Prestes a ganhar uma série de TV, os Jovens Titãs são uma das mais populares equipes de super-heróis dos quadrinhos. A ascensão do grupo ocorreu nos anos 80, quando um já consolidado Universo DC perdia feio em número de vendas para a concorrente Marvel. Foi quando Jenette Kahn, então presidente da editora, decidiu procurar jovens artistas dispostos a repaginar os títulos da DC. Marv Wolfman e George Perez assumiram Titãs, revista que já havia sido cancelada duas vezes, e redefiniram os rumos das HQs de super-heróis.
A Turma Titã, como ficou conhecida no Brasil, apareceu pela primeira vez em 1964 com uma premissa muito simples: a união dos ajudantes dos grandes super-heróis da DC Comics. O encontro de Robin, Kid Flash e Aqualad foi um sucesso entre o público infantil e ganhou uma nova aventura um ano depois com a entrada da Moça Maravilha no grupo. A partir de 1966, a turma ganhou seu próprio título, que devido às vendas fracas acabou cancelado, a primeira vez em 1973 e depois em 1978. Desde o primeiro contato com a Editora, Wolfman e Pérez escolheram trabalhar os Titãs não um time de heróis, mas uma família. Para marcar o começo de uma nova era, o título foi relançado com a numeração zerada e renomeado para The New Teen Titans, Novos Titãs no Brasil.
A dupla revolucionou a equipe desde o primeiro momento ao criar novos heróis que traziam sua própria mitologia. Ravena, uma misteriosa garota meio humana, meio demônio; Estelar, a princesa fugitiva de outro planeta e Ciborgue, um atleta que viu seu futuro promissor desaparecer de forma trágica, foram criados exclusivamente para essa equipe. Wolfman credita essa diversidade de personagens como um dos trunfos da revista. Graças a eles, diferentes gêneros como terror, ópera espacial e sci-fi puderam ser visitados, ampliando o leque de histórias a contar. Além dos novos rostos, os heróis da casa também evoluíram sob a batuta da dupla, como o Robin, que aos poucos saía debaixo das asas do Batman até assumir a alcunha de Asa Noturna.
O cuidado ao compor os personagens estabeleceram uma nova ponte entre o público e o Universo DC, conhecido por tratar seus heróis como lendas. Entre demônios de outra dimensão e mercenários superpoderosos, as histórias focavam também na vida comum dos personagens e suas relações pessoais. Apesar das constantes comparações com os X-Men, Marv Wolfman cita o Quarteto Fantástico como inspiração para o vínculo entre a equipe. Falando diretamente com seu público-alvo, a revista tratava também de temas sociais em voga na década de 80, como o uso de drogas e o fanatismo religioso. Essa conexão com o leitor e sua época, ao mesmo tempo em que construía histórias repletas de ação, levou o título a vender quatro vezes mais do que qualquer outra revista da DC no período.
Para antagonizar um time tão fascinante, a dupla também tratou de criar vilões à altura. Desde o rei demônio Trigon ao terrível telepata Irmão Sangue, são inúmeros os inimigos que entraram no hall de ameaças que amamos odiar, com destaque para o Exterminador. Outro filho da dupla, Slade Wilson é um personagem tão icônico que rivaliza em popularidade com os próprios heróis. Com alta perícia em artes marciais, um arsenal que vai de rifles a espadas, e a garantia de sempre trazer altas doses de ação e suspense às histórias, é impossível separar o sucesso da revista do carisma do mercenário. Tanto que sua origem é uma dos pontos altos do clássico arco “O Contrato de Judas”, marco da era Wolfman/Perez nos Titãs que constantemente figura como uma das melhores histórias da DC de todos os tempos.
A sintonia na criação dos roteiros é reforçada por ambos, Wolfman sempre cita a importância de George Pérez como um co-criador, indo muito além do papel de artista. O sucesso dessa parceria rendeu aos dois o convite para escrever aquela que se tornaria a saga mais importante na história da DC, a Crise nas Infinitas Terras. Após concluir com sucesso a difícil tarefa de colocar ordem no então confuso Multiverso da editora, a trindade teve suas origens recontadas em versões atualizadas. Enquanto Batman estrelava “Ano Um” de Frank Miller e John Byrne iniciava sua fase no Superman com a minissérie “Homem de Aço”, Pérez assumiu o título da Mulher-Maravilha não só como artista, mas como roteirista também, o que só foi possível graças ao grande incentivo de Marv.
A colaboração que marcou os anos 80 e a forma de fazer quadrinhos de super-heróis foi republicada no Brasil pela Editora Panini na série Lendas do Universo DC, que resgata histórias icônicas da editora pelas mãos de grandes mestres. A fase de Pérez no comando de Mulher-Maravilha foi publicada na mesma coleção no ano passado.