Filmes

Artigo

Painel EW Visionaries, com Jon Favreau e Guillermo Del Toro | Comic-Con 2011

Diretores de Homem de Ferro e O Labirinto do Fauno discutem o cinema

22.07.2011, às 15H55.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Pelo terceiro ano consecutivo, a revista Entertainment Weekly reúne dois importantes cineastas para discutir processos criativos, a indústria cinematográfica e compartilhar a forma como trabalham. No primeiro ano tivemos Peter Jackson e James Cameron, ano passado foram Joss Whedon e J.J. Abrams. Na Comic-Con 2011, os convidados foram Guillermo Del Toro e Jon Favreau, que dispensam apresentações.

Favreau iniciou a conversa lembrando da amizade dos dois, que vem desde um jantar na casa de Frank Darabont. O mexicano, falastrão e comilão, lembrou que foi servido naquela noite um espaguete com almôndegas. Pausa para risadas, que ganharam mais gargalhadas quando Favreau disse que os dois gostam de andar juntos porque quando um está perto do outro eles não se sentem tão gordos assim.

Na rasgação de seda, Favreau elogiou muito o mexicano e disse que antes de começar a filmar Zathura exibiu A Espinho do Diabo de Del Toro para a sua equipe. Del Toro retribuiu dizendo que adorava a série Dinner of Five, o filme Swingers e a coragem de Favreau ao usar animação stop-motion em O Elfo.

O papo então se desenrolou para a coincidência dos dois estarem agora desenvolvendo projetos para a Disney. O diretor de Homem de Ferro está fazendo Magic Kingdom e o criador de O Labirinto do Fauno dando a sua visão da Casa Mal Assombrada (The Haunted Mansion). Depois de tecer elogios ao pioneirismo de Walt Disney, Favreau contou que quer usar várias técnicas diferentes em seu novo filme e ainda não sabe se vai filmar em 3D ou não. Tudo começará a ser definido nos próximos dias, assim que Cowboys & Aliens for lançado.

Sobre o seu filme, aliás, Favreau criticou a atual fúria e o descontrole das pessoas na Internet. "As pessoas amam ou odeiam Cowboys & Aliens. Tem aqueles que acham que vai ser maravilhoso e os que viram o trailer antes de Transformers 3 e acham inconcebível a ideia de mistrar cowboys e alienígenas dizendo coisas como 'Eles nunca conviveram juntos! Não pode fazer isso!'. O cara acha normal acreditar em alienígenas robôs que viram caminhões, mas não suporta a ideia de ver western e ficção científica juntos... OK!" Essa barreira o levou até a pensar em um título alternativo. Mas daí veio Harrison Ford e disse "Tá, e você vai chamar esse filme de quê?" Sábio Han Solo.

Favreau disse ainda que está nervoso com o que vai acontecer com o filme quando ele chegar aos cinemas. O sucesso ou fracasso nas bilheterias são o que mantém nomes como o dele e o de Del Toro em evidência e isso é algo imprevisível até para alguém que está anos no mercado, como Steven Spielberg, que uma vez disse para Favreau: "Um cineasta não sabe o que criou até que o público diz o que é aquilo".

Antes de partir para o próximo assunto, foi exibido no telão um clipe de Cowboys & Aliens que mostra a chegada de Daniel Craig ao vilarejo, baleado e sem memória. Não muito longe dali, Harrison Ford aparece "conversando" com um sujeito que tem seus braços e pernas amarrados a dois cavalos, cada um indo na direção contrária do outro, jurando que não havia sido o responsável por queimar as vacas de Ford, mas sim uma luz que veio do céu. Claro que o velho vaqueiro não acreditou. Na cidade, Ford diz que vai levar Craig dali, quando a cidade é atacada por uma nave, que é abatida pela arma presa no braço de Craig. Seguem cenas de ação com outras que mostram o desespero dos que moram por ali e tiveram seus familiares abduzidos pela "luz". O vídeo terminou com Craig andando por um túnel, indo ao encontro de alienígenas.

Favreau lembrou também da primeira vez que ele e Edgar Wright (Scott Pilgrim, Shaun of the Dead) foram conhecer a "Man Cave" de Del Toro, uma casa que ele mantém a alguns quarteirões de distância da sua residência só para guardar suas coisas, livros de arte, objetos de cena, pôsteres e tudo mais que você possa imaginar. Del Toro lembrou que ele tem um quarto que dá a impressão de que está chovendo o tempo todo, um outro todo decorado como a Mansão Mal Assombrada, que é o lugar onde ele gostaria de morar e por isso estava tão feliz de fazer o filme baseado no passeio da Disney. O mexicano gargalhou ao dizer que recentemente se divertiu muito quando ele pôde fazer uma visita à Disney às 5h da manhã para "brincar" por duas horas na Mansão Mal Assombrada com a desculpa de que estava trabalhando, fazendo pesquisa para o seu filme.

Falando sobre as técnicas de cinema, Favreau salientou que hoje em dia, com a computação gráfica, tem muita gente que ficou preguiçosa. Antes, quando isso não existia e você não podia usar bonecos, você usava a sugestão. É o caso clássico de Tubarão. Em vez de mostrar o peixão logo no começo, Sielberg usou a brilhante música de John Williams e a câmera subjetiva para criar o clima. Daí, quando você vê aquele boneco, que na época já era horrível (por isso Spielberg segura tanto antes de mostrá-lo), você se borra de medo. "O diretor tem que usar bonecos quando eles são a melhor coisa, ou usar a computação gráfica quando for a melhor decisão. Mas a arte de não usar nenhum dos dois e simplesmente sugerir é algo que está se perdendo. Guillermo é um mestre e me ajudou muito em Cowboys & Aliens, em uma cena que tinha o uso de bonecos", completou Favreau.

Del Toro também mostrou um trecho de sua mais nova produção, Don't be Afraid of the Dark. "O filme original foi uma das coisas mais amedrontadoras que eu vi na minha infância. Queria criar um conto de fadas sombrio", disse, repetindo muitas histórias contadas na Comic-Con do ano passado.

O mexicano então falou dos inúmeros projetos em que está envolvido. Disse ele que na verdade isso é consequência dessa época de notícias 24 horas por dia, em que algo muito inicial já é anunciado. "E tem também os filmes que as pessoas falam que eu estou fazendo, mas não é verdade, como Dr. Estranho", complementou. Sobre os demais projetos, ele disse que Pinóquio é muito difícil de financiar, assim como Nas Montanhas da Loucura, mas que ele continua empenhado e carrega na sua carteira uma imagem da Santa das Causas Perdidas. Del Toro disse também que "toda vez que começo um filme, eu sei que não é fácil financiar, mas tento fazer tudo duas vezes maior do que eu deveria".

Sobre Pacific Rim, o próximo filme que ele vai dirigir (todos esses outros projetos Del Toro só produz), o cineasta disse vai apresentar o elenco nesta sexta, mas adiantou que está se divertindo como nunca desenhando monstros gigantescos o dia inteiro e que o filme será, basicamente, sobre "algo gigantesco destruindo um monte de coisas". Favreau complementou dizendo que já viu algumas das artes conceituais e que é de explodir a cabeça de qualquer um.

Respondendo a uma pergunta do público, Del Toro disse que não se via como diretor de renome. "Eu não sei o que eu sou. Não sou independente, não faço cinema de arte e não sou Hollywood. Eu sou só um gordo que faz cinema. E pretendo continuar assim."

O bate-papo entre os dois foi divertido e poderia continuar por horas e horas. Pensando bem, deve ter continuado... em um bom restaurante de San Diego. Viva os gordos que fazem cinema!