O anime Ranking of Kings (ou Ousama Ranking no original) é um ótimo exemplo sobre como as coisas vão além da aparência. Por trás desse traço fofinho, das cores vivas e da animação digna de um longa-metragem, esse anime da temporada de outono apresenta uma história madura repleta de lições sobre morte, superação e amizades improváveis.
O príncipe e a sombra
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Basta uma rápida passada de olho pelos pôsteres de anime da temporada para a ilustração escolhida de Ranking of Kings chamar a sua atenção. Estamos acostumados a imagens promocionais com personagens muito parecidos e em poses comuns, mas este aqui traz uma imagem diferente do habitual. Em vez dos personagens com character design semelhante, Ranking of Kings coloca em destaque uma criança de cueca sentada em um trono. O jovem tem uma aparência mais inexpressiva, com olhos que parecem ter saído direto de um episódio de Crayon Shin-Chan, e percebe-se que há uma mancha com olhos na escadaria que leva ao trono.
Ao ler a sinopse e ver o trailer de Ranking of Kings, o espectador descobre que está diante de uma história especial. A trama se passa em um universo medieval com pitadas de elementos mágicos, em um reino controlado pelo Rei Boss. Lá existem dois príncipes que são cotados para suceder o trono real, mas somente um é o “favorito” das pessoas. Embora todo mundo acredite que Daida seja o jovem ideal para assumir o legado do pai, na verdade a sucessão virá através de seu irmão mais velho Bojji, que ninguém nem ao menos considera como candidato à vaga. Mas por que ninguém ali acredita que aquele garoto é capaz de governar o reino? Bem... porque ele é surdo.
Bojji é um protagonista muito interessante. Por ser uma pessoa PCD com audição prejudicada, o príncipe se comunica apenas com linguagem de sinais e alguns sons emitidos por sua boca. Embora seja o mais velho da família, Bojji é muito menor que seu irmão mais novo e é constantemente motivo de piada por parte dos moradores do reino. Logo no primeiro episódio ele é vítima de zombaria por passear só de cueca pela cidade, incidente ocorrido após perder suas roupas para um ser das sombras chamado Kage, que por curiosidade passa a acompanhar de perto esse príncipe tão diferente. Infelizmente, Bojji sabe que ele é motivo de piada no reino, e sofre muito com isso.
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A grande questão dessa história é a sucessão do reino, afinal o Rei Boss está com os dias contados. Há também a preocupação de todos com o tal “ranking dos reis”, uma classificação para avaliar qual é o monarca mais poderoso da região. O ranking é importante pois quem atinge o primeiro lugar ganha o direito de escolher um item mágico, dotado de um grande poder ainda desconhecido por quem assiste ao anime.
Bojji está longe de ser o garoto bobo que a população enxerga. Ele não é só o dono de um coração enorme, capaz de quebrar os corações mais petrificados do reino, mas ele também é corajoso e tem uma excelente habilidade de combate: ser ótimo em esquiva. O príncipe está ciente de suas funções como filho mais velho de Boss, e se esforça para conseguir ter as habilidades necessárias para ser o novo rei, inclusive em batalha.
Uma das cenas mais surpreendentes do primeiro episódio é um “amistoso” entre Bojji e o príncipe Daida, em que os dois praticam habilidade com luta de espada. Durante todo o episódio o roteiro nos leva a acreditar que o protagonista apanharia feio de seu irmão mais novo, porém Bojji revela ter uma capacidade em combate muito apurada.
Produção impressionante
Não existe outra palavra que possa ser usada para descrever Ranking of Kings que não seja “fenomenal”. A produção destoa totalmente do que esperamos de um anime televisivo, como a utilização de fundos desenhados à mão e um character design mais cartunesco, mesmo bebendo muito dos principais elementos da animação japonesa.
O anime de Ranking of Kings aposta em cenas que falam conosco através das atitudes e olhares dos personagens, e isso mesmo sem os olhos detalhados comuns aos animes. Isso sem falar no excelente trabalho dos atores de voz, responsáveis por interpretações ótimas nos poucos diálogos. A voz do príncipe é feita por Minami Hinata, uma atriz de voz novata no meio, enquanto o drama da sombra Kage ganha bastante peso com a interpretação de Ayumu Murase (o Hinata de Haikyuu!).
Ranking of Kings é um projeto do WIT Studio (das primeiras temporadas de Attack on Titan), e surpreende por ter em sua equipe de produção pessoas com menos experiência. A direção, por exemplo, é assinada por Yousuke Hatta, que nunca havia desempenhado a função de diretor geral até então. Mesmo assim, ele contribuiu com o estilo "infantilizado" de Ranking of Kings com a experiência conquistada na direção de dois longa-metragens de Doraemon, uma das mais populares franquias de anime para crianças do Japão.
Enquanto o mangá original tem um traço muito simples, às vezes se assemelhando a um desenho feito por uma criança, o anime seguiu por essa linha mais exuberante. Os personagens ganharam ainda mais vida com o design assinado por Atsuko Nozaki (de Tokyo Magnitude 8.0). O traço mais cartunesco permitiu que a equipe de animação tivesse bastante liberdade para desenvolver as cenas de combate e os desafios que se colocam na frente dessa jornada pelo crescimento do jovem Bojji.
Nem tudo é o que parece
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Quando Ranking of Kings foi anunciado, muitos erroneamente consideraram o anime como uma produção infantil, algo como um conto de fadas. Essa é uma visão bem superficial, e até perigosa, porque há momentos que seriam assustadores para uma criança mais nova. No segundo episódios, por exemplo, acompanhamos o passado do Kage em que ele presencia a morte de sua mãe. Sua história prossegue de forma dramática: Kage se afeiçoa por um amigo interesseiro e há cenas bastante pesadas.
O anime de Ranking of Kings se originou de um mangá homônimo criado por Sousuke Touka e publicado na revista Manga Hack desde 2017. A publicação se encaixa na demografia seinen, ou seja, com histórias destinadas ao público adulto. O anime também está bem longe do alcance do público infantil e é exibido de madrugada no bloco Noitamina da Fuji TV, destinado para produções com conteúdo mais forte, como foi o caso de The Idaten Knows Only Peace na temporada passada.
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Um dos elementos mais interessantes de Ranking of Kings é como somos constantemente “enganados” pela série, pois o anime brinca muito com a nossa expectativa e a realidade. Os personagens até desdenham das habilidades de Bojji por conta de suas limitações, mas com isso menosprezam a coragem do garoto, sua força ou capacidade de articulação. A dificuldade de comunicação não é uma barreira, e Bojji é capaz de criar laços muito fortes de outras formas. Mesmo uma personagem como a Rainha Hiling, madrasta de Bojji e apresentada pela trama como uma megera, vai revelando ter um outro lado para o público.
Ninguém é muito o que parece, e as surpresas no decorrer dos episódios surgem daí. É normal algum personagem tomar alguma decisão inesperada, para depois isso ser explicado pelo roteiro da história. Nada é gratuito e, por isso mesmo, se torna um anime imperdível.
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Animes com PCDs
Se ficou com curiosidade para assistir a Ranking of Kings, saiba que o anime está sendo lançado simultaneamente com o Japão através da Funimation. O serviço de streaming especializado em animes já tem vários episódios legendados da série, e promete uma novidade: em breve lançará semanalmente os capítulos com dublagem em português.
Quanto ao mangá, não há qualquer plano até o momento de lançar a versão em quadrinhos Ranking of Kings no Brasil. O jeito é ir acompanhando essa pérola através do anime mesmo.
Inclusive, vale destacar que Bojji não é o único protagonista PCD na atual temporada de animes. Em Taisho Otome Fairy Tale, o protagonista perdeu a habilidade de movimentar sua mão dominante e é renegado pelo patriarca da família. Por conta disso ele sofre com uma depressão que é amenizada com a chegada de Yuku, uma garota que transborda alegria. Taisho Otome Fairy Tale é outro anime bastante recomendado e está sendo disponibilizado pela Funimation.