Batman: Animated Series/Aves de Rapina/Warner Bros/Divulgação

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Artigo

Aves de Rapina | A emancipação de Arlequina do desenho para o cinema

Sensação de independência da personagem nasceu, originalmente, com Hera Venenosa

06.02.2020, às 12H03.

Quando a Arlequina de Margot Robbie roubou a cena em Esquadrão Suicida, a necessidade de um filme centrado nela se tornou imediata. Mas entre os - vários - problemas do filme de David Ayer, uma questão fundamental da origem da personagem precisava ser tratada de modo mais delicado: o passado problemático de abuso. A solução que a Warner encontrou parece ter sido certeira: colocar Arlequina no meio de Aves de Rapina, uma equipe de mulheres de diferentes facetas que se unem, apesar das diferenças, em um objetivo comum. Como ficou mais do que claro nas cenas reveladas durante a CCXP19, no novo longa, o propósito da vez é emancipação. 

Fãs dos quadrinhos não demoraram para observar que Arlequina nunca fez parte da equipe feminina, e estranhar a decisão do estúdio de não ter desenvolvido o longa de Sereias de Gotham City, equipe composta pelas vilãs da cidade do Batman, entre elas Arlequina, Mulher-Gato e Hera Venenosa. Mas o movimento parece ter sido tanto uma decisão de afastar Arlequina do lado maligno de Gotham - pelo menos por ora -, como uma questão de planejamento do universo da DC, já que Mulher-Gato está confirmada em The Batman, filme que pode dar seus primeiros passos no desenvolvimento da equipe de Sereias. Mas a construção do novo universo de Gotham a passos lentos acabou afastando Arlequina de uma das figuras centrais por trás da sua emancipação do Coringa: a Hera Venenosa. 

Em Batman: A Série Animada, Arlequina inicia um movimento de questionamento de sua relação com o Coringa apenas com a ajuda da botânica, no episódio “Harley & Ivy”, que traz algumas semelhanças com o filme de Cathy Yan. De imediato, o capítulo traz uma cena claramente referenciada nas cenas exclusivas mostradas no painel da CCXP: Arlequina sendo jogada para fora do lar do Coringa, por um de seus capangas, e caindo na sarjeta. Mais tarde, quando está em um museu roubando um diamante, Arlequina conhece Hera de um modo muito semelhante ao que conhece a Canário Negro no filme. “Ei, você não é aquela moça das plantas?”, pergunta a Arlequina do desenho, fala que se assemelha a “ei, você não é aquela cantora que ninguém ouve?”, como a palhaça pergunta à Dinah Lane no trailer. 

A partir daí, Arlequina vive alternando momentos de empoderamento e dependência, tentando se libertar da prisão que Coringa representa. Hera passa o episódio inteiro ensinando a amiga a se tornar dona de si, algo que é certamente um desafio para a personagem. Ao fim do capítulo, Arlequina segue dependendo de seu algoz, mas uma evolução clara aconteceu. Ela aprendeu o poder da amizade feminina, algo que literalmente a deixou mais forte, já que Hera inclusive lhe injeta um antídoto de toxinas que aumenta sua força e estamina. 

Essa evolução da anti-heroína no Universo Estendido da DC acontece também em Aves de Rapina. Sem Hera Venenosa? Sim, mas com o auxílio de outras personagens femininas, como a própria Canário Negro e a Cassandra Cain. Enfrentando o Máscara Negra e seus capangas ao lado de pessoas que realmente a levam sério, Harley finalmente se vê livre da "função serventil" de uma arlequina e se descobre uma líder nata.

Apesar de se distanciar da criação da personagem da série animada, a decisão do estúdio parece coerente com tempos atuais, e para os que se animam mais com a possibilidade de um filme que una as vilãs de Gotham, nem tudo está perdido. Um dos símbolos da emancipação da Arlequina em Aves de Rapina foi a alteração das tatuagens que faziam referência ao seu pudinzinho. Neste movimento, o “J” (de Joker) que estampava seu ombro se tornou uma sereia. Seria esta uma dica dos próximos passos de Arlequina?

Aves de Rapina está em cartaz nos cinemas.

*Artigo publicado originalmente em dezembro de 2019