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Entrevista

Omelete entrevista: Maitena, autora de <i>Mulheres alteradas</i>

Omelete entrevista: Maitena, autora de <i>Mulheres alteradas</i>

07.03.2003, às 00H00.
Atualizada em 28.11.2016, ÀS 21H02

Imagens © Maitena

As mulheres são todas iguais? A argentina Maitena, autora da série Mulheres Alteradas, jura que não. Apenas passamos pelas mesmas coisas. Nos angustiamos e ficamos felizes pelos mesmos motivos, diz.

Mas não é essa a impressão que se tem ao ler as setenta e tantas páginas de seu primeiro livro. Sucesso em 15 países, os quadrinhos chegam ao Brasil pela Editora Rocco. Lá fora, já estão no número 5 e todos tratam do mesmo assunto: mulheres e suas relações com homens, filhos, casa, trabalho, mães, sogras e o objeto de consumo supremo, os sapatos.

É impossível não se identificar com as histórias contadas por Maitena. Afinal, qual mulher nunca ficou histérica tentando lembrar se desligou ou não o ferro, não preferiu comprar um xampu carérrimo a um vinho de primeira, já não perguntou pelo menos duas vezes por dia o famoso você acha que eu estou gorda? e já não teve certeza de que o namorado/marido iria traí-la só porque ele não insistiu pelo menos umas 15 vezes para ela acompanhá-lo em um jantar de amigos?

Tendo conhecimento de tais particularidades femininas e sendo ela mesma vítima de uma TPM feroz, Maitena conseguiu entrar no clube do bolinha dos meninos cartunistas explorando o tema de que eles menos têm conhecimento.

Sendo assim Mulheres Alteradas é altamente recomendável para meninas e meninos. As primeiras poderão se encontrar e rir de si mesmas, guiadas por alguém que trata dos nossos assuntos de forma muito inteligente. Os segundos têm aí uma chance de tentar entender um pouquinho o que se passa pela cabeça das mulheres. Bom, é claro que esse é o só o primeiro livro. Se não der certo, existem ainda outros quatro, que são tão bons ou até melhores que este, e devem ser lançados no Brasil até o ano que vem.

Leia a entrevista que Maitena concedeu por email, da Argentina:

Todas as mulheres são iguais? Em todos os lugares do mundo?

Maitena: Não, costumo dizer sempre que não somos todas iguais, mas passamos pelas mesmas coisas. Acredito que, pelo menos no mundo ocidental, temos uma escala de valores parecida. Nos angustiamos e ficamos felizes pelos mesmos motivos. Mas a vida doméstica não é muito diferente nos vários países do mundo. Não importa se temos máquinas modernas e empregadas ou não. Todas arruinamos nossa camisa favorita porque deixamos pingar uma gota de produto de limpeza.

O que as brasileiras têm de diferente?

Maitena: Não posso falar muito porque não as conheço e cairia num estereótipo. Suponho que além da imagem da mulher segura do seu corpo e alegre, a mulher brasileira tem várias outras características. Aposto que também existem aquelas com complexos com o próprio corpo.

Mas como você desenharia a brasileira?

Maitena: Bom, ao desenhar, é muito comum cair no estereótipo. Então, eu faria a brasileira voluptuosa, com bunda grande, sorridente e vestida com roupas bem coloridas. Mas sei que isso não é a mulher brasileira, mas a imagem criada dela.

O que faz as mulheres ficarem alteradas no século 21? Filhos, casa, trabalho, corpo, amor?

Maitena: A alteração das mulheres vem exatamente da soma de todas essas coisas. Se fosse só uma delas, levaríamos na boa. O problema é que queremos fazer muitas coisas ao mesmo tempo. E isso não dá, ou dá, mas a um custo muito alto. Mas o que mais nos preocupa é o tema afetivo. Mesmo que estejamos cada vez mais independentes e realizadas, isso não muda. Para as mulheres, é o amor que nos faz sentir vivas.

E como a mulher alterada se diverte?

Maitena: Depende da mulher, mas todas nós adoramos nos encontrar com as amigas e conversar de mil coisas ao mesmo tempo. Às vezes ir ao shopping supera todas as outras atividades. E é inegável que procurar pelos sapatos dos nossos sonhos é também muito excitante, principalmente se conseguirmos encontrá-los!

Ser uma mulher alterada é bom ou mau? E o que os homens pensam disso?

Maitena: Eu acho que estar um pouco alterada é bom, é saudável. Nos tratam como loucas porque somos extrovertidas e mais expressivas, rimos, choramos, gritamos e ficamos enjoadas (às vezes, tudo junto, ao mesmo tempo). Com facilidade, colocamos tudo pra fora. Então, passamos a imagem de maior desequilíbrio que os homens, que são mais contidos, mas também têm úlcera, acidez, bebem até cair. Nós, mulheres, nos alteramos, eles se estressam.

E você, o que te deixa alterada?

Maitena: Hoje, estou numa fase bastante tranqüila. Tento ser tolerante, o que me custa muito às vezes. Tento levar as coisas com calma, pensando que são como são e não como eu gostaria que fossem. Mas as coisas mais insignificantes me sobem o sangue, como atrasos, não encontrar as chaves para sair, não ter tempo para fazer as coisas de que gosto e o mal costume do meu amorzinho de colocar sempre a pior camisa que tem. Na TPM, então, viro um monstro e cuspo fogo.

Você entrou em um mundo dominado por homens: os quadrinhos de humor. Como foi recebida?

Maitena: Maravilhosamente bem, porque sempre que uma garota linda entra num mundo de tipos, é tratada como uma rainha. Mas também é certo que me tratavam melhor quando eu era uma desconhecida. Quando fui me dando melhor, a competência fez com que alguns deixassem de ser tão simpáticos comigo, mas tenho muitos bons amigos.

Em que você está trabalhando agora? Qual seu próximo projeto?

Maitena: Faço tiras todos os dias para o jornal La Nación, páginas semanais de Mulheres Alteradas, que saem em revistas de 20 países, e tenho uma página mensal de humor sobre as mulheres e o sexo para a revista Marie Claire espanhola. Estou estou me divertindo muito preparando uma agenda, que vai ser publicada em 2004. Tenho ainda outras coisas na cabeça, mas vou deixar mais para a frente, porque já tenho trabalho suficiente e não quero tirar mais tempo da minha vida pessoal, que é realmente o que importa.

Mulheres Alteradas 1
MAITENA
Editora Rocco

Alessandra Blanco é diretora do Portal iG
e escreve às quintas-feiras a coluna Guia para garotas

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