Antes que continue a ler este texto, um aviso: Os horrores aqui apresentados podem atuar de maneira danosa em seu cérebro. As conseqüências são ainda piores se você for daqueles fãs radicais de quadrinhos. A relação de filmes que se segue resulta de intensa arqueologia trash; daquela só possível graças aos confortos da internet. Os fatos e eventos aqui relatados buscam revelar acontecimentos dos quais o bom senso passou longe. Afinal, falar de bons filmes baseados em quadrinhos é fácil. São poucos. Já os ruins, meu Deus! A lista parece não ter fim! Quem não tem um desses filmes que adora odiar? Mas e quanto aquelas produções obscuras das quais quase ninguém ouviu falar? Você já parou para pensar naqueles filmes que sequer foram lançados? Os títulos que apenas umas poucas almas afortunadas (Será?) puderam vislumbrar? Aqui estão listados vários pilotos de séries de televisão que deram com os burros nágua. Talvez haja muito mais. Mas pensando bem, pra quê? Certamente, o que veremos a seguir é o mais forte argumennto para quem defende que lugar de quadrinhos é no papel. Senhoras e senhores, é com a devida pompa e circunstância que o Omelete apresenta: Vamos começar pegando leve leve...
Não se assuste! Na verdade, este filme jamais foi feito, mas o caso é tão interessante que não poderia ficar de fora. Poucas pessoas sabem, mas Namor surgiu como uma peça de propaganda de um seriado da Columbia Pictures intitulado The Lost Atlantis. A trama era sobre o famoso reino submerso habitado por homens-anfíbios, onde um náufrago despertaria o amor da rainha atlante. Os executivos que batalharam a aprovação do projeto entre 1936 e 1939 tinham tamanha certeza do potencial da série que planejaram até mesmo sua continuação: Prince of Atlantis, a respeito do (você sabe quem) fruto do romance anfíbio. Entretanto, o projeto "naufragou" na inviabilidade técnica de se realizar tal fantasia de maneira convincente. Saíram ganhando os quadrinhos, que deram vida nos traços de Bill Everett, ao Príncipe Submarino. A primeira aventura da personagem foi publicada em Motion Picture Funny Weekly 1, revista distribuída nos cinemas a fim de alardear o projeto jamais realizado. Esta mesma publicação permaneceu esquecida até 1974, quando alguns exemplares remanescentes vieram à tona, tirando o mérito de Marvel Comics 1, como a revista que apresentou a primeira história da personagem. Jamais se levou avante qualquer outra tentativa de transpor Namor às telas, fora o desenho desanimado dos anos sessenta. Na verdade, dizem as más línguas que o seriado dos anos 70, O homem do fundo do mar seria uma tentativa frustrada nesse sentido. Todavia, ficou tão diferente do original que sequer citaram a fonte. Curiosamente, essa série também não foi longe, durando apenas treze episódios.
Sentiu a panca do cidadão? Este piloto em preto e branco, com 30 min e estrelado por um certo John Rockwell é, de certa forma, descendente direto de As Aventuras do Superman, o célebre seriado estrelado por George Reeves nos anos 50. Entretanto quem disse que tiveram coragem de exibi-lo na TV? A proposta acabou sendo descartada. Vingou apenas uma série animada com a personagem. O conceito só foi retomado nos anos 80 quando, finalmente, Superboy ganhou sua própria série com atores de carne e osso. Curiosidade: na internet, disponível com na mesma fita de vídeo, está o piloto de Superpup, realizado em 1958. O bichano impõe respeito, não? Todavia não se trata de Krypto, o Supercão (sim, o Superboy tinha seu mascote!) em suas aventuras solo. Imagine um mundo habitado só por cães; e que um deles, em especial, tem os mesmos poderes de um certo Homem de Aço. Criativo, não? Por que será que não levaram isso adiante?
Aposto que você não sabia. Pois é! antes da Miss América Linda Carter, "empunhar" seu ceroulão estrelado, na famosa série dos anos 70, houve uma inexpressiva tentativa (com apenas 10 minutos de duração) de levar a guerreira amazona para a TV. Quem produziu essa pérola foi Willian Dolzier, o mesmo da série do Batman barrigudo. Estrelado por uma tal Ellie Wood Walke, esse não foi o único piloto da personagem. Em 1974, tentaram novamente. Desta vez, coube a Cathy Lee Crosby a tarefa de protagonizar um longa com a princesa amazona. Até aí tudo bem. Um longa-metragem dá mais oportunidade para fazer algo decente. O problema é que a dita era LOIRA! E o uniforme, nem de longe lembrava o modelito de Diana! No filme, ela combatia um tal de Mr. Evil (nenhuma relação com o vilão da cinesérie Austin Powers), vivido por Ricardo "Ilha da fantasia" Montalban. Esse chegou a ser exibido na TV. Não que fosse fazer falta.
Não satisfeito com o resultado do seu piloto da Mulher-Maravilha, o já citado Dolzier decidiu criar uma heroína totalmente original. Ou quase. No ápice da audiência do seriado do Batman em 1966, o espertalhão resolveu capitalizar em cima dos louros da série com uma nova criação: A Batgirl. Foram 15 minutos vividos pelas curvas da atriz Yvonne Craig. No entanto, como os índices de popularidade do Morcegão pop caíram em sua segunda temporada, o projeto foi engavetado. Mesmo assim, a personagem retornou no ano seguinte, desta vez integrada ao elenco da série do Cruzado Embuçado. Um tributo ao kitsch, que circulava por Gotham City com uma discretíssima motoca com babados! Além de ocasional interesse romântico do Morcegão, ela serve também como marco da fase derradeira da série. Mas quem diria, a personagem fez sucesso suficiente para que fosse incorporada às HQs pouco tempo depois. E já que estamos falando em kitsch, vamos pegar pesado...
Imagine um filme com um bando de marmanjos vestidos em malhas coloridas e com os melhores superpoderes que os (d)efeitos especiais que a TV dos anos 70 podia providenciar... Duvido que tenha concebido algo assim tão terrível quanto as imagens a seguir. Pense nesta tosqueira isso como a versão de carne e osso do desenho animado dos Superamigos e talvez tudo fique mais claro. Foi um especial em duas partes produzido pela rede NBC. Por sinal, inédito em terras brazucas. Recomendado para quem tem (muitas) saudades de Adam West e Burt Ward como a eterna dupla dinâmica. Além dos já citados, sinta só o elenco de feras: Capitão Marvel, Gavião Negro, Lanterna Verde, Flash, Caçadora e Canário Negro contra as maquinações do Charada, Solomon Grundy, Mordru, Giganta, Dr Silvana, Sinestro e o Mago do tempo. No primeiro capítulo, intitulado "The Chalenge" , nossos amigos ajudam um herói aposentado (o Ciclone Escarlate???) a impedir os vilões de explodirem o mundo. O problema é que os malvadões têm uma poção que retira os poderes de nossa patota do bem. Muito conveniente para um filme de orçamento enxuto. No segundo especial, "The Roast", os vilões partem para a desforra com a ajuda da Tia Minerva, vilã do universo de personagens do Capitão Marvel. Tudo kitsch, camp, cafona ou qualquer outro demérito que seja possível inventar. E tem quem não goste do seriado do Batman dos anos 60...
Aposto que você também não sabia, mas o Mago Supremo já jogou suas mandingas na telinha pequena. Talvez seja culpa do mal-olhado, mas este longa também jamais foi exibido por estas bandas. Tá todo mundo lá: Stephen Strange (nosso bom doutor, na pele de Peter Hooten), sua namorada Clea, o mordomo Wong, a bruxa Morgana Le Fey. Tudo isso num "setentíssimo" visual discoteca de arrepiar os cabelos. Como de praxe, deram uma mexida na origem do herói. Stephen, que nos quadrinhos era um cirurgião agora é psiquiatra. Para salvar alma de sua paciente, Cléa, mesmo relutante, deve se iniciar no mundo oculto das artes místicas (sua real vocação, oras...). Afinal, a feiticeira Morgana Le fey está louquinha para abrir os portais de outra dimensão e trazer um terrível demônio à Terra.. O pior é que o vídeo pode ser comprado na internet, e as resenhas o definem como uma das melhores adaptações das HQs paras as telas em todos os tempos. Alguém arrisca para nos contar se é verdade?
Pois é, o Bandeiroso tentou duas vezes decolar um seriado em 1979. Embora desaparecidos a um bom tempo de nossas TVs, ambos os filmes foram campeoníssimos de reprises no SBT, em um passado remoto. Na primeira, o resultado ficou tenebroso. Na segunda, ficou... digamos... menos ruim. Mas sobre eles já falamos num de nossos "Lembra desse?" . Para saber mais clique aqui. Alguns anos atrás, porém, entrou em produção uma nova série em desenho animado, cujas propagandas chegaram a ser veiculadas no canal à cabo Fox Kids, mas ninguém viu nem sombra disso...
Não. Não é o Namor tentando de novo emplacar um filminho, mas sim o seu similar de colante laranja e verde. Aquele com telepatia aquática! Esse piloto de seriado quase que ninguém viu mesmo, pois nunca foi ao ar na TV ou sequer lançado em vídeo. Dizem até já ter passado numa convenção de HQ aqui no Brasil. Será que ficou bom...? Sinta só a história: Arthur Curry (Gordon Goodman) é um milionário e biólogo marinho. Nas horas vagas, dá uma de Aquaman, claro. Um dia, um tal de Angler, o malvado de plantão, despeja uma toxina no oceano, a fim de chantagear o governo em 24 milhões de doletas. De quebra, ainda seqüestra uma cientista (a Dra. Katy King) que estava pesquisando uma anti-toxina que anulasse a sua. Adivinha de quem a moça é namorada. Esse "épico", de meros 20 minutos de duração, foi produzido, dirigido, escrito e esquecido pela dupla Jeff Klien e Thomas Farr. Não que alguém ligue pra isso.
Esse chegou a ser exibido na Rede Bandeirantes, anos atrás... Tal como no original, Danny Colt (Sam J. Jones) é dado como morto em ação e volta da morte para combater o crime. Quem disse que deu certo? Nem. E como poderia funcionar se a a ação se passava nos anos 80? Meu Deus! Alguém em sã consciência consegue imaginar o Spirit ambientado em outra época que não os anos 40/50? Que saudades daquele clima noir das HQs do Will Eisner...
Esse piloto intitulado The Pryde of the X-Men foi a primeira tentativa de levar uma série dos mutantes para a TV. Na verdade, antes já haviam aparecido como convidados especiais nas séries animadas do Homem-Aranha. O chato é que não foi um desenho ruim. O elenco era a equipe "clássica" - Prof. X, Ciclope, Tempestade, Wolverine, Colossus, Noturno -, acrescida de Cristal (no lugar de Jean Grey) e Kitty Pryde. A trama girava em torno da entrada da jovem Kitty na equipe e um arranca-rabo com a Irmandade de Mutantes. Nada muito pretensioso, mas tudo no melhor estilo de animação vigente nos anos 80. Vide qualquer Transformers ou Comandos em Ação da época. Esse também nunca passou por aqui. Mas nem por isso é inédito no Brasil. Sua quadrinização foi publicada pela Abril num álbum de luxo cujas cenas foram extraídas diretamente dos 23 minutos do desenho animado.
Primeiro, a Marvel usou os telefilmes de um certo Golias Verde como testes para possíveis seriados do Thor (em A volta do incrível Hulk - 1989) e do Demolidor (em O julgamento do incrível Hulk -1990), apenas pelo prazer de vê-los mutilados sem dó nem piedade diante de orçamentos (e roteiros) paupérrimos. Não bastasse isso, a editora quis ousar mais. Estavam nos planos novos longas do verdão irritado, os quais contariam com a participação do Homem de Ferro e Elektra (por que não? Afinal seu namorado,o Demolidor, já havia aparecido mesmo). Quem já estava mais adiantada mesmo era a Sra. Brigitte Nielsen, que havia até mesmo posado para algumas fotos promocionais. Note o modelito chiquérrimo e funcional; sem falar na... maquiagem? Detalhe: madame Nielsen já havia detonado outra personagem conhecida dos leitores de HQ, no filme Guerreiros de fogo (1985). Uma certa Sonja, a Guerreira. Nos anos 70, em pleno auge do seriado do abacatão, chegou-se a cogitar um crossover com o Homem-Aranha, cujo seriado era produzido pela mesma emissora. A idéia só não vingou pelo fiasco do próprio seriado do Aracnídeo. Sobre essas "produções Hulkolianas", só podemos pedir que Bill Bixby (o Dr. Banner, além de produtor dessas pérolas) nos perdoe onde quer que esteja. Afinal, essas "maravilhas" só pararam após seu falecimento...
Não. Não é o famoso filme trash para cinema com o Quarteto Fantástico, produzido por Roger Corman nos anos 90, o qual foi recolhido pouco antes de ser lançado e circula na internet em cópias pra lá de piratas. Estamos falando do filme de outro supergrupo menos famoso da mesma editora Marvel, publicado no Brasil nos anos 80, na antiga revista Heróis da TV. Esse, por sinal, ninguém viu também. Mas você consegue imaginar aquele supergrupo de criancinhas com superpoderes - Graviton, Chispinha, Densus e Vapor -, num filme decente? Tem coisas que é melhor nem tentar imaginar...
Ai, ai. Que dizer desta outra pérola? Ação não existe, interpretações também não, quanto mais um roteiro decente. Meia dúzia de efeitos especiais não foram suficientes para preencher este longa-metragem. Temos ainda de levar em conta que os protagonistas são os mutantes mais antipáticos possíveis - Jubileu, Skin, Monet, Mondo, Buff e Refrax; ou que sua professora, Emma Frost, a Rainha Branca, veste-se como uma perua e usa peruquinha precursora (seria o mesmo cabeleireiro?) da usada pela Tempestade do filme dos X-Men. Não podemos nos esquecer que o outro professor, Banshee, é igualmente fashion. E o que dizer do vilão Russel Tresh (ou trash)? O afetado não pára de fazer caretas enquanto tenta se apossar da imbecil Máquina dos Sonhos dos mutantes? Vade retro, capeta! Como explicar que o Professor X possa ter admitido tanto mutante fuleiro em sua escola? No mínimo eram alunos reprovados no curso de heróis. Disponível em vídeo, mas prefira mutantes com melhor pedrigree.
Esqueça os heróis clássicos que já fizeram parte da Liga da Justiça e que estão retornando na nova série animada. Lembre a fase da Liga nas HQs, que era escrita por Keith Giffen. Aquela com astros de segunda-mão e que fazia questão de avacalhar com o mito do super-herói. Pois se a intenção era a de se basear nesse divertido material, o resultado foi pra lá de duvidoso. Um misto de Superamigos com Barrados no Baile e Power Rangers. Talvez seja a melhor definição desse fiasco. Um bando de super-heróis fracassados - Flash, Átomo, Fogo, Gelo e Lanterna Verde - e sem dinheiro, decide morar juntos. Enquanto batalham um troco, enfrentam um vilão jacu que apavora a cidade. Caracterizações horríveis. Interpretações idem e efeitos especiais pra lá de econômicos. Destaque pra o Ajax gorducho com jeitão de Mestre Yoda e para a cena em que os heróis, presos na nave do seu mentor, esquecem que tem superpoderes e usam um pé de cabra pra abrir a porta. Era para ser engraçado?
Olha, até que se esforçaram neste longa-metragem. Capricharam nos efeitos visuais, nas naves, no porta-aviões aéreo da Shield... mas David Hasselhoff (o salva-vidas de Baywtach, aquele cara que dirigia A super-máquina nos anos 80...), mesmo tendo ficado a cara do agente-secreto preferido da Marvel, é canastrão demais. Pra complicar, o coitado ganhou um grupo de recrutas pra encher as paciências durante o filme todo... como se a organização secreta Hydra já não lhe desse trabalho suficiente... Não mais que divertido. E olha que estou sendo bonzinho. Se quiser conferir, esse filme já foi lançado em vídeo no Brasil.
E então? Ainda vivo, leitor? Se você não acredita em boa parte do que descrevi aqui, passe na locadora mais próxima ou aguarde uma nova reprise dessas pérolas. Tudo por sua conta e risco. Mas e aqueles filmes que você não encontra disponíveis no Brasil? Ora, aí é que entra a mãe internet. Afinal, só ela mesma poderia acolher tão maravilhosos tesouros arqueológicos. |
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Omeleca Especial: Mal e porcamente baseados em quadrinhos
Omeleca Especial: Mal e porcamente baseados em quadrinhos
30.04.2002, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H32