Supergirl/CW/Divulgação

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O que está acontecendo com Supergirl?

Série, que já foi uma das melhores do Arrowverse, sofre com queda de qualidade e queerbait entre personagens principais

05.03.2020, às 13H13.

Quando estreou em 2015, Supergirl era uma das grandes promessas para renovar e dar força ao Arrowverse. Carismática, Melissa Benoist entregou uma Garota de Aço forte e sensível ao mesmo tempo, algo que gerou identificação imediata com os fãs. A quarta temporada teve um salto de qualidade, especialmente ao comparar a situação de alienígenas com imigrantes em países desenvolvidos. Kara se intitulou como uma refugiada na Terra, o que trouxe discussões importantes e com um contexto muito maior. Infelizmente, toda essa qualidade se perdeu na atual quinta temporada, que não possui uma trama consistente e ainda está irritando os fãs com um queerbait já antigo entre as personagens principais.

Começando pela trama, os roteiristas não conseguiram estabelecer com sucesso que “a tecnologia” é o novo grande oponente da heroína. Após enfrentar seres poderosos e a opinião pública contra os alienígenas, soa quase cômico que o caminho para a quinta temporada tenha sido colocar Kara contra ameaças causadas pelo desenvolvimento tecnológico. Ter um vilão tão abstrato só fez o novo ano partir para outros caminhos, como a trama do Leviatã, ainda pouco explicada, e a presença de Lex Luthor. No caso deste último, a atuação de Jon Cryer está no ponto e sua união com a tecnologia poderia finalmente estabelecer um oponente à altura de Kara. Porém, até agora, o personagem aparece em momentos pontuais e em cenas secundárias, sem realmente ter o destaque que merece.

Essa falta de um oponente claro torna a 5ª temporada a mais desconjuntada de todas, que atira para todos os lados em busca de acertar em um tema que agrade aos fãs. E tal falta de planejamento é sentida também na vida amorosa de Kara. Desde a triste partida de Mon-El (Chris Wood), a personagem se estabeleceu bem sem a necessidade de um par romântico. Aliás, foi até interessante ver a Supergirl preocupada com outros assuntos que não o romance. Isso deu mais espaço para a personagem desenvolver outras áreas de sua vida, especialmente na já citada boa quarta temporada.

Mas o 5º ano trouxe à tona - e piorou bastante - um problema antigo de Supergirl: o queerbaiting entre Kara Danvers e Lena Luthor. O termo em inglês é usado quando alguma obra insinua uma relação LGBTQ+ entre dois personagens, atraindo este público para assistir ao programa, mas nunca torna a relação uma realidade. No caso de Supergirl, desde a segunda temporada os fãs perceberam que a amizade entre Kara e Lena tinha algo a mais. Uma olhada, uma pegada na mão, um elogio acalorado: por muito tempo, os episódios insinuaram que Kara e Lena poderiam ter sentimentos a mais, inclusive em suas montagens. No terceiro episódio da 5ª temporada, por exemplo, Alex está ao lado de sua namorada Kelly, e a cena corta repetidamente para Kara e Lena, mantendo a música romântica ao fundo. Já no capítulo oito, as personagens olham para uma foto juntas e sofrem com outra trilha sentimental. Tudo isso faz com que os fãs fiquem ainda mais furiosos por nada acontecer de fato entre as duas.

A gota d’água foi em “Back From The Future - Part One”, episódio exibido em 26 de janeiro que mostrou um interesse amoroso de Kara por William Dey, personagem de Starz Nair. Apagado na temporada, William nunca foi apresentado como um potencial par romântico. Ao contrário, por muito tempo Kara desconfiou de sua postura e tinha uma relação de conflito - e não aquele tipo de implicância com um interesse na segunda camada. Ao fazer isso, os produtores literalmente “empurraram” Kara para o homem solteiro mais próximo, forçando uma relação que não tinha nenhum precedente. Ou seja, além de não unir Kara e Lena, a série ainda fez questão de afastar as duas ao colocar um homem no meio.

E aqui é preciso pontuar algo extremamente importante: o seriado é obrigado a mostrar Kara e Lena como um casal? Claro que não. Mas se a intenção não é seguir tal caminho, é preciso ter a responsabilidade de não alimentar isso na cabeça dos fãs. Desde a segunda temporada os espectadores apontam que há um clima nas cenas entre as duas. Por que isso não foi alterado? Olhando friamente, fica a impressão de que a série se aproveitou da percepção dos fãs e, ao invés de alterar a trama, os produtores embarcaram na ideia, sem nunca realizá-la de verdade.

E a Alex?

Isso gera ainda mais revolta porque Supergirl é uma série que teve uma trama LGBTQ+ importante em seu passado, mas deixou até isso de lado. O romance entre Alex Danvers (Chyler Leigh) e Maggie Sawyer (Floriana Lima) foi um dos mais bem construídos nas primeiras temporadas da série. As duas eram perfeitas juntas e ter esse tema também trouxe à tona outras discussões, como a necessidade de Alex em assumir sua sexualidade de todas as formas e se sentir confortável na própria pele.

Porém, depois de todo esse cuidado, o que Supergirl fez foi deixar a história de Alex de lado. Após sua separação de Maggie, a irmã da heroína teve outras relações, mas seu desejo de ser mãe foi totalmente deixado de lado na história. Afinal, se Alex perdeu o amor da sua vida por conta disso, porque ela não continuaria procurando formas de adotar uma criança? 

A 5ª temporada piorou ainda mais a situação, ao deixar a relação entre Alex e Kelly Olsen (Azie Tesfai) completamente de lado, especialmente nos episódios mais recentes. A irmã de Kara em si perdeu bastante espaço e sua vida amorosa, que poderia trazer novamente temas relevantes, simplesmente não é mais citada. Claro, ninguém está pedindo para a série parar toda a sua trama principal para “levantar uma bandeira”. A forma certa de fazer isso é colocar os relacionamentos de forma natural e como parte da vida dos personagens, exatamente como é feito em Batwoman

O caminho que Supergirl está tomando é, de fato, perigoso para o futuro. A série não tem mais o brilho de antes e parece tratar os fãs como se eles não fossem inteligentes o suficiente para perceber o que está acontecendo. No entanto, como foi mostrado em janeiro, o mesmo público que é rápido para abraçar um projeto, também não poupa críticas quando algo é feito sem responsabilidade. Supergirl tem o potencial de ser muito melhor do que isso.