Enquanto muitos animes fizeram a cabeça dos otakus em 2021, algumas séries não conseguiram entregar o famoso entretenimento para nós. Em meio a ótimas novidades como The World's Finest Assassin Gets Reincarnated in Another World as an Aristocrat, Stone Ocean, ou mesmo as novas temporadas de Beastars e My Hero Academia, este ano ficará marcado por alguns animes que não foram tão legais assim e deixaram um gosto amargo na boca.
Decidimos listar o que rolou de pior nos animes neste ano que está acabando, tanto os animes ruinzinhos quanto as séries que prometeram muito e falharam miseravelmente. Vale lembrar que essa lista reflete a opinião de quem escreve, então nada impede que você tenha adorado alguma das séries listadas aqui.
Vamos à lista!
The Promised Neverland 2
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Imagine a responsabilidade: a primeira temporada de The Promised Neverland (Yakusoku no Neverland, no original) foi um grande sucesso, uma adaptação bastante competente feita pelo estúdio CloverWorks baseado na história de Kaiu Shirai e Posuka Demizu. Os otakus (e as pessoas de fora do nicho também) vibraram com a tensão dessa história envolvendo um grupo de crianças fugindo de um orfanato que não é o que parece. Dois anos depois dessa primeira temporada, a equipe conseguiu entregar uma segunda temporada que veio com um grande êxito: ela conseguiu desagradar gregos e troianos.
Ainda que bastante criticada pelos fãs, o mangá de The Promised Neverland tem uma história bastante interessante após a fuga adaptada na primeira temporada. Os autores conseguiram ampliar o mundo da série e apresentaram uma estrutura monarquista gerenciada por monstros, uma mitologia bem desenvolvida e arcos envolvendo cenas de combate bem empolgantes (alô, Goldy Pond). O que o pessoal do anime fez a respeito disso? Simplesmente resumiu 15 volumes de 200 páginas em apenas 12 episódios.
Mesmo com a presença do roteirista do mangá, Kaiu Shirai, na produção do anime, o trabalho do CloverWorks foi de lastimável para baixo. Arcos inteiros foram eliminados da história, assim como qualquer utilização de armas de fogo por parte dos personagens. A trama ganhou uma narrativa bobinha e atrapalhada, um arremedo de história se comparada à original. E como não conseguiram contar tudo o que queriam, resumiram alguns arcos inteiros em cenas dos créditos do último capítulo, algo que só deixou tudo muito confuso.
Temos uma matéria aqui no Omelete explicando toda essa confusão causada pela segunda temporada de The Promised Neverland, você pode ler aqui. Se for apresentar esse anime para alguém, explique que acabou na primeira temporada mesmo e assim menos gente ficará decepcionada com essa avalanche de desastres que foi a segunda temporada.
The Hidden Dungeon Only I Can Enter
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Quem não gosta de uma boa série de fantasia? É bastante divertido acompanhar a história de um mundo mágico com regras parecidas com as de um RPG japonês, mas o que acontece quando você cria um anime com personagens chatos e sistema de evolução confuso? Nesse caso chegamos em The Hidden Dungeon Only I Can Enter (Ore Dake Haireru Kakushi Danjon ~Kossori Kitaete Sekai Saikyou~ no original), anime baseado em uma light novel de Meguru Seto e Note Takehana.
A história mostra a vida de Noir, um rapaz que reside em um universo onde existem dungeons misteriosas repletas de tesouros. Noir até tem um poder interessante, uma inteligência elevada, mas usar esse poder sempre lhe causa uma baita dor de cabeça. Em um ponto da história ele encontra uma dungeon que somente ele consegue entrar (algo que já esperávamos pelo título), e Noir ganha um poder parecido com um cheat de jogo eletrônico, possibilitando que o personagem faça coisas grandiosas.
Parece até uma ideia interessante, mas ela é estragada pelos personagens. Como outros animes, The Hidden Dungeon Only I Can Enter busca conquistar os fãs do gênero fantasia com cenas ecchi, só que aqui elas são bem desconfortáveis. As dores de cabeça de Noir são curadas por beijos de sua amiga de infância, Emma, mas esses carinhos entre os dois são visualmente constrangedores para o público. Há um esforço em mostrar as duas bocas se mexendo de forma realista em meio ao beijo, mas os animadores se empolgaram demais e colocaram alguns filetes de baba saindo das bocas dos personagens. Não é muito legal de ver.
Além dos beijos, vale mencionar que o poder do protagonista é bastante confuso de entender e as regras parecem mudar sempre que é conveniente para o roteiro, ou seja, talvez seja mais interessante procurar outros animes de fantasia por aí. Temos até uma lista com recomendações de isekais!
Ex-Arm
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Enquanto Houseki no Kuni e Beastars existem para mostrar ao otaku como é possível ter um bom anime feito em computação gráfica, Ex-Arm serve para alimentar o preconceito que os fãs têm com animação 3D. O estúdio Visual Flight conseguiu os direitos para adaptar Ex-Arm, um mangá ficção-científica da Shueisha, mas se esqueceu dois pilares fundamentais para um bom anime: ter experiência e um orçamento superior ao preço de uma coxinha mordida.
O estúdio se aventurou na produção de seu primeiro anime ao lado de artistas sem qualquer histórico com a mídia. O diretor Yoshikatsu Kimura, por exemplo, foi chamado por ser um especialista em coreografia de dublês reais, mostrando que a intenção era fazer Ex-Arm parecer um filme. A inexperiência logo se mostrou. A direção parece inexistente, as cenas são mostradas na tela como se tivessem sido produzidas por alunos do primeiro ano de um curso de cinema.
Os modelos 3D beiram a inexpressividade, e suas ações são naturais como os de um figurante de RPG japonês. Para se ter uma ideia do buraco que é Ex-Arm, na época da exibição houve uma denúncia de que o anime estava censurando uma cena de beijo entre duas mulheres, mas logo perceberam que, na verdade, o estúdio não conseguiu animar o carinho e inseriram digitalmente um brilho gigante para disfarçar.
Se Ex-Arm não entregou uma boa ficção científica, ao menos serviu como piada involuntária. Os episódios são capazes de arrancar gargalhadas em quem tiver coragem de acompanhar a trama, então ao menos como anime de humor funciona. Se quiser entender um pouco mais da desgraça que foi esse anime, temos uma matéria no Omelete apenas sobre isso.
Record of Ragnarok
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Record of Ragnarok, conhecido também pelo nome original Shumatsu no Valkyrie, é um mangá surpreendente. Contamos mais sobre essa história nesta matéria aqui no Omelete, mas basicamente é um torneio entre seres humanos e deuses. Os deuses haviam decidido em votação exterminar a raça dos humanos, mas uma valquíria intercedeu por nós e apresentou uma cláusula importante no livro de regras: está lá escrito que os humanos têm uma chance de participar de um torneio contra os deuses, valendo sua própria existência.
A história de Record of Ragnarok é apenas esse torneio, ou seja, a cada capítulo vamos acompanhando as batalhas entre esses seres mitológicos contra humanos famosos escolhidos pela Valquíria. A graça da série é misturar deuses de diferentes culturas (grega, romana, nórdica, cristã etc) com seres humanos célebres, como Adão, generais de guerra e até mesmo o Tesla em pessoa, tudo em combates cinematográficos e sempre surpreendentes, com uma generosa pitada de humor.
Certo, temos só elogios aqui, mas qual é o problema de Record of Ragnarok? A resposta é fácil: a animação. O estúdio Graphinica entregou uma decepção no formato de anime, com cenas lamentáveis para uma produção que merecia uma animação digna de um Demon Slayer - Kimetsu no Yaiba. Alguns fãs compararam o anime a uma apresentação em Powerpoint, tamanho o número de cenas estáticas. Record of Ragnarok é apenas combate, e se a animação não consegue sustentar isso, a proposta não é atingida.
Felizmente é possível acompanhar o “verdadeiro” Record of Ragnarok no Brasil. A NewPOP Editora está lançando por aqui o mangá original, e é uma forma de se divertir sem passar raiva. Curiosamente, uma estratégia de marketing da editora para vender Record of Ragnarok é comentar com os leitores que o anime é bem ruinzinho.
The Fruit of Evolution
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Embora já tenha dado as caras na nossa lista de piores isekais de 2021, The Fruit of Evolution (ou Shinka no Mi, no original) merece um espacinho nessa matéria sobre decepções. Para quem não sabe a trama mostra Seiichi, um rapaz enviado para um outro mundo por uma voz misteriosa. O jovem era bastante desprezado pelos colegas por ser gordo e mal-cheiroso, então a entidade que o levou a esse novo mundo lhe garantiu um poder especial. Após comer umas frutas misteriosas, Seiichi “evolui” e fica magro e mais forte, e conquista o coração de Saria, uma gorila cor-de-rosa que também “evolui” e ganha o corpo de uma mulher.
Embora conquiste pontos por sua premissa inusitada, The Fruit of Evolution falha em qualquer outro quesito que envolve animação. Além do traço feio e da direção pouco criativa, o anime apresenta a história e os conceitos desse mundo da forma mais confusa possível. Em vez de permitir que o espectador entenda do que se trata no primeiro episódio, são necessários uns quatro para a pessoa compreender o que é The Fruit of Evolution. No caso, um isekai muito ruim.
Caso tenha a coragem de ignorar a recomendação de não ver esse anime, se prepare para um protagonista chato, um par romântico inconveniente, um universo tão complexo quanto mal explicado e algumas piadas com insinuações sexuais que parecem criadas por um aluno desocupado da quinta-série do ensino fundamental. Há isekais melhores no mercado.
Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Mugen Train Arc
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Calma! Calma! Abaixem essa katana apontada para nosso pescoço! Temos explicações muito boas para colocar Demon Slayer – Mugen Train Arc aqui nessa lista de animes decepcionantes de 2021, e até mesmo o mais ardoroso fã das aventuras de Tanjiro Kamado há de concordar conosco.
Demon Slayer – Mugen Train Arc mantém todo o pique do anime sensação, adaptando o arco do Trem Infinito e aumentando o drama do protagonista em meio a sua relação com o pilar Rengoku, porém… não era isso que os fãs queriam. Quando anunciaram uma nova temporada de Demon Slayer para outubro de 2021, todos estavam animados com a possibilidade de acompanhar o arco do Distrito do Entretenimento, mas os produtores surpreenderam com uma “reprise televisionada” do filme dividido em episódios. Para justificar a decisão, eles ainda prometeram cenas novas que complementariam o que todo mundo já havia assistido no cinema e streaming.
No entanto isso ficou longe de acontecer: tirando o primeiro episódio, um “filler” mostrando como Rengoku comprou aquele monte de marmita, quase nada foi mudado ou acrescentado na estrutura do filme. Na verdade, foi ainda pior: o ritmo se perdeu totalmente ao picotar o filme, e o público foi debandando até a estreia do arco do Distrito do Entretenimento.
O arco inédito estreou no começo de dezembro e está muito divertido de acompanhar, mas isso não muda que os fãs se sentiram meio “enrolados” com a estratégia de “requentar” Demon Slayer – Mugen Train Arc.