As novidades nos quadrinhos norte-americanos.
BATMAN 655 / DETECTIVE COMICS 821
Sua reação lendo as primeiras páginas de Batman 655 é mais ou menos assim:
Hein?
O quê?
Mas...
Como? O quê?
Não! Não pode! Impossível!
NÃO!
O QUÊ????
É uma bomba. É um chute nos bagos. É uma montanha russa. É Grant Morrison pegando o desfibrilador e aplicando o choque nos bat-fãs para ver se eles acordam dos anos de bat-histórias chatas e sem sal. As primeiras SEIS páginas mostram o Comissário Gordon envenenado, Coringa matando Batman e Batman matando Coringa - com um revólver. E não, a sétima página não mostra Bruce Wayne acordando de um pesadelo, nem qualquer outro recurso clichê.
O que você tem depois é uma bat-história que lembra um pouco da inocência do anos 50 e 60, mas com roupagem moderna. Há um encadeamento forçado - a viagem inesperada, o encontro fortuito com um inimigo, os cenários magnânimos -, típico das histórias antigas, mas a narrativa e os desenhos de Kubert são certamente contemporâneos. Fãs mais conspiratórios já andam espalhando que a edição é uma brincadeira de Morrison, carregada na metalinguagem para lançar sua bat-carreira com uma bomba.
Na nova Detective Comics de Paul Dini, as coisas são parecidas. Há a estética pós-moderna das ilustrações de J.H. Williams III (que, infelizmente, não vai estar em todas as edições), enquanto o roteiro de Dini puxa para a inocência - e para o ângulo detetivesco do morcegão, desvendando casos enroladíssimos. Clássico, com um toque modernoso.
Propostas inesperadas e muito bem-vindas para Batman. Que continuem surpreendendo todos os meses.
DAREDEVIL 87
Ed Brubaker jogou alto com seu primeiro arco de histórias no Demolidor. Pegou um pouco daquele clima sombrio de Sleeper, deu um novo caráter bem interessante a Matt Murdock, usou o Rei do Crime, o Justiceiro e vários outros personagens, e ainda matou um deles - com 40 anos de história. Não é à toa que fãs e crítica caíram nos seus braços.
Brubaker realmente está no topo da sua habilidade como escritor, e a dupla Michael Lark e Steffano Gaudiano (bom lembrar também das cores especialíssimas de Frank DArmata) nos desenhos é excepcional. Mas ainda sinto falta daqueles roteiros velozes e brilhantes do Brian Bendis. Minha saudade não vai embora tão rápido.
FANTASTIC FOUR: FIRST FAMILY
Esta minissérie tem a mesma proposta que você deve ter conferido em Vingadores Anual 1 (a edição nacional que traz a minissérie Earths Mightiest Heroes): mostrar os bastidores das primeiras aventuras do Quarteto Fantástico. As histórias pausam justamente quando a ação - que você conhece dos clássicos - começa. É o mesmo escritor da mini dos Vingadores: Joe Casey.
Então, no primeiro número, a história abre segundos depois do Quarteto fazer seu juramento-de-equipe após a queda do foguete experimental. Eles são capturados pelo exército norte-americano e levados para uma instalação militar, onde ainda vão descobrir como seus poderes funcionam. Dias de cão.
Infelizmente, a mini descamba no final. Surge um vilão ameaça-do-mês na instalação militar, o Quarteto o derrota e pronto. Desaparece a proposta de bastidores, sem ação, concentrando-se no impacto pessoal das primeiras aventuras do grupo como super-heróis. E era uma proposta muito boa - ainda mais com os desenhos expressivos de Chris Weston. Pena que se perdeu.
HELLBLAZER 222
Denise Mina é uma escritora escocesa muita elogiada, no Reino Unido e nos EUA, por seus romances policiais. Esperava-se, e ainda espera-se, muito de suas histórias em Hellblazer. Suas primeiras edições, porém, não fazem nada pela série.
O problema com Hellblazer é que John Constantine não progride. Nos últimos anos, Brian Azzarello e Mike Carey foram os principais responsáveis por adicionar fatos importantes, pontos de virada à vida do mago inglês. Mas toda vez que entra um novo escritor, Constantine volta ao modo default e vira investigador-do-sobrenatural-pronto-para-enfrentar-o-demônio/seita secreta/fantasma-do-mês. E ele já tem trocentas dessas histórias.
Mina escreve uma história que só deixa o gosto de mais uma.... Com todo seu currículo, poderia ter dado rumo a uma série que se perdeu há bastante tempo.
THE ESCAPISTS 1 (de 6)
O texto das primeiras páginas desta minissérie é o destaque. Confira um pedaço:
Superman e eu temos a mesma cidade natal.
Esta é a cidade onde dois adolescentes judeus chamados Jerry Siegel e Joe Shuster criaram o Homem de Aço.
Esta é a cidade onde Robert Crumb desenvolveu seu estilo e Harvey Pekar ajudou a mudar a cara dos quadrinhos underground.
Esta é a cidade que deu a luz a Bendis, Azzarello, a dúzias de cartunistas e desenhistas das tiras que enchem nossos jornais.
Não tenho idéia do que torna Cleveland uma cidade de HQs... Mas também não sei por que somos a capital mundial do rock and roll.
Talvez seja só uma questão geográfica que gera tantos artistas seqüenciais. Nova York tem as palavras, Los Angeles tem as imagens, e pegamos um pouco da descarga psíquica quando os aviões passam sobre nós.
Tal abertura só reforça que Brian K. Vaughan (Fugitivos, Y - O Último Homem, Ex Machina) é o escritor mais talentoso e mais esforçado da nova geração. A mini é sua contribuição para a série de quadrinhos da Dark Horse baseada no personagem Escapista, do romance de Michael Chabon As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay. A regra é situar o Escapista como um personagem que atravessou todos os períodos da história dos quadrinhos, respeitando estilos, narrativa e outras características de época.
Vaughan nos coloca no mundo real: um geek recebe uma fortuna inesperada e decide ressuscitar a carreira editorial de seu herói predileto. Compra os direitos sobre o Escapista e lança sua própria editora de quadrinhos. Para promover o lançamento, uma estratégia inusitada: o Escapista vai realmente combater o crime nas ruas de Cleveland.
A minissérie, com desenhos de Philip Bond e contribuições de outros artistas (tem uma ótima cena em que Vaughan e Eduardo Barreto roubam um recurso de Chris Ware...), promete muito. Vaughan está se tornando um criador essencial.