A edição de fevereiro da revista Playboy nos EUA traz uma capa que atiçou os ânimos dos fãs de quadrinhos - de forma negativa. A modelo Tiffany Fallon aparece "vestida" de Mulher-Maravilha.
Vestida entre aspas porque, a não ser pelas botas de verdade, o uniforme foi pintado em seu corpo nu. Como outras controvérsias recentes, a imagem serviu para esquentar a discussão sobre o machismo nos quadrinhos. Mas não só.
playboy
playboy
Como aponta o blog de Rachel Edidin - fã que trabalha na editora Dark Horse e escreve na Internet sobre machismo nas HQs -, a Mulher-Maravilha é um símbolo do Movimento Feminista nos EUA. Uma das imagens icônicas das feministas estadunidenses é a capa da primeira edição da revista Ms. - que trazia a super-heroína como símbolo da mulher forte. Portanto, usar a personagem na capa de uma revista erótica masculina destruiria toda esta simbologia feminista.
"Mulher-Maravilha é O ícone feminino poderoso da nossa cultura, e não consigo acreditar que a Playboy não estava ciente de que sua capa faria uma declaração social e política", escreve Edidin. A blogueira lembra que é a primeira vez em sua história que a série da Mulher-Maravilha tem uma escritora, Gail Simone - fato que foi amplamente divulgado pela mídia nos EUA -, e que a capa da Playboy vai contra esta "conquista", segundo ela.
O escritor Greg Rucka, que já trabalhou na série da heroína, juntou-se ao coro de protestos em seu blog. "Tem TANTAS coisas que eu poderia dizer sobre isso. Tantas coisas. E talvez eu fale outra hora. Mas deixo vocês com o seguinte: prefiro que minha filha veja isto [Rucka coloca a capa citada da revista Ms.] do que aquilo", escreve. "Seus bastardos. Vocês não têm idéia do dano que causaram. Nenhuma idéia", esbraveja.
Rucka ainda investe na tese conspiratória, perguntando se todos acham "coincidência" a Playboy ter uma capa destas em meio às primárias das eleições presidenciais do país - que, pela primeira vez, tem uma candidata, Hillary Clinton, com boas chances de vencer.
A DC, em comentário ao site Pink Raygun, disse que não vai manifestar-se sobre o assunto. A Playboy, por sua vez, reconheceu a discussão no blog de seus editores: "A matéria [que a foto ilustra] é 'Sexo na América'. A Mulher-Maravilha é sexy. A roupa dela é vermelha, branca e azul, com estrelas na parte de baixo - sugere a bandeira americana tanto quanto o Capitão América. Mas gostamos de mulheres nas nossas capas, portanto Steve Rogers não era uma opção no caso", escreve o editor Josh Robertson.
"A Mulher-Maravilha é um ícone feminista? Se vocês dizem... Ela é um símbolo sexual? Sem dúvida. Não pode ser as duas coisas ao mesmo tempo? O criador dela, William Moulton Martson, riria da pergunta. A falsa dicotomia que separa o apelo sexual feminino do intelecto e da força de caráter femininas é o que atrapalha o feminismo, e é assim que a Playboy vê a questão há mais de 50 anos", continua o editor.
Robertson ainda diz que a relação entre a capa e a candidatura de Hillary Clinton é "um imenso exagero. [...] E geralmente gostamos muito de Greg Rucka."