Dos pilotos de séries de TV exibidos na quarta-feira à noite aqui na Comic-Con 2013, o mais esperado era Almost Human, novo projeto da produtora Bad Robot de J.J. Abrams para o canal Fox. E o episódio correspondeu à expectativa: é uma mistura interessante de neonoir à moda Blade Runner com buddy cop de dinâmica racial, como 48 Horas, Máquina Mortífera e Miami Vice.
almost human
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Roteirista e produtor de episódios de Fringe, J.H. Wyman é o criador e produtor principal da série, que tem Karl Urban como o protagonista John Kennex. A trama se passa num futuro em que a criminalidade cresceu tanto que policiais como John agora são forçados a trabalhar em parceria com androides. A tecnologia não impede, porém, que o esquadrão do protagonista seja emboscado por uma gangue - entre mortos e feridos, John perde uma perna e entra em coma.
Dois anos depois, já desperto, ele recorre a uma clínica de fundo de quintal - um submundo feito de bairros cheios de neon é o primeiro indício de que estamos num futuro similar ao de Blade Runner - para tentar reviver a memória e entender quem armou a emboscada. Paralelamente, de volta à polícia, John precisa de um novo parceiro. Depois de se desentender com o androide de última geração que escolhem para ele - o momento que mais rendeu risadas durante a exibição na convenção - John busca de novo a clandestinidade, agora para conseguir um androide substituto.
E entra em cena a dinâmica racial. Michael Ealy (Common Law, The Good Wife) vive Dorian, robô de uma geração anterior, projetada para se especializar em dedução e que terminou aposentada porque se mostrou "humana" demais: começou a questionar sua condição sintética. "Não gosto dessa expressão, 'sintético'", diz Dorian quando John o chama desse "termo ofensivo". É a clássica relação do policial branco suicida com o negro pé-no-chão que Máquina Mortífera consagrou, só que adaptada para o século 21: Dorian sabe que está interpretando o estereótipo do marginalizado, e chama John de "man" com sotaque de negão para ironizar a situação.
Pelo que o piloto sugere, as cenas entre Urban e Ealy podem se tornar o ponto alto da série - ambos os atores estão à vontade interpretando perfis opostos, o humano impaciente e o androide cerebral. O que deve mover a trama adiante, porém, é a relação entre John e as mulheres. Aí entra o componente do noir futurista; o personagem de Urban é o típico policial solitário que questiona sua capacidade (a perna mecânica dele apita o episódio inteiro) e, na fraqueza, acaba sucumbindo aos "perigos" do sexo oposto. Uma ex-namorada (Mekia Cox), uma colega novata de trabalho (Minka Kelly) e a chefe de polícia (Lili Taylor) formam o elenco feminino do piloto - e todas as três têm algum laço com John.
Essas relações devem dar o tom dos episódios, mesmo porque os efeitos visuais que mais chamam a atenção no piloto, das paisagens futuristas de computação gráfica às cenas de ação, parecem caros demais para ser mantidos numa base semanal. Vamos acompanhar quando a série de fato estrear, em 4 de novembro nos EUA.