"A gente sabe que é muito caro vir pro show e a gente agradece muito a todos vocês por terem vindo". Assim Win Butler encerrou a jornada de duas horas iniciada pelo Arcade Fire em sua passagem por São Paulo.
Não é novidade pra quase ninguém que um show dos canadenses é envolto em uma gigantesca miríade de nuances que se alterna entre a beleza da alegria de letras cheias de vida e a dureza de momentos intensamente decorados com as cargas da vida. E assim foi a passagem por aqui.
O grupo recentemente lançou o disco Everything Now (leia a crítica), e embalou tudo com uma ideia “corporativa”, detalhe que é possível ver no palco somente pelos uniformes que ostentam em alguns momentos do show.
Um destaque interessante é a forma como a banda é apresentada antes de entrar no palco: Lutadores que vão a um ringue defender algo. Diferente e interessante. Nesse momento já é possível perceber a vontade do grupo de colocar o público mais próximo de sua ideia, graças a uma introdução toda narrada em português.
Após esse momento o grupo entra em um ritmo acelerado, sem descanso, abrindo o show com “Everything Now” e seguindo com mais duas faixas - sem intervalo - como um set bem mixado pra não deixar o público respirar. E que público.
Desde as primeiras notas, até a última, todos estavam dançando e ligados ao que acontecia no palco. Não se via displicência em relação ao que acontecia, somente pessoas dançando, cantando e acompanhando tudo atentamente.
Ainda nesse primeiro momento, a banda contou com a participação de parte da percussão da escola de samba Acadêmicos do Tatuapé, que precisou de um tempinho pra entrosar, mas acabou funcionando bem e colaborou com um pouco de sonoridade em algumas faixas.
Butler, por diversas vezes, comentou sobre a felicidade de tocar no Brasil e confessou que: "São Paulo é a minha cidade favorita no mundo". E isso não pareceu, de forma alguma, um discurso só para ganhar sua audiência que já estava ali, pronta para qualquer situação.
Depois desse início acelerado, o Arcade Fire começa a criar outro momento - mais introspectivo - e segue com faixas menos aceleradas e mais contemplativas -, abrindo com "Put Your Money on Me" e entrando em outra atmosfera. “Neon Bible” cria o ambiente perfeito para as primeiras lágrimas inevitáveis e deixa claro a presença verdadeira ali no palco. As músicas parecem que estão sendo cantadas pela primeira vez e isso cativa de uma forma impressionante.
Nessa hora, a apresentação está totalmente diferente e arrepia, justamente por ser possível ver a verdade da banda, ali, acontecendo naquele momento. E isso tudo faz com que o público continue sendo guiado com delicadeza e respondendo a todo e qualquer estímulo. É bonito de ver.
São momentos reais de música, de arte. Momentos construídos ponto a ponto como na performance de "It's Never Over": Singela e com com um trabalho que só uma banda como o Arcade Fire - com sua dúzia de músicos e vozes - poderia construir.
Em meio a todos esses detalhes musicais, o grupo aproveitou para anunciar que irá doar um dólar de cada ingresso vendido para uma ONG de São Paulo e ao final de sua jornada, conseguiu apresentar um excelente mix entre as músicas novas, faixas de menor impacto como “Peter Pan” e "Chemestry", e músicas de todos os discos anteriores.
Depois de tudo isso, o grupo encerrou sua apresentação com “Wake Up” e foi para a plateia com a percussão da Acadêmicos do Tatuapé, emulando sua faceta de bloco de rua.
No fim das contas, por mais que os detalhes possam ser descritos em algumas linhas, a sensação catalisada por uma apresentação do Arcade Fire só é real ali, em frente a massa sonora que eles entregam. Afinal de contas, grande parte do repertório do grupo ganha nuances mais fortes e concretas quando existe a dinâmica com o público o que gera uma experiência forte e - em certos momentos - emocionante para quem gosta de perceber os diversos alicerces utilizados pelo grupo.