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Morre John Buscema

Morre John Buscema

11.01.2002, às 01H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 12H42
O mundo dos quadrinhos perdeu um de seus maiores talentos. Morreu John Buscema, um dos maiores artistas do quadrinho norte-americano.

Nascido no Brooklin (Nova York), em 11/12/1927, John Buscema demonstrou cedo a paixão pelos quadrinhos que manteria por sua vida inteira. Grande fã das tiras de Flash Gordon e do Príncipe Valente, Buscema decidiu seguir carreira como artista. Para isso estudou na High School of Music and Art de Manhattan (hoje chamada School of Performing Arts), ao mesmo tempo em que à noite estudava na escola de arte Pratt.

Toda essa dedicação foi recompensada em 1948, quando Stan Lee o chamou para desenhar uma história para a Timely Comics (hoje Marvel Comics), que envolvia ladrões de sepultura escavando o túmulo de Abraham Lincoln (!). Apesar de afirmar que “teve problemas desenhando Abe Lincoln”, o trabalho de Buscema agradou Lee, que o contratou como um dos artistas regulares da Timely (desenhando principalmente séries policiais e de faroeste).

Porém a crise que abalou os quadrinhos americanos nos anos 50 atingiu duramente a Timely. John Buscema ainda tentou se manter na indústria, fazendo trabalhos para várias outras editoras (incluindo a Charlton, a Dell e a ACG), mas acabou deixando os quadrinhos por volta de 1958, indo trabalhar em arte publicitária juntamente com seu irmão Sal.

Com a recuperação da indústria de quadrinhos (e da Marvel Comics em particular) em meados dos anos 60, Stan Lee decidiu procurar muitos dos artistas com quem trabalhara durante a Era de Ouro. Um dos primeiros foi John Buscema, a quem Stan Lee fez, em suas próprias palavras, “uma oferta muito atraente”. Buscema volta a Marvel em 1966 e nela permanece por mais de 30 anos. Seu talento e dinamismo fazem dele um dos artistas mais requisitados da editora, e ele desenha, em um momento ou outro, quase todos os super-heróis da Marvel.

Curiosamente, Buscema nunca se sentiu atraído pelos heróis de roupa colante. “Eu não gosto de fantasia”, disse ele uma vez, “eu gosto de realismo”. Ainda assim, ele apreciava trabalhar com dois super-heróis em particular: Thor e o Surfista Prateado.

O trabalho dele na série do Surfista Prateado marcou época. Embora fosse uma criação de Jack Kirby, o personagem teve suas melhores histórias nas mãos da dupla Stan Lee e John Buscema, durante 17 números de sua curta série original (alguns arte-finalizados por Sal Buscema, que seguiu John na carreira de artista de HQs). Nesta série, Buscema criou a visão definitiva do personagem, superando até mesmo o lendário Kirby. É famosa a cena do filme “Maré Vermelha” em que dois marinheiros brigam em torno de qual seria o melhor artista do personagem, se Kirby ou o francês Moebius. Pois bem, a versão de Buscema unia a energia da arte de Kirby com a elegância da de Moebius. Ainda assim, o Surfista de Buscema nunca foi tão popular quanto o dos outros dois criadores e a série acabou por ser encerrada (a editora Mythos vem prometendo reimprimir este trabalho há algum tempo).

Após deixar o Surfista Prateado, Buscema finalmente encontrou o personagem ao qual seu nome seria irremediavelmente ligado: Conan, o bárbaro. Assumindo o personagem depois da partida de seu artista original, Barry Windsor-Smith, Buscema logo o adaptou de acordo com sua própria visão, rústica e selvagem, mais adequada à Era Hiboriana que o criador de Conan, Robert Howard, descrevia em seus livros. “Conan é um homem de verdade”, declarou Buscema, “ele se machuca... Ele é forte e poderoso, mas é real! Ele não tem superpoderes”.

Trabalhando com um personagem que tanto apreciava, Buscema deu vazão a todo seu talento. Ajudado por uma hoste de talentosos finalizadores (com destaque para Alfredo Alcala, Ernie Chan e Tony de Zuñiga), Buscema fez no personagem os melhores trabalhos de sua carreira. A ligação entre artista e personagem durou muitos anos e praticamente todas as grandes sagas do bárbaro nos quadrinhos foram desenhadas por ele (quase sempre em parceria com o escritor Roy Thomas). Ao se aposentar, em 1996, John fizera mais páginas de Conan que qualquer outro artista que trabalhou no personagem!

Além de seu trabalho como artista, ele também ensinou a arte dos quadrinhos durante vários anos em um colégio de Manhattan. Quando o trabalho como professor começou a interferir com sua produção de HQs, Buscema acatou a sugestão de Stan Lee e fez um livro sobre o assunto. O livro, How to Draw Comics the Marvel Way, tornou-se um grande sucesso de vendas e definiu o padrão de arte para quadrinhos de super-heróis durante muitos anos.

Diferente de muitos artistas, Buscema nunca se interessou em escrever suas próprias histórias. Sua paixão era a arte e ele desenhava constantemente. Grande parte de suas páginas de arte original contém inúmeros esboços e rascunhos no verso, alguns até melhores que a arte publicada! Esses “rabiscos” eram muito admirados por seus colegas artistas e vários foram compilados no recente livro “John Buscema Sketchbook”.

Mesmo após sua aposentadoria, Buscema nunca abandonou totalmente as HQs. Além de viajar pelo mundo (especialmente para a terra de seus ancestrais, a Itália), John usou o seu tempo livre para fazer vários trabalhos ocasionais, não só para a Marvel como também para a arqui-rival DC Comics, para a qual desenhou uma história curta do Batman e seus últimos trabalhos: Uma história ainda não revelada pela editora e o especial “Imagine Stan Lee Criando Super-Homem”, publicado aqui pela Editora Abril.

Alguns meses atrás, John Buscema foi diagnosticado com câncer no estômago. Incurável. A notícia causou consternação em todos os que o conheciam. Buscema passou seus últimos dias em companhia de seus amigos familiares, falecendo a 10 de janeiro de 2002, aos 74 anos. Ele se foi, mas será sempre lembrado como um marco na história dos quadrinhos.

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