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Batgirl - 50 Anos | A trajetória da maior heroína teen da DC

Resistente ao tempo e às pancadas, Barbara Gordon faz aniversário

16.01.2017, às 17H33.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H54

Barbara Gordon, a mais famosa das Batgirls, estreou nos quadrinhos em Detective Comics #359, de janeiro de 1967. A capa era para causar: "A Estreia Milionária da Batgirl!". Nestes 50 anos, a durabilidade da personagem provavelmente garantiu alguns milhões de dólares à DC Comics; das apostas da editora com a Bat-família, Barbara Gordon talvez seja a que mais deu certo depois de Robin, e hoje entende-se que ela é a heroína teen mais popular da casa.

Mesmo aleijada - em uma das HQs mais debatidas da história dos super-heróis, A Piada Mortal - a filho do Comissário Gordon seguiu na ativa graças à força dos fãs. Dos quadrinhos para a TV, para o cinema e para os games, Batgirl também é símbolo do girl power desde sua concepção e costuma ter sucesso quando segue esta linha do seu DNA. Confira um pouco desta trajetória abaixo:

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OS 50 ANOS DE BATGIRL

Há 66 anos

Antes de Barbara Gordon, tivemos Kathy Kane, a Bat-Girl (com hífen). Sobrinha de Kathy Kane, a Batwoman (criação dos anos 50), a adolescente resolveu combater o crime após descobrir a identidade secreta da tia. Acabou virando pretendente do Robin. A personagem durou pouco: em 1964, o editor Julius Schwartz resolveu apagar grande parte da Batfamília para que as histórias do Batman parassem de cair na comédia. Mal sabia o que estava para acontecer com o mito de Batman...

Batmania

O que aconteceu foi Batman, a série de TV que estreou em 1966. Embora com interpretações sérias e roteiros sérios - às vezes baseados em HQs igualmente sérias -, a maioria da portentosa audiência assistia ao seriado se não para rir. A Batmania irônica foi febre na época e, tal como febre, passou rápido. Depois de duas temporadas e quase 100 episódios, a audiência que ria e a que não ria começou a ir embora. O produtor William Dozier (1908-1991) achou que faltavam personagens femininas...

Encomenda

William Dozier procurou Julius Schwartz, o Bat-editor na DC, para tentar impulsionar a audiência da série de TV. O papo foi mais ou menos o seguinte: "Quem sabe uma Batmoça? Melhor ainda: que seja filha do Comissário Gordon!". Schwartz já tinha novas personagens femininas em mente, e incumbiu o desenhista Carmine Infantino (1925-2013) de concebê-la no papel. Os produtores de TV viram os esboços de Infantino e garfaram na hora para montar elenco e figurino. Batgirl estreou antes nas HQs - em janeiro de 67 -, mas em setembro do mesmo ano já estava na TV.

Yvonne Craig

Bailarina, motoqueira, 30 anos de idade, Yvonne Craig entrou como Batgirl em Batman, o seriado de TV, para salvar os homens. Tal como nas HQs, ela combatia o crime apesar de Batman ser contra - desafiando o morcegão, ela segue no combate ao crime até hoje. A moça-morcego esteve em todos os episódios daquele que seria, infelizmente, o terceiro e último ano da série. Símbolo do girl power na época do seriado (e nas décadas de reprises que se seguiram), Craig faleceu em 2015, aos 78 anos.

Bibliotecária feminista

Tanto nas HQs quanto no seriado de TV, Batgirl foi pensada como reflexo do movimento feminista dos anos 1960: solteira, doutora em biblioteconomia, combatente do crime independente, que desafia Batman e Robin. Batgirl (interpretada pela atriz Yvonne Craig do seriado) até estrelou um vídeo que defendia a igualdade salarial entre gêneros no início dos anos 1970 (assista aqui: https://www.youtube.com/watch?v=0e1wo8f8mT4). Na mesma época, nos quadrinhos, ela deixou a carreira de bibliotecária e concorreu a deputada federal.

Dupla romântica

Batgirl pode ter demorado para ter uma série com seu nome nos quadrinhos, mas teve histórias solo quase desde sua estreia. Primeiro ela ficou com a vaga de histórias secundárias na Bat-revista Detective Comics. Mais tarde, virou a figura principal da revista Batman Family. Foi nesta última que começou uma relação platônica com o Robin Dick Grayson - que já saiu e voltou ao platônico várias vezes. Entre rompimentos, reatadas e shippadas dos fãs, uma das relações amorosas mais complexas dos super-heróis já tem mais de 40 anos.

O primeiro reboot

No início dos anos 1980, a fã Barbara Kesel escreveu uma carta de 10 páginas ao editor-chefe da DC, Dick Giordano, reclamando de como a editora tratava as personagens femininas. Giordano contratou Kesel como roteirista e lhe passou as histórias de Batgirl. Kesel, que depois virou editora na DC, ficaria anos envolvido com a personagem. Ela inclusive reescreveu a origem de Barbara após Crise nas Infinitas Terras - ela é sobrinha e filha adotiva do Comissário Gordon, que a adotou após a morte do irmão dele.

Aposentadoria

A primeira revista com Batgirl no título? Batgirl Special, de 1988, 21 anos depois da criação da personagem. E, por ironia, uma edição inteira dedicada à decisão de Barbara Gordon de pendurar a capa e virar uma pessoa comum. A edição foi feita especificamente para os autores - Barbara Kesel e Barry Kitson - gerarem mais simpatia dos leitores pela personagem, preparando-os para a grande virada que Barbara passaria em seguida...

Piada?

Barbara Gordon conversa com o pai em seu apartamento, alguém toca a campainha e... é o Coringa - que lhe dá um tiro na barriga e a deixa paraplégica. É uma das cenas mais apavorantes de A Piada Mortal, clássica história de Alan Moore e Brian Bolland. O Coringa ainda tira fotos de Barbara baleada e nua, sugerindo até a possibilidade de estupro. A violência, o clichê e o fato de Barbara virar apenas uma alavanca da história - que envolve o rapto do Comissário Gordon, resolvido por Batman - são criticados até hoje por leitores. Nem o próprio Alan Moore gosta da HQ.

Oráculo

Entre os fãs que não gostaram de A Piada Mortal, John Ostrander e Kim Yale (1953-1997), o casal roteirista de Esquadrão Suicida, perguntaram se podiam adotar Barbara Gordon na sua série. A DC topou. A heroína paraplégica volta como Oráculo, uma hacker que consegue todo tipo de informação secreta que possa ajudar heróis - colaborando no combate ao crime direto de seu computador e de sua cadeira de rodas.

A série animada

Batgirl está presente em praticamente todos os desenhos animados de Batman desde fins dos anos 1960. Mas rouba a cena em Batman: A Série Animada e As Novas Aventuras do Batman, as duas produções que marcaram a Bat-família na TV nos anos 1990. Os produtores Bruce Timm e Paul Dini conseguiram captar tudo que a personagem tinha de girl power no seriado de TV sessentista e nos quadrinhos. A carreira animada de Barbara Gordon teve até uma versão futurista e grisalha como Comissária de Polícia de Gotham City em Batman do Futuro.

Aves de Rapina

Como Oráculo, Barbara Gordon passa a colaborar com várias equipes e heróis do Universo DC. A parceria com Canário Negro é uma das que dá mais certo, o que leva as duas a fundar as Aves de Rapina. A dupla acabou virando um grupo, que envolveu um grande número de heroínas e já tem 20 anos nos quadrinhos. Além disso, Aves de Rapina virou um seriado de TV de uma temporada só, produzido pela Warner em 2002.

No cinema

Batgirl chegou às telonas em 1997, no execrado filme Batman & Robin. Interpretada por Alicia Silverstone, recém-saída de Patricinhas de Beverly Hills, ela é mais lembrada pelos Bat-mamilos protuberantes no uniforme - nada sexista, pois os uniformes de Batman e Robin também eram mamilados - do que por qualquer outra coisa. Ah, e não é Barbara Gordon. No filme, ela é Barbara Wilson, sobrinha do mordomo Alfred.

Muitas Batmoças

Enquanto Barbara Gordon atuou como Oráculo, muitas Batgirls pularam por Gotham City e além. Helena Bertinelli, a Caçadora, assumiu a identidade por um breve período na saga "Terra de Ninguém". A complexa Cassandra Cain - muda, assassina de altíssima perícia, analfabeta - assumiu o nome logo depois, usando um uniforme que tapava completamente o corpo. Houve até uma Batgirl que assumiu a identidade para homenagear Barbara Gordon, Chalotte Gage-Radcliffe, uma adolescente com superpoderes que posteriormente viraria a Marginal em Aves de Rapina.

As primeiras séries

Batgirl só ganhou série mensal em 2000. E não era com Barbara Gordon, mas sim Cassandra Cain, a pequena assassina asiática que não fala. Para surpresa até da DC Comics, a revista durou mais de 70 edições. Em 2009, o segundo volume de Batgirl estreou com a quarta heroína a assumir a alcunha: Stephanie Brown, que anteriormente atendia por Salteadora (e namorada de um dos Robins). A série com Brown foi interrompida pelos Novos 52, mas deixou muitos fãs fazendo petições para ela voltar.

Batgirl vermelha

No início dos anos 2000, Alex Ross e Paul Dini apresentaram uma proposta à DC para revitalizar Barbara Gordon como Batgirl: ela entraria em um Poço de Lázaro, voltaria a andar e reassumiria a Bat-identidade com um uniforme em detalhes vermelhos. Denny O'Neil, bat-editor da época, derrubou a ideia porque, segundo ele, Barbara fazia mais sucesso como Oráculo - e não era nada mal a DC ter uma heroína cadeirante. Os esboços de Ross acabaram virando a nova Batwoman. Mas a ideia da heroína cadeirante como ponto positivo não durou...

Os Novos 52

Batgirl entrou no rol das 52 novas séries que a DC lançou em 2011. E Dan DiDio, um dos editores-chefe, resolveu que Barbara Gordon era a personagem mais identificada com o título. Coube à roteirista Gail Simone inventar uma cirurgia experimental que restituiu a espinha da personagem e fazer ela voltar à ação - embora carregasse traumas com armas de fogo e com a paralisia passada.

Hipster

A série com Barbara Gordon nos Novos 52 teve recepção morna dos leitores. Até que, com quase dois anos de publicação, ela foi totalmente remodelada pelo trio Brenden Fletcher, Cameron Stewart e Babs Tarr. Rejuvenescida e com uniforme remodelado, Barbara Gordon vai morar num bairro hipster de Gotham City, Burnside, e interage com um público jovem em histórias que envolvem mídias sociais, roupas descoladas e ativismo universitário. O sucesso desse período - embora curto - fez a DC repensar muitas de suas HQs na época.

#Changethecover

No meio da nova fase hipster, uma capa alternativa provocou polêmica: Batgirl com cara de pavor ao lado do Coringa, em referência ao momento mais macabro de A Piada Mortal. Fãs e autores se manifestaram contra a capa, reclamando que ela ia contra a fase contemporânea da personagem e que ressuscitava uma história controversa. No fim, foi o autor da arte, o desenhista brasileiro Rafael Albuquerque, quem pediu que a arte (que originalmente era mais leve e ficara mais violenta e dramática a pedido da DC) não fosse utilizada.

Nos games

Batgirl esteve presente em vários Batgames lançados nos últimos 15 anos - mas geralmente como coadjuvante. Embora ainda não tenha ganhado um jogo só seu, ela chegou bastante perto em 2015 com Batgirl: A Matter of Family, DLC do jogo Batman: Arkham Knight. No pacote, que tem sua própria história (prelúdio ao jogo principal) e próprias missões, o jogador encarna Barbara Gordon em uma trama que lembra A Piada Mortal - o Comissário Gordon é raptado por Coringa (e Arlequina), mas desta vez é a filha que vai salvá-lo.

A piada polêmica

A adaptação de A Piada Mortal para longa-metragem animado chegou com uma surpresa inesperada: um longo prólogo focado na última aventura de Barbara Gordon como Batgirl... cujo clímax mostra ela e Batman transando em um telhado de Gotham City. Pelo teor da cena e pelo desvio de tudo que já se viu nas HQs, o longa-metragem gerou mais polêmica no ano passado, embora o prólogo desse mais peso para tudo o que acontece com Barbara em seguida no encontro com o Coringa.

A série atual

Em mais uma reformulação de sua linha, a DC Comics lançou uma nova série de Batgirl no segundo semestre de 2016. Sob o comando de Hope Larson e do brasileiro Rafael Albuquerque, a nova revista tenta seguir o tom da Batgirl hipster. O primeiro arco, recém-concluído, envolveu uma viagem pela Ásia. Ao mesmo tempo, Barbara voltou a ser integrante das Aves de Rapina, numa nova série da equipe feminina, intitulada Batgirl and the Birds of Prey.

Bat-boca suja

Como todo personagem DC, Batgirl e Barbara Gordon tiveram várias versões alternativas. A mais famosa - por motivos espúrios - provavelmente seja a da série Grandes Astros: Batman. Na edição 10, a versão teen de Barbara distribui sopapos e palavrões pelas ruas de Gotham City. Por um problema de impressão, a HQ acabou saindo com os palavrões à mostra e teve um recall da DC Comics (que a maioria das lojas não atendeu, criando um item de colecionador). Provavelmente será a única chance de você ver Barbara autointitulando-se "THE FUCKING BATGIRL".