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Banca de HQs | Os 5 melhores - e os 5 piores - retcons dos Novos 52 da DC

Evento completa 10 anos em 2021

Evento que zerou a numeração das principais revistas da DC Comics, os Novos 52 completa dez anos de lançamento em 2021. Cheia de retcons - mudança retroativa de cânone e histórias atrativas para novos leitores -, a nova linha editorial ajudou o selo por trás de Batman, Superman e Mulher-Maravilha a retomar a liderança de vendas de quadrinhos. Além disso, propriedades como Shazam!, Esquadrão Suicida e Aquaman recuperam o destaque que perderam nas décadas anteriores.

Por outro lado, esse “relançamento” do universo se tornou infame por causa da maneira como lidou com alguns personagens, contradizendo elementos básicos de suas personalidades ou até mesmo ignorando sua existência.

Para celebrar uma década dos Novos 52, relembramos cinco mudanças para melhor da linha e cinco que a DC fez bem em mudar na era do Renascimento - confira:

Deu bom - A apresentação da Corte das Corujas

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Ao assumir a revista principal do Batman, Scott Snyder tomou a ousada decisão de planejar um arco longo com um grupo de vilões inéditos neste universo. Ao invés de investir em mais uma história do herói contra inimigos clássicos como Coringa, Mulher-Gato ou Duas Caras, o escritor apresentou a Corte das Corujas, um grupo aristocrata que agia nas sombras de Gotham. Em uma trama cheia de mistérios e conspirações, a Corte se tornou querida pelos fãs quase de imediato.

Para a mitologia do Batman foi uma ótima adição também. Além de dar mais camadas à famosa criminalidade de Gotham, a Corte também tinha ligações diretas com o próprio herói - cujo “primeiro caso” foi uma investigação frustrada sobre o grupo -, e também em membros da bat-família como o Asa Noturna, que descobre ter ligações com o grupo sem saber.

Apesar de ter bagunçado um pouco a cronologia do Batman - que em teoria estava agindo há apenas 5 anos mesmo com uma bagagem extensa -, o arco da Corte das Corujas conquistou fãs novos e antigos, que mal podem esperar por seu retorno dentro das HQs e fora delas.

Deu ruim - A repaginada no Superman

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Aparentemente, destruir relacionamentos icônicos dos maiores super-heróis do mundo estava em alta há 15 anos. Não bastasse os fãs da Marvel terem protestado de maneira fulminante o arco Um Dia a Mais, em que Mefisto apaga o casamento de quase trinta anos entre Homem-Aranha e Mary Jane, a DC decidiu que seria uma ótima ideia fazer algo semelhante ao maior super-herói da história. Querendo rejuvenescer o Superman, a editora apagou os 60 anos de seu relacionamento com Lois Lane. Não bastasse desfazer o casal, o selo ainda tentou forçar um namoro entre o Homem de Aço e a Mulher-Maravilha, algo que desagradou muitos fãs.

Leitores antigos do Azulão também torceram o nariz para as mudanças de personalidade trazidas ao herói. Um dos maiores nomes da indústria, George Pérez não conseguiu evitar cair nas mesmas armadilhas de outros roteiristas que trabalharam com o personagem. Em sua tentativa de tornar Clark Kent mais comercializável, o lendário quadrinista usou truques batidos como deixá-lo imaturo, inconsequente e egoísta, influenciando diretamente o retrato depressivo que o herói ganharia nos cinemas em O Homem de Aço. Pérez também tirou o herói de sua família, matando Jonathan e Martha Kent, seus pais adotivos, consequentemente desligando-o de sua principal conexão com a Terra. A confusão no título principal do kryptoniano foi tanta, que nem mesmo o bom trabalho de Grant Morrison em Action Comics foi capaz de salvar o herói da fúria dos leitores.

Felizmente, Peter J. Tomasi reparou esses erros após o Renascimento DC, trazendo de volta o Superman escoteiro e pai de família que os leitores tanto amam.

Deu bom - o fim da piada com o Aquaman

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Faz um bom tempo que o Aquaman é alvo de piadas por ser um herói “inútil” fora d’água. Não que isso seja um consenso, já que os leitores estão acostumados com boas histórias. Mas fora do nicho, essa noção foi mudar mesmo com a fase de Geoff Johns à frente da revista do herói.

Com um início impressionante na história As Profundezas, essa fase assumiu claramente que o Aquaman não era o herói favorito de ninguém e trabalhou para consertar isso. Com tramas empolgantes tanto pela ação, quanto por apresentar a mitologia atlante com grande respeito, o quadrinho fez bonito ao dar grande importância a Arthur Curry.

Em parceria com grandes artistas como Ivan Reis e Paul Pelletier, Johns revitalizou o herói em arcos grandiosos, que inclusive serviram de base para o filme do Aquaman - o único do DCEU a ultrapassar US$ 1 bilhão nas bilheterias.

Deu ruim - O sumiço de Wally West, o terceiro (e melhor) Flash

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Embora a descaracterização de Clark seja praticamente imperdoável, o que a chefia da DC fez com Wally West, o Flash favorito de grande parte do fandom, foi completamente inexplicável. Em uma medida saudosista, os editores decidiram apagar o personagem do Universo DC, ignorando sua história de 52 anos para deixar Barry Allen como o “primeiro e único” Velocista Escarlate da linha editorial. A decisão de remover Wally revoltou tanto fãs dos gibis do herói, que assumiu o manto em Crise nas Infinitas Terras, de 1986, quanto das animações, já que West foi o Flash de Liga da Justiça e Liga da Justiça Sem Limites e um dos protagonistas de Justiça Jovem.

Diferente do que foi feito com os Lanternas Verdes, por exemplo, Wally foi deixado de lado ao longo dos sete anos de duração da linha, o que acabou saturando a imagem Barry - presente agora também séries da CW e confirmado em filmes do DCEU - e impedindo que o ex-Titã mantivesse a base de fãs necessária para uma reintrodução menos conturbada após o Renascimento.

A falta de visão dos Novos 52 ficou clara em diversos momentos, mas priorizar o Flash clássico, que há anos não aparecia de forma regular, e descartar o herói que carregou o manto por 25 anos foi um erro que a DC está até hoje tentando consertar.

Deu bom - Barbara Gordon de volta como Batgirl

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A escolha de devolver o manto de Batgirl a Barbara Gordon foi inicialmente recebida com desconfiança. Por um lado, uma das personagens mais queridas por gerações de leitores voltaria ao campo de batalha em sua própria revista. Por outro, fãs com deficiência física perdiam um dos principais ícones de representatividade PCD. Felizmente, a equipe criativa por trás do novo número soube lidar muito bem com a questão, equilibrando o trauma sofrido por Babs em Piada Mortal com toda a sua trajetória. Mesmo que tenha tomado algumas decisões controversas no caminho, o time de Batgirl reestabeleceu a personagem como uma das mais importantes aliadas do Batman e criou histórias sólidas que renovaram Barbara e seus amigos.

A fase da Batgirl nos Novos 52 também serviu para solidificar de vez a importância do público feminino para a indústria. Cada vez mais participativas em discussões sobre cultura pop, as mulheres passaram a ter mais voz no meio, com um engajamento cada vez maior desde a reestreia de Barbara no gibi.

Deu ruim - a apresentação da Liga da Justiça

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Para reapresentar a Liga da Justiça ao público, a DC Comics promoveu um encontro que no papel parecia perfeito: Geoff Johns, conhecido por um ótimo trabalho nos Jovens Titãs e Sociedade da Justiça, cuidaria dos roteiros, e o icônico artista Jim Lee ficaria responsável por desenhar o primeiro arco. Infelizmente o inesperado aconteceu e o primeiro arco da Liga nos Novos 52 ficou abaixo da enorme expectativa gerada por seus autores.

O quadrinho acompanha uma invasão de Darkseid e seus parademônios na Terra, o que leva a equipe a se reunir. Com uma trama simples, o quadrinho falha na caracterização dos personagens e em criar interações orgânicas entre eles. O Superman é quase um valentão, o Lanterna Verde é imprudente e exibido e o Batman milagrosamente parece ter a resposta para todos os problemas. Considerando que Flash, Mulher-Maravilha e Aquaman ficam apagados, é como se apenas o Ciborgue e sua nova origem tivessem justiça no arco.

Não que seja uma história completamente ruim, com alguns pontos altos e uma ação bastante satisfatória, mas passa longe do épico grandioso que prometia ser. Curiosamente essa, foi uma marca registrada das HQs da Liga nos Novos 52, que viveu entre altos magníficos - como Trono de Atlântida, Vilania Eterna e A Guerra de Darkseid - e baixos decepcionantes - como Guerra da Trindade e Vírus Amazo.

Deu bom - A explosão da Arlequina

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É famosa a história de como a Arlequina passou de uma personagem do desenho animado do Batman para um dos maiores fenômenos da cultura pop. Pouco após ser apresentada na TV, a palhaça chegou aos quadrinhos, onde gradualmente foi ganhando seu espaço até explodir de vez durante os Novos 52.

A personagem ganhou um novo uniforme, se juntou ao Esquadrão Suicida e, principalmente, ganhou uma nova vida ao se afastar do Coringa. Sem seu famoso relacionamento problemático com o vilão, ela passou a estrelar histórias focadas em comédia, que mostravam Harleen mais como uma heroína do que como uma vilã em si. Essa reformulação é resultado do trabalho de Amanda Conner e Jimmy Palmiotti, dupla que praticamente reinventou a heroína ao adicionar camadas que a tornavam independente e interessante por si só.

Nesse período a personagem explodiu também fora das HQs ao aparecer em games como a série Batman: Arkham, filmes como Esquadrão Suicida e Aves de Rapina, e até ganhar uma série animada solo. Em 2016, o icônico quadrinista e então co-publisher da editora, Jim Lee,chegou a afirmar que a Arlequina era o “quarto pilar da DC”, colocando-a no mesmo nível da trindade Batman, Superman e Mulher-Maravilha. E é justo dizer que muito dessa popularidade se deve às HQs da palhaça nos Novos 52.

Deu ruim - O tratamento com os Jovens Titãs

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Ao longo das décadas, os Jovens Titãs se mantiveram como uma das principais propriedades da DC. Além da elogiadíssima fase de Marv Wolfman e George Perez - quando ainda eram os Novos Titãs - à revista comandada por Geoff Johns nos anos 2000, o grupo adolescente fazia frente a alguns dos principais títulos da editora, além de rivalizar sem dificuldades a gibis similares da concorrente Marvel. O relançamento da HQ nos Novos 52, no entanto, quebrou a sequência de triunfos da equipe nas páginas.

Desconsiderando de maneira bizarra o legado criado por seus antecessores, o roteirista Scott Lobdel mudou características básicas dos personagens, transformando Mutano em um irritante adolescente vermelho e Bart Allen/Impulso/Kid Flash II em um criminoso do futuro. Heróis queridos como Conner Kent/Superboy e Cassie Sandsmark/Moça-Maravilha se tornaram desnecessariamente agressivos e trágicos e passaram a ser citados entre os motivos que levaram os fãs a abandonar a revista do grupo.

Não bastasse essas alterações drásticas em conceitos básicos, o quadrinista também fez com que os Titãs atuassem de maneira clandestina, retratando-os mais como vigilantes do que como heróis. Os designs inspirados nos piores conceitos dos anos 1990 também não ajudaram muito (quanto menos falarmos do traje da Ravena, melhor).

Deu bom - a conclusão da aclamada fase de Grant Morrison no Batman

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Quando a DC anunciou que iria reiniciar toda a sua linha editorial com Os Novos 52, muitos fãs se perguntaram como ficaria o Batman de Grant Morrison. Essa fase, que começou em 2006, caminhava para o final em Corporação Batman, que estava em publicação quando a editora decidiu recomeçar tudo do zero. A decisão foi fazer uma pequena exceção e deixar que Morrison concluísse seus planos conforme o planejado.

Dessa forma, as edições finais de Corporação Batman foram publicados em uma épica conclusão que fez jus aos mais de sete anos em que Morrison ficou à frente das revistas do Batman. Apresentando personagens cativantes, organizações secretas e chegando ao ponto de matar um membro da bat-família, essa história marcou um dos pontos altos de toda a cronologia do Homem-Morcego.

Apaixonada por toda a mitologia do herói até em seus aspectos mais bizarros, Corporação Batman é sem dúvidas um ponto alto dos Novos 52 - mesmo como uma espécie de “Gato de Schrödinger” editorial em que faz parte do reboot, ao mesmo tempo em que existe independente dele.

Deu ruim - a nova origem da Mulher-Maravilha

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A origem clássica da Mulher-Maravilha sempre foi parte importante de seu desenvolvimento: criada a partir de um molde de barro feito pela Rainha Hipólita, Diana ganhou vida após Zeus ouvir as lamentações da governante de Themyscira e suas súditas. Mesmo quando recontada por George Pérez e Jill Thompson, o nascimento da heroína sempre teve no amor de sua mãe o fator principal para sua criação, com o deus grego apenas dando sua benção. Ao assumir a revista da amazona nos Novos 52, Brian Azarello decidiu transformar Diana em uma semideusa, nascida da relação sexual entre Hipólita e Zeus.

Mesmo que essa nova origem aproxime a personagem de suas contrapartes mitológicas e seja mais condizente com as lendas da Grécia Antiga, a mudança fez muitos fãs da Mulher-Maravilha torcerem o nariz para a nova influência de Zeus. De uma edição para outra, o amor de Hipólita perdeu importância, com as ações de um homem tomando seu lugar. Ligar de forma direta o surgimento da heroína, cuja história sempre foi atrelada ao feminismo, às escapadas sexuais do governante do Olimpo potencializou as acusações de machismo feitas à DC, já criticada pela representação hipersexualizada de várias personagens e a baixíssima presença de roteiristas e artistas mulheres em suas publicações (à época, apenas 1% dos quadrinistas da casa eram mulheres). A transformação das amazonas em bárbaras saqueadoras e estupradoras também não ajudou muito.

Sobre a coluna:

Banca de HQs é um projeto do Omelete criado por Gabriel AvilaNicolaos Garófalo Load Comics, com o objetivo de falar mais sobre o universo dos quadrinhos, desde os grandes clássicos, passando por artistas independentes e novidades desse meio. Após uma primeira temporada na Twitch, o Banca segue no Omelete com entrevistas, reportagens e análises semanais de tudo o que faz parte do universo dos quadrinhos.