Leia a crítica de Borat: Fita de Cinema Seguinte

Créditos da imagem: Divulgação/Amazon Prime Video

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Crítica

Borat 2

Menos caótica, sequência se mostra digna com seu texto afiado e timing certeiro

Omelete
4 min de leitura
21.10.2020, às 18H32.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H48

No início de Borat: Fita de Cinema Seguinte, o repórter interpretado por Sacha Baron Cohen encontra dificuldades em se misturar à multidão por um motivo simples: em 2020 todo mundo o reconhece. Além de seu propósito dentro da história, esse momento serve como um lembrete do impacto cultural de Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América, filme de 2006 que ganhou fama mundial e alçou o personagem a ícone cultural. Quase 15 anos depois, a comédia ganhou sua aguardada sequência, que filmada em segredo não poderia ter chegado em melhor hora.

É difícil explicar a causa do sucesso do primeiro Borat. O falso-documentário é resultado de uma soma de diferentes fatores que vão do humor absurdo que beira a escatologia à coragem de ir até às últimas consequências por uma piada. Porém, é clara a intenção de utilizar o personagem vindo de uma cultura “atrasada” para denunciar e ridicularizar preconceitos internalizados na sociedade americana - e que infelizmente podem facilmente ser encontrados em outras partes do mundo. Não é de se estranhar então que o humorista Sacha Baron Cohen tire seu terno cinza e o bigode da gaveta em 2020, uma época dominada pela intolerância e pelo negacionismo.

Borat: Fita de Cinema Seguinte começa como uma história de redenção. Responsável por uma enorme vergonha à gloriosa nação do Cazaquistão por conta do primeiro filme, nosso querido repórter é novamente enviado aos Estados Unidos em uma missão para aproximar seu presidente de Donald Trump. Acompanhado por sua filha Tutar (Maria Bakalova), o repórter entra em uma jornada insana que envolve invadir comícios partidários e acampar com conspiracionistas em plena pandemia.

Em um primeiro momento, o novo Borat encanta por criar um terreno familiar para quem já conhece o longa original. Assistir ao repórter “redescobrindo” os EUA é tão divertido quanto nostálgico, especialmente porque o texto ácido do filme aproveita as menores brechas para metralhar piadas. O problema é que essa familiaridade acaba diluindo o impacto de algumas situações, já que velhos truques dificilmente impressionam. O enredo decola mesmo quando deixa a zona de conforto e se joga em situações absurdas que apenas os tempos atuais podem fornecer.

Se em 2006 a missão de Borat era surfar em uma onda de preconceitos internalizados, agora o alvo são as diferentes faces da extrema-direita, que vai dos negacionistas aos intolerantes e, obviamente, ao atual governo dos Estados Unidos e seus aliados. Controvérsias como a proximidade de Donald Trump e Jeffrey Epstein - bilionário condenado por abuso sexual - surgem antes mesmo de o jornalista deixar o Cazaquistão, deixando claro que o lançamento do filme às vesperas da eleição presidencial americana não é mera coincidência.

O lado complexo dessa escolha é que o humor do filme entra em uma corda bamba ao definir um alvo. Mais do que simplesmente soltar Borat em diferentes situações e deixar o caos reinar, parte das piadas é conduzida de forma menos orgânica e percorre um caminho muito controlado para atingir o alvo. É fato que elas funcionam na maior parte do tempo, mas ainda assim há momentos em que a comicidade fica em segundo plano - o que por sua vez faz com que o projeto perca seu propósito momentaneamente.

Dentre os destaques da nova produção, é preciso citar Maria Bakalova como a filha de Borat. Mais do que uma substituta para o produtor Azamat (Ken Davitian) como acompanhante do protagonista, Tutar por vezes rouba os holofotes ao segurar a barra de vergonha alheia estabelecida por Sacha Baron Cohen. É justo dizer que alguns dos melhores momentos do longa só funcionam pela entrega da garota, que não se intimida com o absurdo e a nojeira.

A colaboração entre a dupla contribui ainda para dar peso ao enredo do filme, que dessa vez tem mais substância do que simplesmente levar Borat do ponto A ao ponto B. Não que a história seja muito complexa, mas ela potencializa os pontos altos do filme. É especialmente impressionante que os protagonistas se mantenham em seus personagens até mesmo em situações que claramente colocaram suas vidas em risco.

Borat: Fita de Cinema Seguinte não é revolucionário como seu antecessor, mas essa é uma expectativa desleal para qualquer sequência. Seu trunfo, como o de qualquer boa piada, está no timing e, no cenário bizarro que temos em 2020, a volta do repórter do Cazaquistão se faz mais do que bem-vinda. Talvez seja sonhar demais esperar que a sociedade evolua a ponto de que personagens como Borat não sejam mais necessários para nos fazer rir dos absurdos da vida real. Mas no fim do dia é bom saber que eles estão à solta, só esperando o mundo ficar maluco o suficiente para torná-los necessários.

Nota do Crítico
Ótimo
Borat: Fita de Cinema Seguinte
Borat: Subsequent Moviefilm
Borat: Fita de Cinema Seguinte
Borat: Subsequent Moviefilm

Ano: 2020

País: Estados Unidos

Classificação: 18 anos

Duração: 95 min

Direção: Jason Woliner

Roteiro: Sacha Baron Cohen, Peter Baynham

Elenco: Maria Bakalova, Sacha Baron Cohen

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