PARTE 1 - O DESENHO CLÁSSICO DOS ANOS 60
Com o sucesso ainda fresco dos desenhos "desanimados" dos heróis Marvel (lembre deles aqui), o bom e velho Stan Lee, gavião como ele só, viu que era a hora e a vez de levar às telas a mais lucrativa das suas crias, o incrível Homem-Aranha.
O ano era 1967 e, nos quadrinhos, o aracnídeo encerrava uma de suas fases mais criativas nas mãos de titio Stan e de Steve Ditko, que cedia seu posto de desenhista oficial da série a John Romita (o pai).
A produtora Grantay & Lawrence, a mesma que no ano anterior, munida de muita cara de pau e um orçamento mais do que enxuto, produziu os primeiros e estáticos desenhos da Marvel, foi novamente recrutada. Desta vez, associada a Kratz Animation, incumbiu-se de dar seguimento à invasão televisiva do Sr. Lee e companhia. A intenção, no entanto, era não queimar a cara com um produto de quinta categoria. De podreira, já bastavam seus antecessores.
A rede ABC topou encarar o desafio e soltou grana para que fosse produzida uma série animada mais decente. Nascia assim a primeira versão do Homem-Aranha nas telas, talvez a mais fiel às HQs até o momento.
A primeira temporada estreou em 9 de setembro de 1967 e teve 40 episódios. A segunda de 1968 teve metade disso e, para a última - 1969-1970 -, foram produzidos mais 19 episódios.
Como consultor da série, foi designado o próprio John Romita, escolha, porém, que não interferiu na estética da adaptação. A concepção das personagens seguiu à risca o traço original de Ditko.
Entre os animadores envolvidos, destacava-se o jovem Ralph Bakshi, que, anos mais tarde, seria consagrado como um rebelde no meio da animação. Produziu material adulto do quilate de Fritz-The Cat - adaptação renegada pelo papa do underground americano Robert Crumb, o criador de Fritz -, American Pop e a primeira versão de O senhor dos anéis (leia mais aqui). Estes dos últimos empregaram o sistema de rotoscopia, onde se filmam os atores antes de acrescentar a animação . O resultado é um efeito hiper-realista. Mais recentemente, Bakshi, dirigiu Cool World - O Mundo Proibido.
Pontaria anárquica
Agora, havia mais grana na jogada, mas mesmo com um orçamento mais generoso, o estúdio precisava economizar. A fim de conter gastos, o visual do Aranha foi levemente modificado. As indefectíveis teias do uniforme - pesadelo de muitos desenhistas - foram restritas apenas às botas, às luvas e às máscara. Em contrapartida, os olhos da máscara ganharam a notável capacidade de piscar (!) para garantir maior expressividade.
Outro efeito típico da contenção de verbas era o interminável reaproveitamento de cenas em que o herói balançava-se por entre os arranha-céus de Nova Iorque, arremessando a teia em direção ao céu (!) em vez lança-la contra os prédios. Mas até aí tudo bem. Pior mesmo foi um trecho do piloto. Lembrando um pouco a estética desanimada de seus predecessores, o Aranha saltava de prédio em prédio até que erra um disparo, ficando parado em pleno ar! Fora isso, nem merece comentários a absurda desproporção entre a personagem e os edifícios!
Em todo caso, mesmo com gafes ocasionais, a série foi bem fiel aos gibis da época. O assassinato do tio de Peter Parker, por exemplo, é mostrado tal qual nas HQs. Esse momento decisivo na vida do Aracnídeo foi suprimido (como na série live-action - lembre dela aqui) ou até mesmo amenizada em versões posteriores. Não posso deixar de mencionar que Peter flertava com Betty, a secretária de J. Jonah Jameson, tão irascível e antiaracnídeo quanto no original, e que toda a galeria de vilões marcou presença, bem como inimigos especialmente criados para o desenho.
O peito do pé do Peter é preto&qt;&
Curiosamente, quando foram dublados aqui, alguns nomes de personagens foram vertidos para similares mais comuns na língua de Camões: Peter Parker virou o trava-línguas Pedro Prado, Tia May virou Tia Maria e J.Jonah Jameson acabou ficando J. Jonas Jaime! A coisa não pegou e logo os nomes voltaram às suas versões originais para eterna tristeza de nosso editor omelético, Jotapê Martins.
Alguns dos episódios foram lançados em vídeo no Brasil, milênios atrás, misturados com outros desenhos de personagens Marvel. A fita com o episódio-piloto, chama-se Spiderman - The Movie e tem mesmo uma foto da malfadada série com atores na capa. Mais uma versão nacional de primeira... Infelizmente, sair à cata dessas preciosidades jurássicas não é uma das tarefas mais gratas. À maioria dos curiosos e saudosistas, resta a esperança de que, um dia, o desenho volte a ser exibido em nossas TVs.
Chora, minha viola
Marcante mesmo foi a trilha sonora com arranjos de jazz e blues e, principalmente a música-tema. Tão indelével no nosso imaginário, ela até ganhou uma versão brasileira (não oficial, é claro) caçoando de nosso azarado herói:
Homem-Aranha,
Homem-Aranha
Tanto
bate quanto apanha...
Falando sério agora - se é que isso é possível a esta altura -, vamos à versão brasileira oficial (cortesia de Cláudio Roberto), cuja original foi mais tarde regravada pelos Ramones para a coletânea Saturday Morning Hits.
Homem-Aranha,
Homem-Aranha
Ai vem o Homem-Aranha
Com a teia infernal
Em combate contra o mal
Cuidado, ele e o Homem-Aranha
Ele e forte, e de morte
E ativo e radioativo
Tem balanço, é um avanço
E pra frente, diferente
Eh-ei, ele e o Homem Aranha
Na calada da noite sempre alerta ele está
Não tente atacar, que o Aranha chegou
Homem Aranha, Homem Aranha
Ai vem o Homem Aranha
Aventura ele tem
Venha ver você também
Cuidado, teia da confusão
Ele tem pela mão
Ele é o Homem Aranha