Arthur Curry. Orin. Rei da Atlântida. Habitante das Profundezas. Ás Aquático. Viking dos Mares. Aquele que só sabe conversar com os peixes.
Aquaman acumulou alguns títulos na sua trajetória de quadrinhos, TV e cinema. Sempre batalhou para manter seu espaço na lista dos heróis mais famosos da DC Comics, tanto nas transformações que sofreu ao longo dos anos quanto na fama que ganhou na televisão por conta do ridículo. O atlante faz 75 anos e abaixo nós repassamos os pontos mais importantes dessa trajetória.
A estreia
Apesar de a capa dizer "novembro", More Fun Comics #73 chegou às bancas dos EUA em 25 de setembro de 1941. Com Sr. Destino na capa e outras seis atrações nas páginas internas - incluindo também a estreia do Arqueiro Verde - a revista reservava as dez páginas finais para lançar Aquaman, um novo herói marinho. Na trama, um navio de passageiros é destruído por um submarino nazista e Aquaman surge para derrotar os alemães e salvar uma família num bote. A primeira história já o mostra comunicando-se com golfinhos, respirando embaixo d'água e sua relação com a mítica Atlântida.
Os criadores: o proto-nerd
O nova-iorquino Mort Weisinger era ativo nos fã-clubes e fanzines de ficção científica desde os 15 anos de idade. Começou cedo como editor e escritor e, aos 25, chegou na National Comics (futura DC), onde já lhe botaram para inventar personagens. Logo saíram Aquaman, Arqueiro Verde e Johnny Quick, quase simultaneamente. Weisinger viria a ter fama como o grande editor de Superman nos anos 50 e 60.
Os criadores: o fazendeiro
Já o desenhista Paul Norris conseguiu trocar o trabalho na fazenda da família em Ohio pela escola de artes e, de lá, mudar-se para Nova York e entrar nos primeiros anos dos quadrinhos. Depois de várias histórias do Sandman original, ele participou da criação de Aquaman: o editor Whitney Ellsworth falou para ele desenhar um personagem (incluindo as cores do uniforme), e Mort Weisinger inventou a história em torno do desenho. A carreira posterior de Norris foi bastante dedicada às tiras de jornal.
Origem
Aquaman teve cinco anos de aventuras curtinhas na More Fun Comics. A HQ, que tinha estreado em 1935, já vinha perdendo o fôlego e foi cancelada. Aqua pulou para outra antologia da DC, a Adventure Comics, onde ficou por 14 anos como atração secundária (o carro-chefe da série era Superboy). Foi na Adventure que, em 1959, Aquaman sofreu uma reformulação: foi revelado que seu nome era Arthur Curry, que era filho de um humano, responsável por um farol, e Atlanna, ex-rainha da Atlântida. Também se definiu sua kryptonita: só podia ficar até uma hora fora d'água.
Parceiros
Aquaman começou a ganhar coadjuvantes. Primeiro veio Topo, o polvo de estimação que virou parceiro de aventuras (ele conseguia usar os tentáculos para manejar arco e flechas e tocar vários instrumentos musicais ao mesmo tempo). Seguindo a tradição dos parceiros-mirins, mais tarde surgiu Aqualad, também parceiro de aventuras e mestre nos bordões ("Sardinhas Sofredoras!") quando a coisa ficava preta.
Primeira capa, primeira equipe
Com quase 20 anos de quadrinhos, Aquaman nunca tinha aparecido na capa de revista alguma. Sua primeira foi The Brave and the Bold #28 (1960), a edição de estreia da Liga da Justiça. Considerando que era um herói que não tinha sucesso nem para aparecer na capa de uma revista, é até curioso ele ter sido membro fundador da Liga - e até hoje um de seus integrantes mais conhecidos.
A primeira série
A primeira série intitulada Aquaman veio em 1962, quando o herói já tinha mais de 20 anos de HQs. Os autores fizeram dele Rei da Atlântida e começaram a lhe dar família: Mera estreou em Aquaman #11 e, sete edições depois, já casou com Arthur - um dos primeiros casamentos dos quadrinhos. O filho dos dois, Arthur Jr. (ou Aquababy), veio depois de cinco números. Também são dessa época o cientista-mentor Dr. Vulko e Tula (ou Aquagirl), namoradinha de Aqualad.
Os primeiros vilões
A galeria de vilões clássicos de Aquaman não é tão extensa, mas o Mestre dos Oceanos destaca-se pela origem de telenovela: ele é meio-irmão de Aquaman, filho do mesmo pai, que se ressente do favoritismo do progenitor com o filho herói. Os dois brigam até hoje. Arraia Negra, seu outro grande vilão, também é dos anos 1960: um homem de armadura high-tech que odeia o mar e, por extensão, qualquer herói dos mares.
A estreia na TV
Aquaman tinha tanta influência que pegou carona com o personagem mais famoso da DC para estrelar a "Superman/Aquaman Hour of Adventure", série animada produzida pela Filmation que estreou em 1967 na CBS. Cada um tinha suas histórias à parte, e Aquaman contracenava com Mera, Aqualad e inclusive sua morsinha de estimação, Dentuço. A série durou apenas um ano.
Superamigos
Mas o grande momento de Aquaman na TV - ou pior, considerando o que fez com a reputação do personagem - foi Superamigos, série animada que estreou em 1973, teve mais de dez anos em produção e décadas de reprises. O herói saía por aí cavalgando cavalo marinho e só servia para alguma coisa quando a aventura envolvia os mares. Com certeza é a versão mais conhecida do herói junto ao grande público.
Tragédia
Aquaman perdeu sua série própria em 1971, depois de 56 edições. Foi encontrar refúgio de novo na Adventure Comics, onde pelo menos virou atração principal. Foi nessa série que ele teve um de seus momentos trágicos: Arraia Negra mata Arthur Jr., o filho de Arthur e Mera. A morte terá repercussões sérias para o herói, principalmente no seu casamento.
Líder da nova Liga
No início dos anos 1980, sem série própria nem aventuras solo, Aquaman foi se refugiar na série da Liga da Justiça. E, já que para ele era assim, a regra tinha que valer para todos: nomeado líder do grupo, ele decretou que os participantes tinham que ter dedicação exclusiva. Saíram os heróis clássicos e ficaram novatos, como Vibro, Cigana e Vixen. A fase ficou conhecida como Liga de Detroit. Pouco depois, o próprio Aquaman sai da equipe (pela primeira vez em 25 anos) para resolver seu casamento em crise.
O uniforme camuflagem
Na minissérie Aquaman, de 1986, sua primeira aventura pós-"Crise nas Infinitas Terras", Aquaman passa a maioria das páginas com um uniforme novo, que segue os tons de azul do oceano. A criação de Neal Pozner e Craig Hamilton marcou época, conectou Aquaman a muita coisa mística, mas não conseguiu atrair popularidade ao personagem. Mais tentativas viriam.
O uniforme de preso
Outra tentativa de reformulação veio das mãos de Robert Loren Fleming, Keith Giffen e Curt Swan, em outra minissérie. Os autores mudaram a origem do herói: seu verdadeiro nome era Orin; ele era filho de Atlanna e de um mago, Atlan, ambos atlantes; teve que se virar sozinho na infância, como uma criança selvagem; e acabou adotado por Arthur Curry, o homem do farol. Quando volta à sua cidade na Atlântida, Poseidonis, ele é preso - e aquele uniforme laranja e verde é justamente a roupa dos presos na Atlântida.
A era Peter David
A terceira tentativa pós-Crise de revitalizar Aquaman envolveu chamar um roteirista relativamente novato, Peter David, para dar jeito no herói. David começou inventando séculos de origens místicas para a Atlântida (na minissérie Atlantis Chronicles) e tentou mexer na personalidade de Arthur em outra minissérie - cujo maior destaque é lhe dar um filho ilegítimo com uma esquimó. Mas a grande sacada de David viria mais tarde...
Piranhas
Aquaman ganhou sua terceira série mensal (a segunda durou pouco e é pouco lembrada) em 1994. Peter David mexeu totalmente com o herói: depois de deixar cabelo e barba compridos, sua mão esquerda é devorada por piranhas (controladas pelo vilão Charybids), ele adota um uniforme puramente funcional, de peito à mostra, e fica legitimamente louco. A cabeça melhorou, mas o visual novo viria a durar anos. É uma das fases mais famosas do personagem nas HQs.
Morto e místico
Depois das reformulações, Aquaman também volta a ser membro da Liga da Justiça e, assim, personagem central do Universo DC. A saga "Nossos Mundos em Guerra", de 2001, acaba com a Atlântida desaparecida (aparentemente tragada por uma fossa marinha) e seu rei também. Ele voltou mais de um ano depois, numa nova série com tons místicos - ele até ganha uma "mão de água" para substituir a que perdeu.
Sub-Diego, Rei Artur e morte
Na série do início dos anos 2000, fez sucesso a fase Sub-Diego: quando a cidade californiana conhecida pela Comic Con é tragada pelos mares, seus moradores começam a respirar embaixo d'água e Aquaman vira uma espécie de xerife. Pouco depois a revista foi reformulada e voltou à mística com toques de Rei Artur. Orin foi inclusive substituído por outro homem, Arthur Joseph Curry, que assume o título de Aquaman. Ao final da série, o Aquaman original é morto.
Aquaman e seus amigos
Aquaman já tinha virado o Homem-Sereia (e parceiro Mexilhãozinho) em Bob Esponja e estrelado vinhetas do Cartoon Network (tentando falar com peixes mortos no supermercado, por exemplo). A pecha de herói ridículo se sacramentou com "O Show do Aquaman e Seus Amigos", curta série do Cartoon de 2003 dedicada a tirar sarro do herói, na qual ele estrela como apresentador de programa infantil. Mais para a frente também viriam as paródias do Adult Swim, de Robot Chicken, Family Guy...
Entourage
Entre a paródia e a homenagem, o seriado Entourage, sobre os bastidores de Hollywood, fez do primeiro longa-metragem de Aquaman um sucesso, o primeiro da carreira do ator que protagonizava o seriado, Vincent Chase. Com Mandy Moore de Aquagirl, James Woods de vilão e Ray Liotta e Sharon Stone como pais do herói, James Cameron's Aquaman bateu recordes de bilheteria, virou videogame e rendeu uma sequência - dirigida por Michael Bay, agora com Jake Gyllenhaal no papel principal. Tudo, claro, só dentro do seriado da HBO.
Mercy Reef
Depois da fama cômica na época, Aquaman teve sua estreia em live-action em 2005 em Smallville - embora no seriado o ator Alan Ritchson fosse chamado pelas iniciais A.C. O sucesso dos seus episódios levou o canal CW a apostar em um piloto com o herói aquático (havia planos de chamar a série de Mercy Reef, para seguir a temática de Smallville), mas que não passou do episódio-piloto.
Noite Mais Densa, Dia Mais Claro
Nos quadrinhos, Aquaman voltava à vida... ou mais ou menos. Na saga "A Noite Mais Densa", ele volta como zumbi, e um zumbi perigoso. Ao final ele acaba ressuscitado e embarca em novas aventuras com Mera na nova saga "O Dia Mais Claro". Também foi o início da relação de amor do desenhista brasileiro Ivan Reis com o personagem.
Novos 52
A estreia do herói nos Novos 52 foi obra de dois dos autores mais renomados da DC à época: Geoff Johns e Ivan Reis. O desafio que os dois se impuseram foi livrar o herói da pecha de ridículo. Conseguiram sem mexer muito no personagem. Ele não conversa com os peixes, mas sim manda na vida marinha. Ele não é um herói dócil, mas sim pavio curto. E não queira vê-lo furioso. O sucesso da série na época ainda rendeu uma segunda mensal, Aquaman and the Others.
Trono de Atlântida
Aquaman e sua série foram a ponta de lança para a saga "O Trono de Atlântida", que envolveu toda a Liga da Justiça na passagem de 2012 para 2013. Na trama, o Mestre dos Oceanos, agora rei da Atlântida, entra em guerra com o mundo da superfície. A trama serviu de inspiração para um longa animado de mesmo nome, que estreou em 2015 e ainda conta a origem de Aquaman.
Momoa
O filme solo de Aquaman está em projeto oficialmente desde 2003. Mesmo com alguns roteiros prontos, o projeto só andou de verdade recentemente; Aquaman entrou na lista de heróis que a DC queria explorar no cinema e está com o filme solo programado para 2018, dirigido por James Wan. A interpretação do ator Jason Momoa - que segue a linha mais marrenta na fase Peter David - já estreou em Batman vs Superman e também estará no filme da Liga da Justiça, no ano que vem.
Reis e o Rei
"Foi num café da manhã com Dan DiDio e Joe Prado", diz Ivan Reis, o brasileiro que provocou a revitalização de Aquaman nos Novos 52. "Dan chegou até me oferecer uma das séries de Antes de Watchmen. Foi quando olhei para ele e disse que queria fazer Aquaman. Ele não acreditou muito e confirmou com o Joe se era isso mesmo que eu havia dito. O Aquaman não iria ter uma revista nos Novos 52. Só aconteceu porque o Dan apostou na minha vontade", diz Reis ao Omelete.
Revitalizado
Ivan Reis já vinha trabalhando com o herói em Noite Mais Densa/Dia Mais Claro. "Via muito potencial visual naquele universo. E achei que seria divertido. Os artistas costumam ir de títulos menores pros títulos melhores. Eu quis fazer o contrário. Alguns acharam um absurdo a DC me passar um título tão ruim. Mal sabiam eles que fui eu quem quis." Geoff Johns topou retomar a colaboração com Reis assim que soube da vontade do desenhista. Vieram elogios da crítica, o topo da lista de mais vendidos e - o mais importante - Aquaman passa seus 75 anos sem ser apenas motivo de ridículo.