Filmes

Entrevista

Omelete entrevista: Michael Caine

Ator inglês falou ao Omelete sobre seu trabalho em Batman Begins

18.10.2005, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H32

Batman Begins
Batman Begins
EUA, 2005
Aventura - 134 min

Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan e David S. Goyer

Elenco: Christian Bale, Michael Caine, Liam Neeson, Morgan Freeman, Gary Oldman, Ken Watanabe, Katie Holmes, Cillian Murphy, Tom Wilkinson, Rutger Hauer, Sara Stewart, Linus Roache, Richard Brake, Gus Lewis, Emma Lockhart, Colin McFarlane, Barry Dowden, Larry Holden, Lucy Russell, Christina Adams



Eram umas seis e pouco da manhã e eu, logicamente, estava dormindo quando o telefone tocou. Meio tropeçando nas coisas consegui chegar até o telefone e um cara me disse que a entrevista com Sir Michael Caine estava para começar. Mas me falaram que seria só às duas da tarde, justifiquei para o telefonista, que não tinha nada a ver com a história e, claro, não entendeu porque eu estava falando isso para ele. Enfim, ainda não descobri muito bem como tudo isso aconteceu. Foi tudo muito rápido e antes mesmo de poder afirmar que eu estava acordado, já estava conversando com o Alfred Pennyworth, digo Sir Michael Caine. Veja como foi:

No filme, Alfred é mais do que um simples mordomo. Que elementos foram usados para construir o personagem?

Eu comecei com a história por trás do personagem. Eu queria fazê-lo bem diferente do que fez Michael [Gough - ator dos quatro filmes das décadas de 80 e 90]. Ele é um ótimo ator e meu amigo pessoal e optou pelo mordomo tradicional. Eu quis fazer uma pessoa que é bem durona, meio diferente e escolhi como modelo um sargento das Forças Especiais do Exército da Inglaterra. Na minha mente, eu criei este personagem que se machucou e não podia mais lutar, então ficou cuidando das outras pessoas, até que o pai do Bruce Wayne o convidou para ser seu mordomo, mas de uma forma bem diferente do mordomo normal. Tanto é que quando os pais de Bruce são mortos, Alfred se torna uma espécie de guardião legal do menino.

Você tem um mordomo como o Alfred?

Não. Mas eu adoraria, porque acho Alfred um ótimo mordomo. O que eu tenho é um caseiro, que não tem nada de mordomo. Ele não veste uniforme, nem nada dessas coisas.

Como foi fazer este filme ao lado de um elenco tão estrelado?

Foi muito fácil! É uma questão de ter muito cuidado na hora de escolher com quem você está se metendo. Se você sabe que tal pessoa tem um temperamento difícil, pra que entrar nessa? Eu não preciso trabalhar. Só pego os papéis que realmente me atraem. Então, eu sabia muito bem onde estava me metendo e admirava muito o trabalho do Christopher Nolan, o diretor.

Parece que neste filme você pegou as melhores falas, as melhores roupas, tirando claro a armadura do Batman. Você teve alguma liberdade com o seu texto? Porque o humor ali parece que é bem, como posso dizer, parece que é você mesmo.

Aquelas coisas estavam todas escritas no roteiro, mas daí entra a forma como o ator as interpreta, não? Mais importante do que a própria piada é a forma como você a conta (risos). Eu fiz o que o texto pedia e segui as ordens do diretor, mas eu tinha criado aquele personagem na minha cabeça. Além do mais, o personagem tem aquele sotaque cockney [típico da região leste de Londres, mais pobre], então há muita semelhança aí, pois eu sou cockney. Mas o estilo de humor e o timing eram meus.

Você acha que Christopher Nolan pegou como base alguns de seus filmes antigos quando estava escrendo o roteiro?

Eu não acho que ele escreveu o roteiro pensando em mim. No teste de elenco, ele me deixou livre, nunca me corrigiu. Ele gostou do que eu fiz. E acho que mais gente gostou, porque eles querem que eu faça o segundo filme. (risos)

O que você pode nos adiantar sobre Batman 2?

Eu não sei nada! Mas depois daquele fim em Batman Begins, acho que teremos o Coringa no próximo filme.

Acho que vamos filmá-lo no ano que vem, porque eu ouvi este boato. Mas Christopher Nolan vai rodar antes um filme chamado The Prestige, então acho que dificilmente algo acontecerá nos primeiros seis meses de 2006, porque até lá Christian estará ocupado com este projeto, que fala do homicídio de dois mágicos interpretados por Christian Bale e Hugh Jackman. E eu farei o cara que faz uns truques.

Mas o seu contrato é para o segundo e um terceiro filme ou apenas para o próximo?

Eu vou fazer quantos eles quiserem. Eu adoro aquele personagem, me divirto muito com ele.

O Cavaleiro das Trevas representou parte da sua infância, da sua adolescência?

Quando eu era pequeno não havia quadrinhos. Eu cresci na época da Guerra, quando não havia papel e, por isso, nada de gibis. Meu primeiro contato com o Batman foi na televisão e achei aquilo muito divertido. Eu vi todos os filmes do Adam [West] e adorei. Achava aquilo o máximo! Quando eles me chamaram para fazer este filme, eu não tinha experiência alguma nestes blockbusters e adorei. Mal posso esperar o momento para fazer mais um.

Com o DVD, muitos filmes ganham uma nova vida ao serem relançados. Quais filmes seus você gostaria que tivessem esta chance?

Acho que A morte do vale (The last valley, 1970) foi um filme bastante subestimado.

Te surpreende que filmes como Um golpe à italiana (1969), Alfie (1966) e O implacável (1971) ainda sejam filmes tão bem vistos?

Mas isso é por causa da televisão, não é? Eu me encontro com pessoas que vêm falar comigo sobre estes filmes e eles não eram nem nascidos naquela época. Meu filme favorito é Casablanca e se não fosse pela televisão e pelo DVD eu não conseguiria vê-lo de novo e de novo. Outros de meus filmes favoritos são O terceiro homem (1949) e Sindicato dos ladrões (1954), que também são ótimos e você só vê na TV.

Há nestes filmes que você fez muito estilo e todo o ar mais elegante que você empresta a estes longas. Quando está filmando, existe um momento em que você percebe que está participando de algo especial?

Não. É algo completamente inconsciente. Como ator, você sempre tenta atuar da melhor forma possível. Eu sempre preferi deixar este ar mais cool para os personagens do que para mim mesmo. Eu nunca fui uma pessoa estereotipada, mas o que é cool sempre foi associado a mim. É porque eu nunca fiz nada extravagente porque os filmes para mim nunca foram como o teatro. Os filmes eram eram a vida real, então você tem de ser uma pessoa real.

Quem são seus astros favoritos?

Eu diria Humphrey Bogart. É uma pena que hoje não se use mais chapéus como naquela época. O máximo que eu uso, por exemplo, é um boné quando saio na rua e quero esconder meu rosto.

O Batman é um ícone entre os super-heróis. Mas quando você o compara com o Homem-Aranha, Super-Homem, por exemplo, ele é o mais frágil e o mais humano. Christopher Nolan foi muito feliz na sua interpretação do mito. Você concorda com este ponto de vista?

Concordo em gênero, número e grau. Este foi um dos motivos que me levaram a aceitar o projeto. Eu acho que o Batman feito por Nolan é fantástico. Ele incorporou todos os problemas do Bruce desde o assassinato dos pais de Bruce até o lado psicológico que o levou a escolher o morcego para imprimir um medo que na verdade era dele. Eu disse isso a todo mundo e repito: acho que esta foi uma visão muito inteligente a uma história que poderia ser voltada às crianças, por exemplo. Eu acho que este Batman foi o melhor Batman porque foi o mais realista e o mais lógico.

Você atuou ao lado de Nicolas Cage em The weather man e todos sabemos que ele é um grande fã de HQs. Ele ficava te perguntando coisas sobre o Batman, os sets, as filmagens?

Eu não sabia que ele era um fã de HQs. Ele nunca me perguntou nada sobre isso. Acho que é porque estava muito frio lá em Chicago. (risos)

E como foram as filmagens de Weather Man?

Foi ótimo! Eu adoro Nic [Cage] e adoro Gore [Verbinsky, o diretor], e é um ótimo roteiro. Fiquei muito feliz quando o recebi. Eu não trabalhava há um ano quando me mandaram este script. Sabe, eu me considero meio que aposentado, até que recebo roteiros que me fazem voltar a trabalhar. Foi o caso de A feiticeira, Batman e Weather man, que eu fiz praticamente um em seguida do outro. O mais curioso é que Weather man foi justamente o primeiro a ser filmado e o último a ser lançado.

O que você acha de incluir no DVD erros de gravação, como os que mostram os atores esquecendo ou errando suas falas, por exemplo?

Para ser sincero, eu nunca assisto a nenhum dos extras dos DVDs. Eu não sei exatamente por que. Acho que é porque não quero saber como se faz a mágica. Eu gosto de ter em mente o filme como ele é mostrado, não quero saber a história por trás dele. Se quero saber mais sobre um ator ou diretor, eu vou atrás da biografia deles para descobrir como eles são.

Sendo um inglês, como você está vendo o atual English team, que acabou de se classificar para a Copa do Mundo? Você acha que eles vão ter alguma chance contra o Brasil?

Acho que este time inglês será campeão do mundo. Escreve aí o que eu estou dizendo porque quando nós ganharmos a Copa você vai se lembrar dessas palavras.

Mas não seriam os brasileiros os favoritos?

Sim, os brasileiros são o time a ser vencido e nós vamos vencê-los!