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American Horror Story | Qual a conexão entre todas as temporadas da série?

Reunimos as pistas que comprovam a relação entre cada ano do programa

21.08.2017, às 16H16.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H24

Desde sua estreia, há sete anos, American Horror Story tem sido fonte constante de teorias, mesmo quando a própria produção da série não admitia uma conexão entre as temporadas, que por serem antológicas (com histórias independentes a cada ano), não ofereciam – à primeira vista – nenhum tipo de continuidade. Entretanto, após as primeiras pistas começarem a surgir, a produção voltou atrás e admitiu que havia pontos convergentes entre as tramas, como personagens e aspectos da mitologia. Uma costura específica, contudo, que amarrasse todas as histórias, só foi sugerida recentemente, quando Ryan Murphy publicou em sua conta no instagram uma foto em que as sete temporadas da série eram correlacionadas com os nove ciclos do inferno, do poema épico A Divina Comédia, de Dante Aligheri.

 

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Uma publicação compartilhada por Ryan Murphy (@mrrpmurphy) em Jul 29, 2017 às 11:38 PDT

A Divina Comédia sugere que a terra é formada por vários círculos concêntricos e que o meridiano é Jerusalém, lugar onde Lúcifer teria atingido quando caiu dos céus. A ideia é de que a Terra Santa seria por si só o Portal do Inferno. O próprio autor do poema, Dante, é o protagonista da jornada que faz pelo mundo espiritual e a sua volta, personagens bíblicos e de outras histórias, que são vistos pelo “viajante” tanto nas entranhas do inferno quanto no purgatório e no paraíso. Para guiá-lo por esses mundos ele escolhe Virgílio, autor do clássico Eneida. Ou seja, Dante se transforma no próprio personagem e envolve sua dramaturgia de elementos “reais” das dramaturgias que o cercam. Qualquer semelhança com o fato de American Horror Story ser tomada de personagens reais da história americana, não é mera coincidiência.

A foto publicada por Murphy mostra que sete dos nove círculos do inferno servem como base filosófica para o que vimos nas temporadas e ao analisar de perto cada uma delas, notamos que essa correlação é extremamente possível e intrigante (veja na galeria).

1ª Temporada - Murder House

A primeira temporada corresponde também ao primeiro círculo do inferno de Dante: o Limbo, descrito como um lugar onde vagam as almas que “imaginam viver a vida que teriam após a morte” e que “não podem conhecer o céu e nem o inferno”. Na série, Murder House foi a temporada que apresentou a mitologia que já foi usada em outras temporadas, de que se um lugar passa por muitos episódios de crime e barbárie, passa a ser uma espécie de “prisão” para todos que morrem ali, transformando-os em híbridos bizarros do limiar entre vida e morte.

O canal FX renovou American Horror Story até a nona temporada, o que completaria a viagem de Dante. Faltam o segundo círculo (Luxúria) e o sétimo círculo (Violência). Se a teoria for mesmo proposital, essas seriam as duas bases alegóricas das duas últimas temporadas. Só não se sabe se elas incorporam ou não a temporada crossover prometida por Murphy, que misturará personagens de Murder House e Coven.

A riqueza do universo proposto por American Horror Story continua no dia 5 de setembro com a estreia de Cult. 

7ª Temporada | Cult

Hereges são aqueles que não acreditam na existência de Deus e que investem em deteriorar essa perspectiva da salvação pelas mãos de um Cristo. Eles aparecem no poema de Dante enterrados em túmulos abertos e são descritos sempre coletivamente. Intrigantemente, a passagem de Dante pelo sexto círculo também envolve uma discussão sobre futuro político, já que lhe é revelado que os mortos do inferno podem prever o que está por vir, mas nada sabem do presente. De qualquer forma, uma discussão maior entre Cult e o sexto círculo só será possível depois que a temporada começar.

7ª Temporada | Cult

Pouco se sabe sobre como se desenvolveverá a trama do sétimo ano, mas até agora, Murphy prometeu uma relação com as eleições americanas e o material promocional da temporada parece trabalhar com a ideia de culto indireto, como se a massificação de um comportamento social prevesse uma espécie de anulação do indivíduo, o que surge alegoricamente na ideia da abelha, das colméias, da pasteurização do pensamento coletivo. Essa temporada seria correspondente ao sexto círculo do inferno: Heresia. 

 

6ª Temporada | Roanoke

"... vi no lameirão, todas nuas, gentes demonstrando irada mágoa. Estavam-se a esmurrar, não só de mão, mas com a cabeça, o corpo todo e os pés, lanhando-se com dentes de roldão”, descreve Dante. Na série, pessoas comuns eram atormentadas e assombradas pela ira dos espíritos da antiga vila desaparecida de Roanoke, criando uma reação em cadeia movida pela fúria. Há vários surtos de raiva que resultam em mortes violentas e quase todas as motivações dramaturgicas partem da impossibilidade de controlar a mágoa, a frustração e o rancor.

6ª Temporada | Roanoke

A sexta temporada da série corresponde ao quinto círculo do inferno: Ira. Roanoke surgiu depois de muitos segredos e de muitos mistérios, tendo sido a temporada que mais fugiu da estrutura dos anos anteriores. Foi a mais violenta de todas também. Os níveis de choque visual provocados por desmembramentos, torturas e mutilações foram altíssimos. Nunca a fúria assassina esteve tão presente na série quanto em Roanoke. 

5ª Temporada | Hotel

Hotel é protagonizado por vampiros e viciados, que precisam da próxima dose e da próxima mordida para continuarem vivos. A alegoria é reforçada pela própria ideia de um hotel, que serve de morada solitária para os comportamentos autodestrutivos que até hoje estampam manchetes: cada vez mais celebridades surgem mortas em quartos de hotel depois de overdoses acidentais. No poema de Dante, há uma passagem sobre os “solitários na lama”, que amargam uma chuva infernal em resposta aos seus desejos sem limites.

5ª Temporada | Hotel

Paixão, droga, sangue... Hotel é uma temporada sobre vício e o que seria o vício senão uma das formas contemporâneas da gula? A quinta temporada de American Horror Story corresponderia ao terceiro círculo do inferno, aquele que condena e castiga os gulosos a jazerem mergulhados no próprio vômito. 

4ª Temporada | Freak Show

Rancor e inveja foram preponderantes na dramaturgia, mas a ganância apareceu de forma clara - como a perseguição sofrida pelas aberrações com o intuito de serem mortas e vendidas para museus - e velada, como a ganância existencial de poder viver livremente seja como aberração, como homossexual, como psicopata ou até mesmo como pessoa absolutamente comum.

1ª Temporada | Murder House

Eles não podem ir nem para um lado e nem para o outro. Curiosamente, todas as pessoas que morreram antes da chegada de Cristo também foram condenadas ao limbo por não terem tido a chance de conhecer sua palavra. A série, de certo modo, sempre condena à permanência eterna naquelas residências pessoas que estão alheias às virtudes da existência.

4ª Temporada | Freak Show

No quarto ano de American Horror Story, a série volta a acompanhar a ordem dos círculos do inferno,  sendo exatamente o quarto círculo: Ganância. Essencialmente, Freak Show foi uma temporada sobre ressentimento e rancor. Das aberrações com o mundo e vice-versa. Jessica Lange personificava uma mulher que após ter seu sonho de estrelato frustrado por um desmembramento, reúne um séquito de aberrações apenas para que tivesse uma plateia e um bálsamo contra a própria sensação de inadequação: quanto mais bizarros eles eram, mais ela se sentia melhor consigo mesma.

3ª Temporada | Coven

Essa temporada também foi toda apoiada na arte da “necromancia”, que é o braço da magia negra que “revive” os mortos, sem ser capaz de manter o equilíbrio de suas almas. Na obra de Dante, o circulo da traição não é tomado de calor e fogo e sim de gelo, o que se correlaciona até mesmo com as escolhas visuais da temporada e sua paleta que contrasta preto e branco. 

3ª Temporada | Coven

Coven seria o último círculo: Traição. Esse círculo do inferno é dividido em quatro partes e sendo a última a residência de Lúcifer, que tem três cabeças que mordem os três maiores traidores da história: Judas, Brutus e Cassius. Curiosamente, Coven foi uma temporada protagonizada por três mulheres cruéis – Fiona, Laveau e LaLaurie – que passaram toda a vida traindo as regras da natureza e a ordem estabelecida do mundo.

2ª Temporada | Asylum

Na Divina Comédia, Dante descobre que o círculo da Fraude é composto por dez fossos ligados por pontes e que cada um deles é o “inferno particular” de tipos específicos de “fraudulentos”. Isso é perfeitamente relacionável à estrutura do sanatório, separado por alas e quartos, que se interligavam pelo horror da tortura. Até mesmo a jornada de Lana Banana pela história é equivalente ao mergulho de Dante por todos esses aspectos hediondos do inferno. O fato de termos freiras regendo o lugar só reforça o poder dessa alegoria.

2ª Temporada | Asylum

Embora a primeira temporada corresponda ao primeiro círculo do inferno, isso não se repete nos anos seguintes. A segunda temporada corresponderia ao oitavo círculo: Fraude. Asylum conta a terrível história de um sanatórios sombrio e brutal que abrigava desde doentes mentais até assassinos em série nos meados dos anos 60.