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Crítica

Amigos Inseparáveis | Crítica

Al Pacino, Christopher Walken e Alan Arkin viajam no tempo, mas sabem o seu lugar

07.03.2013, às 17H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H24

À primeira vista, Amigos Inseparáveis (Stand Up Guys) parece só mais um pastelão, como aqueles que Al Pacino, Christopher Walken e Alan Arkin estrelaram recentemente, mas esta comédia dramática que junta o trio, na verdade, é uma homenagem à carreira dos três, em particular, e à geração da Nova Hollywood dos anos 1970, de modo geral.

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Na trama, variação do subgênero das "noites alucinantes" que só terminam quando o Sol nasce, Val (Pacino) é solto depois de passar 20 anos na cadeia por se recusar a entregar seus parceiros criminosos. Ele então encontra seu melhor amigo Doc (Walken) e o velho companheiro Hirsch (Arkin) para uma longa jornada noite adentro, incluindo excessos de velocidade, remédios e mulheres. O passeio tem tom de despedida, porém, porque Doc recebeu do chefão mafioso local a missão de matar Val.

O diretor Fisher Stevens, mais conhecido por seu trabalho como ator, em séries de TV e filmes, diz em entrevista que o intuito é mesmo a homenagem. Amigos Inseparáveis tem ecos de Perfume de Mulher (com Pacino de volta como o dançarino sedutor), de O Rei de Nova York (Walken encontra nos filmes de máfia sempre uma sintonia perfeita para suas interpretações frias) e Alan Arkin mostra a Ryan Gosling que para ser o herói piloto não é preciso abrir mão das mulheres.

Mais do que isso, a dinâmica entre Pacino e Walken neste filme remete diretamente a Caminhos Perigosos, o longa de 1973 de Martin Scorsese que definiu a persona de Robert De Niro nas telas. Aqui, como De Niro, Pacino faz o tipo inconsequente que, talvez por pressentimento, sabe que precisa aproveitar os minutos como se fossem os últimos. Já a Walken cabe o ingrato papel de impedir que o amigo se machuque, como cabia a Harvey Keitel em 1973. Que Walken seja o encarregado de matar o personagem de Pacino é um interessante e irônico elemento que move adiante o roteiro do estreante Noah Haidle.

A iluminação meio barroca, à moda Coppola, e a trilha sonora mínima dão o tom melancólico que Amigos Inseparáveis procura, em ruas, bares e diners vazios. O filme não se limita à nostalgia, porém, nem encara a juventude com moralismo. Com exceção de um ou outro bandido, aliás, os jovens aqui são muito bem resolvidos, e parecem prescindir desses velhos anti-heróis - o que dramaticamente os torna ainda mais obsoletos.

Cabe aos velhos bandidos manter sua dignidade, na medida do possível. Além de ser um filme com um ritmo particular, sem pressa, Amigos Inseparáveis é também uma rara comédia com senso de vergonha - como se os personagens de Pacino e Walken se agarrassem, acima de tudo, a uma noção do ridículo. Eles não tentam ser engraçados; o humor vem das situações, da dinâmica polarizada dos dois, e dessa tentativa frequentemente frustrada de evitar vexames diante do mundo dos jovens.

Hoje em dia parece que restaram a esses atores mais velhos poucas alternativas. Há os filmes de época e as adaptações teatrais/literárias, os francos pastelões e os filmes "bucket list" de terceira idade. Amigos Inseparáveis oferece uma alternativa digna. Consegue evitar as armadilhas de Hollywood - ninguém neste filme está tentando "reencontrar a alegria de viver" - e não tem medo de enfrentar a morte. Basta ver a franqueza com que Pacino diz a uma mulher no filme que o pai dela está morto. Há um desprendimento ali que Stevens sabe usar a seu favor, neste filme que parece suspenso no tempo e, ao mesmo tempo, ciente de seu lugar.

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Nota do Crítico
Bom
Amigos Inseparáveis
Stand Up Guys
Amigos Inseparáveis
Stand Up Guys

Ano: 2012

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 95 min

Direção: Fisher Stevens

Elenco: Alan Arkin, Julianna Margulies, Al Pacino, Christopher Walken, Katheryn Winnick, Mark Margolis, Vanessa Ferlito, Addison Timlin, Lucy Punch

Onde assistir:
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