DC/Divulgação

HQ/Livros

Artigo

Como os Jovens Titãs mudaram os rumos da DC nas HQs

Fase histórica foi relançada recentemente pela Panini no Brasil

11.10.2018, às 18H04.
Atualizada em 07.12.2021, ÀS 17H13

Prestes a ganhar uma série de TV, os Jovens Titãs são uma das mais populares equipes de super-heróis dos quadrinhos. A ascensão do grupo ocorreu nos anos 80, quando um já consolidado Universo DC perdia feio em número de vendas para a concorrente Marvel. Foi quando Jenette Kahn, então presidente da editora, decidiu procurar jovens artistas dispostos a repaginar os títulos da DC. Marv Wolfman e George Perez assumiram Titãs, revista que já havia sido cancelada duas vezes, e redefiniram os rumos das HQs de super-heróis.

A Turma Titã, como ficou conhecida no Brasil, apareceu pela primeira vez em 1964 com uma premissa muito simples: a união dos ajudantes dos grandes super-heróis da DC Comics. O encontro de Robin, Kid Flash e Aqualad foi um sucesso entre o público infantil e ganhou uma nova aventura um ano depois com a entrada da Moça Maravilha no grupo. A partir de 1966, a turma ganhou seu próprio título, que devido às vendas fracas acabou cancelado, a primeira vez em 1973 e depois em 1978. Desde o primeiro contato com a Editora, Wolfman e Pérez escolheram trabalhar os Titãs não um time de heróis, mas uma família. Para marcar o começo de uma nova era, o título foi relançado com a numeração zerada e renomeado para The New Teen Titans, Novos Titãs no Brasil.

A dupla revolucionou a equipe desde o primeiro momento ao criar novos heróis que traziam sua própria mitologia. Ravena, uma misteriosa garota meio humana, meio demônio; Estelar, a princesa fugitiva de outro planeta e Ciborgue, um atleta que viu seu futuro promissor desaparecer de forma trágica, foram criados exclusivamente para essa equipe. Wolfman credita essa diversidade de personagens como um dos trunfos da revista. Graças a eles,  diferentes gêneros como terror, ópera espacial e sci-fi puderam ser visitados, ampliando o leque de histórias a contar. Além dos novos rostos, os heróis da casa também evoluíram sob a batuta da dupla, como o Robin, que aos poucos saía debaixo das asas do Batman até assumir a alcunha de Asa Noturna.

O cuidado ao compor os personagens estabeleceram uma nova ponte entre o público e o Universo DC, conhecido por tratar seus heróis como lendas. Entre demônios de outra dimensão e mercenários superpoderosos, as histórias focavam também na vida comum dos personagens e suas relações pessoais. Apesar das constantes comparações com os X-Men, Marv Wolfman cita o Quarteto Fantástico como inspiração para o vínculo entre a equipe. Falando diretamente com seu público-alvo, a revista tratava também de temas sociais em voga na década de 80, como o uso de drogas e o fanatismo religioso. Essa conexão com o leitor e sua época, ao mesmo tempo em que construía histórias repletas de ação, levou o título a vender quatro vezes mais do que qualquer outra revista da DC no período.

Para antagonizar um time tão fascinante, a dupla também tratou de criar vilões à altura. Desde o rei demônio Trigon ao terrível telepata Irmão Sangue, são inúmeros os inimigos que entraram no hall de ameaças que amamos odiar, com destaque para o Exterminador. Outro filho da dupla, Slade Wilson é um personagem tão icônico que rivaliza em popularidade com os próprios heróis. Com alta perícia em artes marciais, um arsenal que vai de rifles a espadas, e a garantia de sempre trazer altas doses de ação e suspense às histórias, é impossível separar o sucesso da revista do carisma do mercenário. Tanto que sua origem é uma dos pontos altos do clássico arco “O Contrato de Judas”, marco da era Wolfman/Perez nos Titãs que constantemente figura como uma das melhores histórias da DC de todos os tempos.

A sintonia na criação dos roteiros é reforçada por ambos, Wolfman sempre cita a importância de George Pérez como um co-criador, indo muito além do papel de artista. O sucesso dessa parceria rendeu aos dois o convite para escrever aquela que se tornaria a saga mais importante na história da DC, a Crise nas Infinitas Terras. Após concluir com sucesso a difícil tarefa de colocar ordem no então confuso Multiverso da editora, a trindade teve suas origens recontadas em versões atualizadas. Enquanto Batman estrelava “Ano Um” de Frank Miller e John Byrne iniciava sua fase no Superman com a minissérie “Homem de Aço”, Pérez assumiu o título da Mulher-Maravilha não só como artista, mas como roteirista também, o que só foi possível graças ao grande incentivo de Marv.

A colaboração que marcou os anos 80 e a forma de fazer quadrinhos de super-heróis foi republicada no Brasil pela Editora Panini na série Lendas do Universo DC, que resgata histórias icônicas da editora pelas mãos de grandes mestres. A fase de Pérez no comando de Mulher-Maravilha foi publicada na mesma coleção no ano passado.