Tokyo Revengers/Kodansha/Reprodução

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Manji | Entenda a polêmica envolvendo o símbolo de Tokyo Revengers

O símbolo manji ganhou uma nova interpretação no ocidente após a 2ª Guerra Mundial

07.07.2021, às 13H59.
Atualizada em 07.07.2021, ÀS 14H21

Os fãs de Tokyo Revengers já repetiram diversas vezes a explicação sobre a polêmica envolvendo a série, mas o anime de delinquentes recentemente acabou saindo da "bolha" e muitas pessoas nas redes sociais passaram a estranhar a presença de uma suástica no uniforme dos personagens.

O símbolo está longe de ser representante da macabra ideologia do Partido Nazista, na verdade o Manji (seu nome original) está presente em várias culturas desde os tempos antigos e tem um significado positivo. Mesmo com essa explicação, ele ainda causa dor de cabeça para muitos animes e mangás que chegam ao ocidente, e vamos contar essa história com mais detalhes.

Manji, a suástica

Tokyo Revengers/Kodansha

Para os que chegaram agora na polêmica e querem entender a confusão, é bom explicarmos do começo. Tokyo Revengers é um mangá criado por Ken Wakui e recentemente ganhou um anime de bastante sucesso, disponibilizado no Brasil pela Crunchyroll. Na trama acompanhamos o jovem adulto Takemichi Hanagaki que consegue viajar 12 anos no passado para impedir a morte de sua namorada da adolescência, um crime causado pelas mãos de uma gangue japonesa. A única forma de Takemichi evitar essa perda irreparável é ele mesmo se infiltrar na gangue para mexer seus pauzinhos internamente.

No passado, a tal gangue é liderada por Mikey, um adolescente de bastante influência que reuniu dezenas de membros para tocar o terror pela cidade. Para nomear sua organização, Mikey usou um jogo de palavras: como seu nome original é Sano Manjiro, ele nomeou o grupo como "Manji" e usou como símbolo a suástica budista homônima, cujo significado pode ser interpretado como longa vida ou sorte.

Tokyo Revengers/Liden/Kodansha/Divulgação

Durante muito tempo a suástica budista representou uma mensagem religiosa e está presente em inúmeras esculturas e prédios tradicionais japoneses, mas desde a Segunda Guerra Mundial o símbolo acabou sendo deturpado. O Partido Nazista de Adolf Hitler tomou para si a suástica budista e a inverteu, transformando-a em um novo símbolo para representar sua ideologia absurda de superioridade racial.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, e por causa de todas as atrocidades causadas pelo exército de Hitler, a suástica ganhou no ocidente uma interpretação oposta à original. Embora o Manji budista seja visualmente diferente, afinal se trata de uma versão em sentido inverso ao símbolo Nazista, as muitas semelhanças acabaram trazendo muitos problemas para quem usasse o símbolo original (imagem à esquerda) no ocidente, afinal a suástica nazista (imagem à direita) é normalmente associada a crimes de ódio e extremismos.

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Censuras em animes e mangás

Por fazer parte da cultura japonesa e por ser compreendido pelo público logal, a suástica budista já apareceu em várias produções em quadrinhos ou em desenhos animados, frequentemente relacionado a personagens com elementos religiosos, como é o caso de Yu Yu Hakusho.

Um dos lutadores disputando o torneio da Mestra Genkai logo no começo da trama é Kazemaru, um ninja. Embora use uma armadura por baixo de sua roupa, o adversário de Yusuke Urameshi usa vestes parecidas com as de monges budistas, mantém o cabelo raspado e ostenta em sua testa a suástica do manji. Isso não foi um problema quando o mangá e o anime estavam restritos ao Japão e a países orientais, pois é um símbolo amplamente conhecido, mas ao sair dali a situação complicou.

Yu Yu Hakusho/Reprodução

Quando a série de luta criada por Yoshihiro Togashi foi exportada, o símbolo na testa de Kazemaru passou a ser um problema por causa do risco do personagem ser confundido com um Nazista. A Rede Manchete, responsável pela exibição do anime no Brasil em meados dos anos 1990, precisou editar o anime para apagar o manji na testa de Kazemaru, afinal seria impossível explicar o significado positivo de uma suástica quase idêntica à que se estuda nas aulas de História.

Quando um manji aparecia em um mangá no Brasil, a estratégia das editoras era manter o original e explicar aos leitores que se trata de um traço cultural nada relacionado ao Nazismo. O mangá Blade of The Immortal foi primeiramente lançado no Brasil pela Conrad no começo dos anos 2000, e a editora usou suas revistas e sites para esclarecer aos leitores o símbolo presente na roupa do personagem principal. Quando o mangá foi relançado na década passada pela JBC, os editores também usaram editoriais e vídeos para explicar as diferenças entre o símbolo budista e suas diferenças com a suástica de Hitler.

Blade of the Immortal/Kodansha

Com a popularização dos animes e mangás no ocidente, e com os japoneses lucrando bastante com isso, começou uma preocupação maior com a presença da suástica nas obras japonesas, afinal isso poderia colocar em risco alguma chance de exportação. Os próprios japoneses passaram a retirar o manji dos mangás e animes, como aconteceu em One Piece: o Ace tinha em suas costas uma suástica tatuada e o símbolo foi trocado pelo autor por uma cruz (que também acabou sendo censurado no ocidente por fazer alusão ao cristianismo, mas aí é uma outra história). Já a versão em anime do já citado Blade of The Immortal preferiu fugir das polêmicas e trocou o manji nas costas do protagonista por símbolo menos parecido com a suástica Nazista.

9gag/Reprodução

Tempos complexos

Indo na contramão de toda essa tendência de evitar o uso de manji em mangás e animes, a editora Kodansha permitiu que Tokyo Revengers exibisse o símbolo em todas as situações possíveis. Não só o manji é visto no uniforme da gangue de Mikey como a suástica se faz presente no logotipo do título, no meio de uma rachadura causada por um soco.

Talvez a editora japonesa tenha entendido que o tema "delinquentes juvenis" era algo que ficaria restrito ao Japão, mas Tokyo Revengers foi crescendo, até ganhar o anúncio de anime, algo que praticamente garantiria uma exibição no ocidente. Agora com a situação criada, era necessário lidar com as inúmeras suásticas presentes na história, e as decisões tomadas pelos produtores podem não ter agradado tanto.

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Ainda há um pequeno esforço para minimizar a presença do manji no anime, pois agora a suástica aparece de forma discreta no logotipo do anime (quase como uma mensagem subliminar de tão oculta) e a versão ocidental da animação contém algumas edições. No episódio 5 o protagonista é abordado por vários membros da gangue, e a suástica presente na manga do uniforme não é vista graças a um forte borrão de luz que cobre parte da tela e tampa toda aparição do símbolo.

Kodansha/reprodução

Mesmo "escondendo" a suástica na versão ocidental, estamos em uma época de internet e fãs de Tokyo Revengers têm fácil acesso às informações referentes ao original japonês. Uma rápida busca no Google é o bastante para o fã encontrar as belas ilustrações das capas dos mangás japoneses, todas elas com o manji bem grande e colorido no centro. Foi aí que, como forma de homenagear o anime que tanto gostam, fãs passaram a colocar a suástica budista em seus nomes nas redes sociais, e isso incomodou pessoas que não fazem ideia da diferença entre os símbolos.

Chocados com o símbolo sendo usado por pessoas jovens, alguns perfis interpretaram erroneamente a história de Tokyo Revengers com base em uma ilustração do mangá, assumindo de forma equivocada se tratar de uma história protagonizada por um grupo promovendo superioridade branca, afinal todos os personagens têm cabelo loiro (!). Na verdade, a pintura de cabelo é uma característica comum da rebeldia e de gangues nas histórias japonesas, e aparece em diversas histórias. Lembram que a Chichi de Dragon Ball Z ficou muito triste quando Gohan se tornou um Super Saiyajin, pois ela pensou que seu filho havia se transformado em um rebelde?

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Essa confusão envolvendo a suástica é o tipo de situação no qual todos os lados parecem estar errados, pelo menos em algum ponto. A crítica sobre uma suposta mensagem nazista em Tokyo Revengers nasceu da desinformação do público leigo, que desconhece a existência de um símbolo oposto à suástica nazista frequentemente usado em situações religiosas na Ásia. Já os fãs da série, por mais que tentem explicar as diferenças entre os símbolos, demonstraram falta de tato ao utilizar inocentemente o símbolo budista nas redes sociais sem qualquer contexto, ignorando o fato de que estamos em tempos delicados nos quais discursos extremistas infelizmente vêm ganhando força.

Por fim, não se pode tirar a "culpa" das empresas responsáveis por Tokyo Revngers no Japão. Se elas sabem que a suástica traria problema ao anime, por que não substituir por outro símbolo? Edições de símbolos delicados em alguns países é algo comum (os brincos do Tanjiro em Demon Slayer foram trocados em países que viam com maus olhos o desenho do Japão Imperial), e o manji está longe de ser um elemento imprescindível para Tokyo Revengers. A série poderia ter menos problemas no ocidente, e menos repercussão negativa, se optassem por outro elemento para a gangue.

Como assistir

Se quiser conferir a versão animada de Tokyo Revengers e entender sobre um dos animes mais interessantes do momento, os episódios são lançados semanalmente na Crunchyroll, logo após a exibição japonesa. Nesse caso você assistirá em japonês com legendas em português.

Algumas semanas depois o serviço de streaming tem lançado os episódios dublados em português, com Luiz Sérgio Vieira (o Tai de Digimon) interpretando o protagonista Takemichi.