Batwoman é uma série com altos e baixos. Ao revelar rapidamente a identidade da vilã Alice (Rachel Skarsten), a produção acertou ao não precisar criar um suspense desnecessário, mas também errou ao direcionar todas as ações da prima do Batman para isso. Nos últimos capítulos, todo o foco da Batwoman foi na vilã e, pelo relacionamento das duas ser tão complexo, Kate Kane (Ruby Rose) tomou decisões extremamente questionáveis. No entanto, o episódio 6, “I'll Be Judge, I'll Be Jury” traz de frescor ao colocar a vigilante contra outros vilões.
[Spoilers de “I'll Be Judge, I'll Be Jury” abaixo]
O episódio começa mostrando a relação desgastada entre Kate e seu pai, após ele admitir que a vilã Alice é sua filha perdida, Beth. Dougray Scott faz um belo trabalho ao mostrar toda a culpa que Jacob Kane sente por não ter continuado as buscas por sua filha. A existência de tal trecho é importante e tem ligação com o final do episódio, mas o foco muda rapidamente quando a Batwoman precisa lidar com o vilão Carrasco.
O desenvolvimento segue os padrões de séries procedurais: a heroína descobre um novo vilão agindo, faz uma investigação e pronto: descobre quem é a pessoa e suas motivações. Só que a descoberta da Batwoman sai do padrão “preto e branco” e coloca a heroína em um dilema. Quem está por trás de vários crimes recentes é um homem que trabalhava como executor da polícia há anos e descobriu que vários casos condenaram a pessoa errada. Por problemas no sistema judiciário de Gotham, Bertrand Eldon matou inocentes e sente que o sangue deles está em suas mãos.
Apresentar uma trama com tais características é algo muito positivo para o desenvolvimento da Batwoman. Ao invés de ficar em um eterno jogo de “gato e rato” com a irmã, Kate Kane tem a oportunidade de entender que há muitos outros vilões em Gotham e vários deles agem dentro do sistema. É uma descoberta já feita pelo Batman há tempos e que será importante para os próximos passos da série. Afinal, já existem várias histórias de super-heróis, inclusive no próprio Arrowverse, com “mocinhos” e “bandidos” bem definidos. Mostrar que há uma área cinza entre tudo isso torna a produção mais interessante de assistir.
Seguindo essa linha, há um ponto do episódio que vale ser destacado. Quando está em uma missão de reconhecimento, a Batwoman é “paquerada” por um segurança do local. O homem fica espantado com a presença da heroína, que nunca se mostra totalmente, e faz diversos convites para jantar, sair com ele, etc. Claro, isso nem de longe é um problema para Kane, que não se importa com o que ele está dizendo e volta rapidamente para sua missão, mas a inserção de tal cena é interessante. Primeiro por ser algo novo em comparação com outras histórias protagonizadas por heroínas. É difícil ver tramas inspiradas em quadrinhos pontuando as diferenças sobre como homens e mulheres são tratados. No caso da Batwoman, fica muito claro que algo semelhante jamais aconteceria com o Batman. Apesar de ser tratada de modo ligeiramente cômico no episódio, a sequência pode abrir caminho para que tal tema apareça mais vezes.
“I'll Be Judge, I'll Be Jury” termina falando sobre perdão e retoma o drama envolvendo Alice, dessa vez focando mais na relação de Kate com seu pai, algo muito presente nas HQs e que merece destaque. De agora em diante, a série tem a oportunidade de corrigir o modo de agir da heroína diante da irmã e mostrar um embate maduro que valerá a pena ser visto. Se continuar esse caminho, Batwoman tem tudo para ser uma ótima adição ao Arrowverse, trazendo assuntos inéditos e renovação para o universo da DC na TV.