histórias da continuidade tradicional, que aqui no Brasil são publicadas em Homem-Aranha Premium, esse aspecto mais franzino varia ao sabor dos desenhista. Alguns deixam-no musculoso demais, outros muito mirrado. Mark Bagley parece ter achado o ponto de equilíbrio.
Coadjuvantes da linha tradicional também foram alvo de mudanças. Harry Osborn e seu pai, Norman, ganharam cabelos ruivos e lisos. De olho no que já se sabe do filme que estréia ano que vem, nesta narrativa, os Osborn estão diretamente ligados ao surgimento do herói. Flash Thompson continua sendo o valentão da escola, mas seu visual lembra o do Lanterna Verde, Guy Gardner. Mary Jane agora é viciada em ciências, mas não tão CDF quanto Peter. A propósito, a ruivinha e Harry fazem parte do círculo de amizades de Peter Parker desde o colegial e não a partir da faculdade como aconteceu na continuidade tradicional. A Tia May virou uma senhora do século 21. Rejuvenesceu seu visual e até acessa a internet. Tio Ben é um velho hippie que não abandonou o rabo de cavalo. Ao que tudo indica, ele será uma personagem mais elaborada do que sua versão de 1962. Tem tudo pra ganhar a simpatia dos fãs, o que é uma judiação porque... Ops! Quase dei com a língua nos dentes. Afinal, muitos leitores devem estar chegando agora e pouco sabem do mito do Homem-Aranha.
A história dos X-Men também foi do meu agrado ainda que eu tenha preferido a abordagem de X-Men: os filhos do átomo. Nesta edição especial lançada um mês atrás, o roteirista Joe Casey ajusta o passado das personagens, mantendo-as no Universo Marvel convencional. Em Marvel Século 21, o escritor inglês Mark Millar cria algo novo, apenas inspirado na obra de seus predecessores.
A trama começa poderosa, com os Sentinelas varrendo os céus de Los Angeles. É de tirar o fôlego tanto pela narrativa visual sem um único balãozinho quanto pelo desfecho inclemente da cena. Palmas para o desenhista Adam Kubert. Vale ressaltar que o emprego destes andróides gigantes pelo governo americano dá-se em retaliação ao ataque terrorista de Magneto e sua Irmandade de Mutantes a Nova Iorque e Washington. Em represália, qualquer pessoa nascida com o fator X em seus genes torna-se um alvo em potencial do governo americano.
Numa coincidência macabra, o gibi chegou às bancas brasileiras quase simultaneamente aos atentados terroristas nas duas cidades acima citadas. Às vezes, é de se lamentar que a vida imite a arte. Agora resta torcer para que, diferente dos quadrinhos onde impera a intolerância aos mutantes, o preconceito não gere uma perseguição indiscriminada a árabes e muçulmanos.
Voltando às páginas da revista...
Como no caso do Aranha, os X-Men não são exatamente os mesmos. A aventura já começa com Ciclope e Jean Grey trabalhando para o professor Xavier. Ela tem 16 anos e cabelos curtos enquanto o rapaz aqui também lidera a nova equipe. Ao longo das primeiras páginas, vemos a ruiva telecinética recrutar as outros personagens que vão integrar a equipe. O primeiro é o Fera (Henry McCoy) apresentado sem aqueles pelos azuis, com cabelos compridos e um visual mais moderninho. Tempestade (Ororo Munroe), tal qual no Universo Marvel regular, surge como uma ladra. No entanto, não é recrutada na África e sim em uma delegacia do Texas após ter sido presa por roubo de carros. Justamente por ainda não saber usar seus poderes, ela teme o que pode fazer com eles e torna-se presa fácil da polícia. Colossus (Piotr Rasputin) aparece como um criminoso da máfia russa e também é alistado nos Estados Unidos. Esses são os primeiros X-Men que partem para salvar o jovem de 15 anos, Bobby Drake dos Sentinelas.
O visual dos uniformes sofreu mudanças. Mais comedido como o do filme, deixou de lado as cores berrantes e assumiu o látex preto com detalhes em amarelo. Os trajes também ganharam uma função: ocultar os heróis dos sensores de gene mutante dos letais Sentinelas. Mark Millar, por sua vez, não resiste a fazer troça com os codinomes consagrados nos gibis tradicionais. As personagens estranham e não apreciam a idéia de usar apelidos ridículos como Tempestade e Fera.
O pontapé inicial de X-Men foi certeiro. Agora é torcer para que a série não se transforme em uma novela mexicana com pouca ação e gente falando pelos cotovelos. Essa tagarelice, no Universo Marvel convencional, já cansou.
Nota
Omelete
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3
ovos e uma gema
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Marvel Século 21 chama atenção pela quantidade de páginas, o formato esquisito – um meio termo entre o formato americano e Espada Selvagem de Conan –, o papel de primeira e o preço camaradíssimo: R$4,50. Pena que as cem páginas desta edição sejam reduzidas para 52 a partir do número 2.