Amigas Para Sempre retorna com mais manobras oportunistas

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Crítica

Amigas Para Sempre retorna com mais manobras oportunistas

A união do dramalhão e do segredo final atrapalharam a produção, que tinha tudo para ser um interessante recorte do universo feminino

Omelete
4 min de leitura
09.12.2022, às 16H35.

No final da primeira temporada de Amigas Para Sempre, o público iria finalmente saber quem estava no funeral em que Kate (Sarah Chalke) e Tully (Katherine Heigl) se encontraram e pareceram brigadas. Esse era o “segredo” que a organização dos episódios escondia, como se fosse uma muleta que protegesse o final da temporada de qualquer possibilidade de irrelevância. Por alguma razão, a criadora da série, Maggie Friedman, acreditava pouco na capacidade da série de ter em seus conflitos pessoais o suficiente para manter o público interessado.

O recurso de mostrar um pedacinho por vez do tal evento final está saturado há anos. A série Damages (2007) popularizou o método e títulos como How To Get Away With Murder (2014) fizeram sua história apoiados nele. Atualmente, Elite é uma das detentoras da ferramenta e usa, indiscriminadamente, todos os anos. É uma maneira fácil e oportunista de fisgar a audiência, já que como o público não conhece o plano, ele pode mudar conforme a vontade do roteirista. O desmembramento desse acontecimento deveria respeitar a coerência e jamais tentar fazer o espectador de tolo. A surpresa é diferente da pura enganação.

A forma como o final da primeira temporada foi arrumado levou todos a pensar em várias possibilidades para o funeral. Fomos desde o ex-marido de Kate, Johnny (Ben Lawson), até algo mais ligado à Tully. Ainda que o morto da cena não fosse o mistério maior, a necessidade de ficar mantendo tudo em suspenso era muito mais uma proteção barata que um recurso criativo a favor do enredo. Nem mesmo dar dicas do que causou a briga das duas os roteiristas deram.

Começamos, então, a segunda temporada... igualmente no escuro. Johnny não morreu, a cena do funeral não foi explicada e temos um outro mistério: pequenos trechos de um acidente de carro. O acidente segue a mesma dinâmica, com provocações de que uma das mulheres está ao volante. Para que esse recurso tenha escopo na dramaturgia, as consequências precisam ser sérias. Esse detalhe, aliás, a série tenta cobrir de uma maneira legítima. Contudo, o grande problema de Amigas Para Sempre não é nem só lançar mão de mistérios que empobrecem seu DNA, mas sim pecar naquilo que ela deveria ser impecável: o retrato daquela amizade.

Amigas... até segunda ordem

O maior trunfo que a criadora da série tem nas mãos é a boa química entre as protagonistas e a oportunidade de estudar três pontos diferentes da linha do tempo. Visitando a adolescência, juventude e maturidade das mulheres, ela poderia traçar um curso de vida que enriqueceria a escala de acontecimentos entre elas. De fato, Amigas Para Sempre existe por causa disso. Tully ser mais extrovertida, trágica; enquanto Kate compõe uma trajetória mais politicamente correta, são partes de uma polarização necessária para fazer com que o universo feminino fosse impresso em larga escala.

Essa segunda temporada foi interessante para Tully. A proximidade com a mãe, a chegada de uma nova agente, a luta para se reerguer depois de perder o posto na TV... tudo isso com espaço para avaliar suas decisões do presente de acordo com o conhecimento de seu passado. Kate sempre foi mais desinteressante, com aquele looping eterno do casamento com Johnny. Sua versão adolescente é sempre mil vezes melhor. Mesmo assim, ela é bem construída e sua trama não sai dos trilhos em momento algum.

As duas são muito diferentes, vieram de lares muito diferentes e é claro que isso causará algum conflito. Mas, está na superação deles, no afeto compassivo, o segredo dessa história. O mistério não deveria nem estar ali; a série não é melhor por causa dele. Sempre foi muito estranho que numa produção sobre amizade, a base desse mistério fosse a razão pela qual essa amizade termina. Era tão desnecessário quanto incoerente com seus propósitos. Justificar essa manobra seria difícil em qualquer esfera e aí reside a maior fraqueza dessa temporada.

Depois de episódios bastante dignos que mostraram toda a evolução das personagens, a série decide que o motivo da briga seria um julgamento precipitado que poderia vir de qualquer pessoa, menos delas. Era como pegar tudo que elas conheciam uma da outra, tudo que elas passaram, tudo que elas superaram... e deixar pelo caminho em nome de um conflito que poderia ser resolvido com uma simples conversa. Foi o típico movimento impensado da trama, que precisa ser daquele jeito, independente dos fatores que tornam a decisão frágil.

Enfim, agora que sabemos o que causou a ruptura, começa a preparação para uma segunda e última parte da nova temporada (esperada para junho) que promete ser ainda mais dramática e chorosa. Contudo, se toda aquela bobagem de fazer suspense com nada for esquecida e os roteiros se debruçarem somente sobre o que constitui e une essas mulheres, pode ser que venha por aí uma despedida razoável. Amigas Para Sempre não é uma série ruim, ela só usa mal todos os retalhos que junta de outras produções de sucesso, para compor um resultado que ignora sua única força: uma amizade que supera preconceitos. Nessa temporada, infelizmente, foi o preconceito que venceu. 

Nota do Crítico
Regular
Amigas Para Sempre
Encerrada (2021-2023)
Amigas Para Sempre
Encerrada (2021-2023)

Criado por: Maggie Friedman

Duração: 2 temporadas

Onde assistir:
Oferecido por

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