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PerifaCon na CCXP23: Explorando a filmografia de Zack Snyder

Uma Odisseia cósmica: Conheça o Presente, Passado e Futuro do Visionário

30.11.2023, às 12H42.
Atualizada em 30.11.2023, ÀS 14H41

Por Hyader Epaminondas (Portal PerifaCon)

Com uma base de fãs muito fiéis ao redor do mundo -e principalmente no Brasil- o diretor Zack Snyder é uma das principais atrações da CCXP23. Ele vem ao evento para divulgar sua mais nova produção, Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo, que chega à Netflix em 22 de dezembro, e terá esse encontro com seu exército de fãs. Com sucessos como 300, Watchmen e o Universo Estendido da DC (não por um acaso também conhecido como Snyderverse), vamos contar porque sua produção chama tanta atenção.

Como tudo começou

De Green Bay, Wisconsin, Zachary Edward Snyder iniciou sua trajetória no mundo do entretenimento trabalhando com efeitos visuais e na direção para comerciais de televisão. Seu primeiro grande sucesso chegou em 2004, com a refilmagem de Madrugada dos Mortos, uma reinterpretação do clássico de George A. Romero.

Zack Snyder é um diretor cuja visão artística singular tem se destacado cada vez mais, consolidando sua posição como uma figura icônica no cenário cinematográfico contemporâneo. Sua filmografia é marcante e resiste ao longo do tempo, não apenas por desafiar convenções, mas também por apresentar uma diversidade de narrativas que apresentam estilos visuais distintos com enredos poderosos e cativantes.

Na construção de mundos, Snyder inclui detalhes significativos, porém sutis de modo minucioso para possíveis usos em filmes posteriores. Antes mesmo de iniciar a produção de um filme, o diretor já estabelece a direção por meio de painéis de referência e storyboards. Todos os detalhes são milimetricamente estudados e planejados na criação de universos únicos e repletos de camadas de significados.

A paixão de Snyder pela arte de contar histórias é evidente através da maneira como ele revisita suas próprias obras, oferecendo múltiplas versões e cortes que proporcionam perspectivas mais aprofundadas sobre suas obras. Essa prática revela não apenas seu compromisso com a excelência artística, mas também seu desejo contínuo de aperfeiçoar e aprimorar suas criações, proporcionando aos espectadores diferentes nuances e interpretações de suas histórias.

O diretor não se contenta em apenas seguir os padrões convencionais da indústria cinematográfica. Ele constantemente desafia as expectativas, apresentando elementos visuais ousados com narrativas complexas que exploram temas variados, desde super-heróis a dramas épicos. Sua busca pela inovação e experimentação o levou a incorporar novas técnicas e tecnologias, resultando em filmes que não apenas entretêm, mas também empurram os limites do que é possível no cinema. Um dos seus feitos mais notáveis foi a produção totalmente experimental de um curta-metragem em 2007, chamado Snow Steam Iron, utilizando apenas o seu iPhone.

Sua especialidade reside na exploração de narrativas interligadas, buscando suas ramificações e possibilidades sem limites, ao mesmo tempo em que demonstra um notável amor pelas mitologias e suas implicações na sociedade. Sua habilidade em se aventurar em temas complexos, frequentemente envolvidos por uma estética de fácil assimilação, desperta debates apaixonados entre aqueles que admiram sua coragem criativa e os críticos que levantam questionamentos sobre suas escolhas narrativas.

A interação frequente com os fãs através das redes sociais é um reflexo do comprometimento em estabelecer uma conexão direta com seu público, evidenciando sua dedicação que transcende os limites das câmeras. Essa interação não só fortalece o vínculo com seus fãs, mas também demonstra uma vontade genuína de envolver e compreender as perspectivas e opiniões do público, alimentando um diálogo contínuo e enriquecedor sobre suas obras e ideias.

Os primeiros passos de um visionário

O reconhecimento de Zack Snyder como visionário veio à tona em 2006 com o épico 300, onde ele deixou uma marca icônica no cenário cinematográfico mundial. Adaptado da renomada graphic novel de Frank Miller, o filme apresentou uma estética visual inovadora e cenas meticulosamente coreografadas, solidificando Snyder como um cineasta de abordagem distinta, capaz de desafiar as fronteiras da arte cinematográfica.

Mais do que um mero relato histórico, 300 se destaca por explorar temas profundos, oferecendo um olhar crítico sobre propaganda de guerra, subjetividade de narrativas e a bravura heróica. A obra revela a capacidade de Snyder em combinar elementos visuais arrojados com narrativas intensas, resultando em um filme que transcende o gênero, estimulando reflexões sobre a natureza da liderança e os limites da coragem diante da adversidade.

300 não apenas definiu o estilo único de Snyder, mas também o consagrou como um diretor capaz de provocar debates e reflexões através de suas criações. É possível analisar cada um de seus filmes utilizando temáticas da atualidade, toda questão da subjetividade da verdade pode ser dissertada usando o filme 300 como objeto de estudo.

Entre os filmes de sua notável filmografia, Watchmen emerge como um marco crucial em 2009. Baseado na lendária graphic novel de Alan Moore, o filme se destaca por sua fidelidade à fonte original, enquanto explora de forma provocativa temas como moralidade, poder e identidade em um cenário de guerra fria. A abordagem de Snyder proporciona uma narrativa visualmente impactante, estabelecendo novos padrões na adaptação de quadrinhos para o cinema e levando os espectadores a questionarem suas próprias concepções sobre o bem e o mal.

A sua estreia no mundo da animação com A Lenda dos Guardiões é uma obra singular na filmografia de Zack Snyder. Lançado em 2010, revela a versatilidade do diretor ao explorar uma narrativa voltada para um público mais jovem. Ambientado em um mundo de corujas, o filme adapta a série de livros de Kathryn Lasky, acompanhando a jornada de um jovem filhote chamado Soren, que busca a verdadeira coragem e a sabedoria para enfrentar as ameaças que assolam seu povo.

A produção parece tão atual quanto no dia do seu lançamento, devido à sua estética e qualidade visual impressionantes, mas também pela maneira como aborda temas de coragem, amizade e a jornada do herói, elementos que são habilmente entrelaçados na narrativa para cativar o público de todas as idades.

Em 2011, outro filme que dividiu opiniões na filmografia do diretor foi Sucker Punch, uma obra que se destaca pela sua complexidade narrativa. O longa mergulha em um mundo de fantasia, onde a realidade se entrelaça com sonhos e imaginação. Uma história densa, repleta de simbolismos e camadas de significado, que desafia as expectativas do público e conduz através à jornada de autodescoberta e empoderamento feminino. Apesar das opiniões divididas, o filme permanece como um exemplo da ousadia criativa de Snyder em explorar territórios narrativos pouco convencionais.

Zack Snyder entrou no Universo da DC Comics com O Homem de Aço em 2013, proporcionando uma visão revigorante e mais realista ao icônico Superman. Neste filme, o diretor reimaginou as origens do herói, mas mergulhou nas complexidades da jornada de um ser superpoderoso em um mundo humano, explorando sua luta interna entre dever e identidade enquanto colocava o protagonista na posição de um imigrante em busca de seu lugar no mundo. 

Nesta versão de Clark, ele confronta a sensação de ser diferente e deslocado, vivenciando o isolamento e a solidão típicos de muitos imigrantes ao se ajustarem a um novo ambiente. Sua busca por identidade e propósito para seus poderes reflete os desafios comuns enfrentados por imigrantes, que buscam equilibrar sua herança cultural com a necessidade de se adaptar a uma nova sociedade. Snyder utiliza essa abordagem para humanizar o personagem, mostrando que, apesar de seu imenso poder, ele também enfrenta incertezas, inseguranças e anseios por pertencimento, aspectos universais da experiência humana, especialmente para os imigrantes.

Em 2016 com Batman v Superman: A Origem da Justiça, Snyder ampliou essa exploração ao situar os dois super-heróis em um ambiente que evoca lembranças dos atentados terroristas do 11 de setembro através do evento fictício causado pelas consequências da invasão Kryptoniana no filme solo do Superman conhecido como evento “Black Zero”. O filme retrata o icônico confronto entre dois gigantes dos quadrinhos, mergulhando profundamente nos dilemas éticos e morais enfrentados pelos heróis, ao mesmo tempo em que aborda e disseca o tema das ramificações do discurso de ódio.

Ao utilizar essa referência à tragédia do 11 de setembro, Snyder não apenas proporciona uma atmosfera mais sombria e complexa à narrativa, mas também explora as questões sobre responsabilidade, poder e as consequências de ações que ecoam situações do mundo real. A forma como os personagens são afetados pela opinião pública, pelo medo e pela desconfiança mútua ressoa com debates contemporâneos sobre polarização, intolerância e o perigo do discurso de ódio na sociedade.

Essa abordagem desafia o público a refletir sobre as implicações éticas das ações dos heróis em um contexto carregado de significados históricos, sociais e políticos, ao mesmo tempo em que ilustra a relevância e os perigos de narrativas extremistas que podem levar ao discurso de ódio e à divisão.

Essa fase do universo DC fazia questionamentos sobre responsabilidade, o peso do poder e a verdadeira essência da identidade heroica, criando um terreno fértil para reflexões sobre o papel desses ícones na sociedade contemporânea. Esses filmes não apenas expandiram o universo cinematográfico da DC, como também elevaram a discussão em torno dos temas éticos e filosóficos que permeiam o mundo dos super-heróis.

A equação S

Apesar de seus protagonistas frequentemente serem representados como figuras poderosas e até mesmo destrutivas, é interessante observar como Snyder atribui uma relevância crucial aos papéis relacionados à maternidade em suas obras. Em sua filmografia, as mulheres são retratadas como figuras fortes, multifacetadas e determinadas, que desafiam estereótipos e assumem papéis de destaque.

A presença da figura materna nos filmes de Zack Snyder transcende a simples representação de uma mãe como um arquétipo convencional. Ele frequentemente utiliza esse elemento para explorar aspectos mais profundos da condição humana e dos relacionamentos. A maneira como ele retrata as mães em seus filmes muitas vezes reflete a força, a resiliência e a sabedoria desses personagens.

Em O Homem de Aço, Batman v Superman: A Origem da Justiça e Liga da Justiça de Zack Snyder, é nítido como a presença ou a ausência da figura materna tem um impacto significativo na jornada e no desenvolvimento dos protagonistas. Snyder utiliza essa dinâmica para humanizar seus personagens e explorar temas como sacrifício, redenção, e até mesmo a dualidade entre o bem e o mal.A forma como ele retrata os relacionamentos entre seus personagens em suas narrativas frequentemente proporciona uma profundidade emocional notável, adicionando várias camadas de complexidade às personalidades e às interações entre eles.

O lançamento de Liga da Justiça em 2017 marcou um ponto crucial na trajetória de Zack Snyder e na história do cinema. Snyder se viu obrigado a se afastar da produção devido a uma devastadora tragédia familiar: a perda de sua filha, Autumn. Esse acontecimento trágico levou à intervenção da Warner no filme, que trouxe o diretor Joss Whedon para finalizá-lo, resultando em uma versão amplamente considerada medíocre.

O filme, originalmente concebido e iniciado por Snyder, teve sua visão artística significativamente alterada durante o processo de pós-produção, resultando em mudanças substanciais que afetaram o tom, a coesão narrativa e o desenvolvimento dos personagens. As decisões do estúdio para adaptar o filme de acordo com uma visão diferente da original de Snyder levaram a críticas e descontentamento por parte dos fãs e da crítica especializada.

A versão lançada nos cinemas de Liga da Justiça se tornou um ponto de reflexão na compreensão da importância da visão autoral dos cineastas e do impacto das interferências do estúdio no corte final de suas produções. Esse momento desencadeou anos de intensas campanhas por parte dos fãs, que clamavam pelo Snyder Cut, a versão original do diretor. Esse movimento fervoroso culminou no lançamento tão aguardado em 2021, finalmente revelado como Zack Snyder's Justice League.

O lançamento do Snyder Cut não só honrou a visão original de Zack Snyder, mas também demonstrou o poder da mobilização dos fãs na indústria cinematográfica. Não foi apenas uma vitória para a visão artística do diretor, mas sim um exemplo marcante do impacto e da influência da cultura de fãs na transformação do destino de uma produção cinematográfica de grande escala. 

Uma das iniciativas mais marcantes foi seu envolvimento com a campanha de lançamento do Snyder Cut, na qual mobilizou seus fãs e a comunidade cinematográfica para arrecadar fundos destinados a uma fundação de prevenção ao suicídio. Aproveitando o lançamento da versão original de Liga da Justiça, Snyder converteu o evento em uma oportunidade para conscientizar e apoiar essa causa, estabelecendo um impacto significativo na luta contra o suicídio. O legado de Zack Snyder vai além de suas produções cinematográficas, refletindo um comprometimento genuíno em fazer a diferença na vida das pessoas através de sua influência, generosidade e campanhas humanitárias.

Zack Snyder transcende o papel de um simples realizador, ele se destaca como um cineasta dedicado a explorar as profundezas dos temas humanos, desde as complexidades da natureza humana até a ética e a responsabilidade individual. Sua filmografia é um campo de batalha para debates intensos, onde suas escolhas narrativas provocam admiração pela ousadia criativa, ao mesmo tempo em que suscitam questionamentos sobre suas abordagens. Se Consolidando não apenas como um contador de histórias, mas também como um provocador de reflexões profundas por meio de sua arte, deixando uma marca singular na indústria do entretenimento contemporâneo. Seus filmes são tão autoral que um simples clipe já revela sua marca distintiva.

Sob nova direção

Em 2021, já na Netflix, Snyder voltou a explorar as nuances do gênero zumbi com Army of the Dead: Invasão em Las Vegas. O filme mergulha em um mundo pós-apocalíptico infestado de zumbis, onde um grupo de mercenários se aventura em uma zona de quarentena em Las Vegas para realizar um audacioso assalto. Aqui, Snyder funde elementos de ação, ficção científica, terror e suspense, explorando as complexidades das relações humanas em meio ao caos.

A parceria de Zack Snyder com a Netflix gerou expectativa e entusiasmo. Essa aliança vem se mostrando um casamento promissor entre a visão autoral de Snyder e a vasta plataforma global de distribuição da Netflix, prometendo novas experiências cinematográficas e séries impactantes para o público. Entre os projetos que estão para sair no serviço de streaming está Army of the Dead: Lost Vegas, uma animação que servirá como prólogo para o filme Army of the Dead: Invasão em Las Vegas, e Twilight Of The Gods, uma animação inspirada na mitologia nórdica.

Zack Snyder consolidou sua chegada na Netflix com um projeto visionário: Rebel Moon, uma saga transmídia de ficção científica. Como diretor e coautor ao lado de Shay Hatten e Kurt Johnstad, ele encabeça essa épica jornada interconectada, desdobrando sua narrativa através de várias plataformas. A trama, originada da mente de Snyder e Johnstad, promete envolver o público em um universo singular e revolucionário.

Durante a campanha de divulgação de seu filme Rebel Moon, Zack Snyder realizou sua primeira visita ao Brasil. O início de sua conexão com o país remonta à campanha para o lançamento da versão de diretor de Liga da Justiça, impulsionada significativamente pelo comprometimento firme e convicto da equipe profissional do site SnyderCutBR.

Esse movimento no Brasil não apenas demonstrou o desejo de proporcionar aos fãs uma visão autêntica de sua obra, mas também evidenciou a paixão e o entusiasmo exclusivos da comunidade brasileira em relação ao seu trabalho. Em sua estreia em solo brasileiro, Snyder esteve acompanhado de sua esposa e produtora, Deborah Snyder, e da atriz protagonista de Rebel Moon, Sofia Boutella, durante o evento Tudum da Netflix em julho de 2023.

Este vínculo especial permanece sólido e inabalável, já que o país terá o privilégio de ser o primeiro a testemunhar o lançamento mundial de Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo em 01/12, por meio de uma exibição exclusiva durante a Comic Con Experience 23, na cidade de São Paulo

A transição da noite de quinta-feira para sexta-feira promete abalar intensamente as estruturas da São Paulo Expo, à medida que os entusiastas do evento se reúnem desde a madrugada de sexta-feira na formação de filas, ansiosos para competir fervorosamente por um lugar no prestigiado Palco Thunder by Claro tv+ para assistir o mais novo épico de Zack Snyder.

Rebel Moon terá seu primeiro capítulo exibido em cinemas selecionados a partir de 15/12 e estará disponível mundialmente no serviço de streaming da Netflix a partir de 22/12.

*A PerifaCon, primeira convenção nerd das favelas, foi criada com a intenção de democratizar a cultura nerd e geek. A intenção principal do evento é derrubar muros e construir pontes, podendo gerar oportunidades e acessibilidade para pessoas negras e periféricas.