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Quem é a grande estrela dos quadrinhos americanos neste exato momento? Um escritor escocês que gosta de polêmicas geralmente relacionadas a sexo e lidera um revisionismo nos quadrinhos de super-heróis para o século XXI: Mark Millar.
Escrevendo quadrinhos desde os 17 anos - hoje ele está próximo dos 30 -, Millar tomou gosto pela polêmica em Saviour, pretensiosamente relatando o retorno de Jesus Cristo. A mini-série, publicada na Inglaterra, é até hoje um sucesso cult. Logo depois tornou-se um tipo de parceiro-mirim de Grant Morrison, outro escritor escocês de renome, com quem escreveu Skrull Kill Krew, Monstro do Pântano, Aztek e Flash, entre outros.
À sombra de Morrison, o nome de Millar cresceu lentamente. Suas histórias-solo com o Monstro do Pântano e em Superman adventures (série baseada no desenho animado) foram um grande sucesso de crítica, mas nunca de vendas. As coisas começaram a acontecer quando Warren Ellis selecionou-o nominalmente para tomar as rédeas de The Authority e, poucos meses depois, a Marvel convidou-o para escrever a versão Ultimate de X-Men.
Sucesso imediato. Millar é agora o grande popstar dos quadrinhos americanos, com duas séries (Ultimate X-Men e The Ultimates) constantes no top 10, muitas vezes no primeiro lugar, agradando os leitores on line com um fórum pessoal de discussão e uma coluna semanal, recebendo gordos cheques por conta de seu contrato exclusivo com a Marvel e cheio de projetos especiais e secretos com a editora. No Brasil, Marvel Millenium traz mensalmente suas séries no universo Ultimate e sua fase em The Authority deve chegar em breve na série nacional.
O escritor escocês respondeu algumas perguntas do Omelete sobre sua carreira, visão e os trabalhos atuais. Confira a entrevista.
Você se formou em Relações Internacionais na faculdade. Há alguns anos, tinha um ótimo salário num jornal inglês e trabalhos em desenvolvimento na BBC TV. Na época, dizia que nunca trabalharia exclusivamente com uma única editora de quadrinhos. Hoje, você é exclusivo da Marvel, escreve duas de suas maiores séries e tornou-se o popstar dos quadrinhos. Como chegou a isso? Ou, resumindo: por que os quadrinhos?
Quadrinhos sempre foram minha verdadeira ambição. Trabalhei um pouco em outras áreas, como você disse, tive grandes oportunidades com o pessoal da TV e do jornal, mas há um grau de autonomia nos quadrinhos que você não encontra em outro lugar. Como um contador de histórias, gosto de poder contá-las sem ser limitado por orçamentos e produtores e cretinos de terno que querem que eu produza as idéias deles. Os quadrinhos são, na verdade, um sonho para um escritor - a oportunidade de escrever o que você quiser e fazer um bom dinheiro, em vários casos, numa arte em que você trabalharia de graça.
Por que você trabalha com um contexto sexual/erótico em muitos de seus trabalhos - especialmente The Authority - indo do exagerado ao quase explícito?
Porque sexo e morte são os dois fatores de maior importância na narrativa dramática. Sexo é o que nós todos queremos e morte é o que nós todos temos. Um deles ou os dois juntos abastece toda história na História do homem. Também gosto de trabalhar contra essa idéia vitoriana de que se pode mostrar tanta violência e morte quanto puder, mas restringir sexualidade a uma bitoca na bochecha da namorada do herói. Por que uma expressão de amor é mais obscena que uma expressão de ódio? E eu moro na Escócia. Não posso evitar de trazer essa abordagem mais européia a minhas histórias.
Quais são seus planos para Os Supremos? Certamente é mais do que uma renovação dos Vingadores, mas o que você gostava da série original? Que influências o levaram a mudar personalidades ou características de praticamente todas as personagens?
Com grande respeito, realmente não acho que mudei muita coisa em relação às personagens originais. Tudo que fiz foi aprimorá-las de acordo com suas essências. Quero dizer, o Capitão América ainda é o maior supersoldado do mundo, o Homem-de-Ferro é um gênio bilionário e mulherengo e Bruce Banner [Hulk] é um homem pequeno e infeliz tentando controlar sua raiva. Mesmo Hank [Gigante] e Janet Pym [Vespa] são praticamente como foram apresentados nos Vingadores durante a fase de James Shooter [fins da década de 70], com a tensão doméstica. Tudo que eu e Bryan fizemos foi nos livrar de todas as cracas que naturalmente se acumulam em quarenta anos de histórias, e adaptar a série como se a estivéssemos adaptando para a telona. Por isso, a aparência, as referências ao mundo real e as semelhanças com filmes ao longo da nossa série. Estamos tentando criar uma experiência de cinema.
Recentemente você escreveu um artigo sobre como os novos avanços na ciência e tecnologia prometem um futuro com super-heróis de verdade. Seus super-heróis - em The Authority e nas séries Ultimate - são basicamente ajustados à política e às tendências do século XXI: eufóricos quanto a seus poderes, resolvendo problemas do mundo real, criando estratégias de relações públicas. Então, você vê a realidade se aproximando da ficção, e seus trabalhos de ficção se aproximando da realidade. Os quadrinhos de super-heróis estão perdendo seus elementos de fantasia ou pseudociência em favor desta tendência para o realismo? Isto é uma moda, uma necessidade atual do gênero, ou o quê?
Acredito que, nos últimos cinco mil anos, os deuses têm ficado mais e mais próximos das pessoas que os adoram. Ou talvez seja o caminho inverso. Acredito que estamos aprimorando estas divindades desde o alvorecer da humanidade e tornando-as mais e mais palpáveis a cada geração. Jesus foi, na verdade, uma releitura da idéia original de Deus, mesmo que isso soe batido. Ele foi basicamente tão diferente do Deus Pai e do Antigo Testamento quanto o falível Peter Parker de Stan Lee em relação ao Super-Homem original.
Desde que Stan aprimorou esta idéia de super-heróis com problemas de pessoas reais, fomos aprimorando-a mais e mais - com as complexidades da Marvel dos anos 70, a nova onda de escritores como Grant Morrison e Peter Milligan no início dos anos 90. Agora as pessoas gostam de mim e de Bendis [Brian Bendis, da versão Ultimate do Homem-Aranha] escrevendo-os apenas alguns milímetros distantes do mundo fora da página. Tem sido um processo bem gradual e, como o absurdo submarino de Júlio Verne em 20.000 Léguas Submarinas, nós previmos ou influenciamos a ciência ao ponto de estes personagens fantasiosos entrarem no mundo real por meio da tecnologia militar ou de avanços na medicina. Os Supremos não são o que as superpessoas serão daqui a dez ou quinze anos, mas um passo neste sentido.
Você foi consultado em qualquer fase de produção do novo filme dos X-Men? O trailer me lembra a saga A volta da Arma X, de Ultimate X-Men [no Brasil, Marvel Millenium 3 a 8].
Parece muito com A volta da Arma X, com a mansão sendo invadida por forças especiais, os X-Men sendo levados ao programa Arma X, o ex-general de Wolverine voltando para capturá-lo (mas, no caso do filme, ele é chamado de Stryker) e honestamente eu não poderia estar mais feliz. É mesmo tremendamente lisonjeiro, porque eu gostei muito do primeiro filme e este novo me dá o mesmo tipo de empolgação. Eu estava conversando com um dos produtores quando fui a Nova Iorque mês passado e é gratificante ouvir que todos eles gostam da série. Synger [Brian Synger, diretor de X-Men I e II] deve fazer a introdução para nossa próxima coletânea.
Você declarou que deixará Ultimate X-Men na edição 31 e Ultimates na 26. Por que manter um tempo limitado em dois sucessos de vendas?
Todo mundo diz que eu enlouqueci. Estas duas séries fazem mais dinheiro do que qualquer outro quadrinho no mundo ocidental e, com isso, mais royalties. Também são grandes projetos e o bom-senso diria que se deve ficar agarrado a estas oportunidades o máximo possível. Contudo... acho que não participo do bom-senso e sinto que o certo é ficar até a data original, como eu tinha planejado. Cada um destes projetos tem sido, na verdade, uma longa história (mesmo que compostos por arcos independentes) e acho que seria desonesto ficar mais tempo por causa do dinheiro. Criadores europeus tendem a trabalhar desse jeito na América, como já ficou evidente no passado.
Você e Grant Morrison desenvolveram uma teoria em torno de ciclos de ascendência e descendência do mercado de quadrinhos. Quando será o próximo pico? 2005?
Imagine a coisa toda como uma curva senoidal. Nós estamos ascendendo de uma grande depressão cujo ponto máximo foi 1995. Estamos de volta ao zero, o que é bom, mas ainda há alguma distância entre agora e o próximo pico. A boa notícia é que só vamos subir a partir daqui, mas estimo que não vamos alcançar alta rotação antes de 2006, uma época em que, acredito, vai ser bastante inteligente abrir uma loja especializada em quadrinhos. A grande explosão vai acontecer por volta do fim da década, mas nós já seremos maiores do que nunca em 2006, e você pode notar indícios de recuperação por todos os lados. O mangá será parte integral deste boom como o mercado direto foi do último. Os Supremos é na verdade um mangá disfarçado: narrativa descomprimida como não vimos desde Akira. Pelo fim da década, os quadrinhos provavelmente serão lidos da direita para a esquerda e eu não estou reclamando. Boa notícia é sempre boa notícia.
O Omelete agradece a Mark Millar pela ótima entrevista!