Enquanto isso, no outro lado do mundo...
O que você diria se eu lhe descrevesse um seriado japonês na qual alienígenas malvadões invadem a Terra, começando, é claro, por Tóquio, apoiados por capangas trajando uniformes ridículos?
Não responda ainda.
E se ousasse desafiá-los um super-herói, com senso estético igualmente precário? Por sinal, trata-se de um japonês carregado de apetrechos tecnológicos bacanas, que o ajudam na luta contra os ETs.
Guarde sua resposta para daqui a pouco.
Imagine que eu lhe diga que, neste seriado, trava-se uma batalha numa pedreira e que, em meio a explosões de fogos de artifício e nuvens de fumaça colorida, surge uma criatura gigante, aparentemente feita de borracha, criada como a arma suprema (da semana), prestes a detonar as pobres maquetes que estiverem em seu caminho?
Tenha um pouco de paciência. Não se apresse em responder.
Suponha agora que nosso herói nipônico, nas horas de necessidade, conta com uma nave que se transforma em robô gigante com vexatórias dobras de tecido nas articulações.
Não responda ainda.
Acrescente à receita que, após momentos de enrolação, a nave-robô detona o mostrengo, salva o mundo e, de quebra, bota os malvados pra correr... até, é claro, o próximo episódio, onde tudo se repete tal qual o descrito acima.
Na certa, você diria que esse é o resumo de dezenas, senão centenas, de seriados japoneses que infestam nossas TVs há tantos anos; O que não deixa de ser verdade.
Mas e se eu lhe perguntasse:
O que isso tudo tem a ver com o Homem-Aranha?
Patavina! Essa seria a sua pronta resposta!
Ledo engano, incauto leitor. O aracnídeo mais famosos das HQs ianques tem tudo a ver com as abobrinhas live-action oriundas da Terra do Sol Nascente. Não foi à toa que ele estrelou sua própria série por lá!
Improvável? Absurdo? Sem dúvida, mas ainda assim a mais pura verdade!
E se você julgava a série que os americanos produziram o maior de todos atentados ao bom-gosto, é porque nunca ouviu falar da pérola que é: O Homem-Aranha Japonês!
Certo dia, o jovem motoqueiro Takuya Yamashiro (Toudou Shinji) presencia a queda de um UFO. Imediatamente, seu pai, um arqueólogo espacial, investiga o fenômeno. O disco voador em questão nada mais era do que a nave de combate Marveller. O que o pobre professor não desconfia é que a confusão chama a atenção do Exército da Cruz de Metal, um grupo de ETs malvados que quer dominar o mundo.
Atendendo a misteriosos chamados telepáticos, nosso herói chega ao local e encontra um alienígena chamado Gallia, príncipe do planeta Spider (claro, de onde mais ele poderia ter vindo?), cuja superavançada população fora dizimada quatrocentos anos antes pelo terrível Professor Monstro, líder da tal Cruz de Metal.
À beira da morte, o jovem Takuya, após levar uma sova dos capangas do espaço, é salvo por Gallia. Este lhe dá seu bracelete que lhe injeta um extrato de aranha (!) que (você tinha alguma dúvida?) concede ao rapazola os incríveis poderes do Homem-Aranha! Conseqüentemente, ele se torna a última esperança da humanidade contra os cruéis invasores. Bonito, não?
O KIT DA ARANHA FELIZ
Mas a alegria não termina por aí. Para ajudar em sua missão, nosso aracnídeo nipônico ganha a Spidermachine G-7, um aranhamóvel com direito até a simpáticas quelíceras de aracnídeo no lugar do pára-choques. Como não podia deixar de ser, o esplêndido veículo voava e disparava mísseis. E pensar que o original americano teve apenas um simpático buggy que subia pelas paredes...
A propósito, lembra da nave Marveller? Pois adivinhe só: não é que ela se transforma num robô gigante? O poderoso Leopardon! Alguém aí consegue imaginar, no meio de tantas aranhices, o porquê desse nome?
Também cheio de traquitanas, o simpático Leopardon - que, de aracnídeo, só tinha umas teias esparsas no corpo -, empregava três armas fulminantes contra seus adversários de látex:
- o arco que
ele trazia na cabeça podia ser arremessado como um bumerangue;
- seus punhos
eram disparados como foguetes e;
- a mais devastadora das armas: a Espada Vicker, que dava o golpe de misericórdia no monstrão da semana.
Talvez você não tenha notado, mas o tal bracelete lembra muito o trambolhoso lançador de teia do Aranha da TV americana. Ambos soltam teia, claro. O japonês, todavia, tinha uma vantagem além do visual futureba: era nele que o herói guardava seu uniforme. É sério! A roupitcha voava sobre ele quando o sentido de aranha (sim, ele também tinha o seu) soava o alarme. Mais cômodo impossível. Pensa bem: não ficava aquele cheiro de suor velho por usar o uniforme debaixo da roupa normal.
Dizem até que o próprio Stan Lee chegou a elogiar as inovações da série, o que ele certamente deve ter dito com o bolso já cheio de tutu...
Infelizmente, já que esse programa muito provavelmente continuará inédito por estas paragens, se algum dia reprisarem a velha e surrada série do canastrão Nicholas Hammond no papel do Cabeça-de-Teia, olhe-a com bons olhos. Afinal, nós temos provas de que tudo pode ser bem pior.