Com Letitia Wright, Mangrove abre o Festival de Londres, politiza e emociona

Créditos da imagem: Amazon/Divulgação

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Com Letitia Wright, Mangrove abre o Festival de Londres, politiza e emociona

Diretor de 12 Anos de Escravidão, Steve McQueen marca os 50 anos da marcha dos Nove do Mangrove

Omelete
3 min de leitura
09.10.2020, às 14H38.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H48

Nada de tapete vermelho, coletivas de imprensa ou chá da tarde com os cineastas. Para quem está acostumada a cobrir o Festival de Cinema de Londres, que deu início à sua 64a. edição na última quarta-feira, o formato de 2020 é bem diferente dos anos anteriores. Em tempos de pandemia, a maior parte dos filmes está sendo exibida virtualmente na plataforma do British Film Institute, com apenas alguns títulos disponíveis em cinemas selecionados no Reino Unido para o público.

Porém, apesar de sentir falta de sentar na sala de cinema e encontrar com meus colegas jornalistas entre uma sessão e outra, nem tudo parece incomum no evento deste ano. A começar pelo filme de abertura do festival, Mangrove, de Steve McQueen. Vencedor do Oscar de Melhor Filme com 12 Anos de Escravidão em 2014, o diretor britânico é habitué do festival, onde abriu a edição de 2018 com seu As Viúvas.

Mangrove faz parte de uma antologia assinada pelo cineasta, intitulada Small Axe, que vai ao ar a partir de 15 de novembro na BBC e 20 de novembro no Amazon Prime Video com cinco filmes originais baseados em experiências reais da comunidade das Índias Ocidentais em Londres. Especificamente em Mangrove, a trama se passa entre as décadas de 60 e 70 em Notting Hill, na região Centro-Oeste da capital, bairro charmoso que nem sempre foi palco de comédias românticas e ainda tem ruínas evidentes da época do Pós-Guerra.

Há 50 anos, a área, repleta de moradias precárias, atraía imigrantes, incluindo descendentes de ex-colônias britânicas do Caribe, também conhecidos como geração "Windrush", a viver em Notting Hill pelo aluguel barato. (Quando Caetano Veloso canta em "Nine out of Ten" que frequenta o Electric Cinema e passeia pela Portobello Road ao som do reggae, é da Notting Hill dos anos 70 que ele fala.) Dado o contexto, a partir de então, o filme conta a história verídica de Frank Crichlow (Shaun Parkes), cujo restaurante caribenho, Mangrove, acaba se tornando um centro comunitário animado em Notting Hill, para moradores, intelectuais, artistas e ativistas.

Embora ressalte que ali "é um lugar de respeito onde se vende apenas comida apimentada", Frank é alvo constante de batidas policiais e acusações de atividades ilegais. Em uma tentativa de acabar com a discriminação e a destruição de sua base comunitária, Frank e seus amigos decidem sair às ruas em um protesto pacífico ocorrido em 1970, e o filme lida com a reação violenta da polícia a essa iniciativa, e se transforma numa história de tribunal quando os detidos - conhecidos como "Os nove de Mangrove", incluindo Frank e a líder do
Movimento British Black Panther, Altheia Jones-LeCointe (Letitia Wright) - são julgados pelo protesto no Old Bailey Court, a mais alta corte de justiça do Reino Unido.

Algumas cenas do filme são realmente poderosas, pelo apelo emocional, especialmente em tempos de Black Lives Matter: uma delas é quando Altheia diz a Frank para não ceder ao sistema e não se declarar culpado das acusações. Quando Frank se emociona ao ouvir o veredito para cada membro do "Mangrove 9" é outro momento forte do filme, de causar arrepios.

Ao marcar os 50 anos da marcha de protesto, Mangrove ensina que, apesar das adversidades e da vontade de desistir às vezes, a resiliência pode levar a recompensas realmente valiosas. O filme de McQueen abre o Festival de Londres com esse tom político evidente, em sintonia com o Black Lives Matter e outros movimentos que reivindicam o protagonismo das narrativas negras suprimidas há séculos, e a essa altura de 2020 isso seria até incontornável.

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