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Omeletrash - Parte 2: Cérebrooooooo! Eu quero cérebroooooo!

Atira na cabeça ou arranca fora! Odeio esses malditos zumbis!

02.09.2009, às 00H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 07H02

Vampirismo, possessão demoníaca ou fantasmas carrancudos têm lá um charme, mas nenhum subgênero do horror consegue ser mais empolgante e divertido do que os fucking zombies! Se a onda agora é fazer filmes de vampiros cheirosinhos e que viram purpurina quando expostos ao sol, um dia já fomos abençoados com pencas de filmes de cadáveres canibais se esbaldando em miolos e carne humana fresquinha. Bons tempos em que o terror botava medo, dava nojo ou fazia rir sadicamente. É em busca desses momentos que vamos abrir nossas cabeças atrás de um bom cééérebroooooo.

Night of the Living Dead - A Noite dos Mortos Vivo

Teenage Zombies

Capital dos Mortos

Todo Mundo Quase Morto

Os primeiros filmes envolvendo mortos que voltavam à vida eram intimamente ligados às religiões haitianas e à magia negra. Outras culturas, como a europeia, também exploravam lendas inspiradas em espíritos que impossibilitavam a decomposição dos cadáveres de pessoas más. Foram a mistura da crença africana do "quimbundo nzumbi" com o medo da morte e as teorias de reencarnação espiritual dos ocidentais que trouxeram ao cinema a figura do zumbi

Filmes como White Zombie (1932), Teenage Zombies (1959) e Epidemia de Zumbis (The Plague of the Zombies, 1966) colocavam os cadáveres como escravos em campos de trabalho-forçado, servindo cegamente a um lunático querendo dominar o mundo. Um grupo de amigos descobria o plano maléfico, fugia dos gigantes com tanguinhas roubadas do Tarzan e conseguia matar o lunático. Fim do filme.

A fórmula logo se desgastou e o gênero perdeu sua força.

Até que, em 1968, George A. Romero cometeu uma das maiores genialidades de todos os tempos. Seu filme A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead) foi um divisor de águas dentro do horror tradicional e uma dentada nas entranhas do público, que ficava atônito diante do canibalismo e selvageria até então nunca vistos no cinema.

A partir desse momento, os desmortos deixavam de ser escravos que estavam ali só para trabalhar de tanguinha e passavam a ser pessoas com roupas normais de trabalho ou de escola mordendo pescoços e braços, e esbanjando violência gráfica.

Entre 1979 e 1985 saíram respectivamente Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead), da célebre e manjada frase "Quando não houver mais espaço no inferno, os mortos caminharão sobre a Terra" e o climático Dia dos Mortos (Day of the Dead). Este terceiro filme pode não ser o melhor dentro da mitologia criada por Romero, mas traz Bub, simplesmente o melhor zumbi de todos os tempos. Eu diria até que o Bub é uma versão podre e fedida do E.T. do Spielberg. O bicho que em troca de carne fresca escuta música, fala ao telefone e ainda por cima bate continência para um general sendo devorado vivo.

Como não poderia deixar de ser, a resposta europeia não tardou e Lucio Fulci rapidamente lançou o nojento Zombie (1979). As sessões do filme na Itália eram festivais de gente vomitando, católicos desgraçando o filme e os donos das salas de cinema distribuindo sacos de vômito para amenizar o pandemônio. Aliás, o Fulci é considerado o mais escatológico cineasta de todos os tempos. Dentro do gênero, ainda lançou E tu vivrai nel terrore - L'aldilà (1981), com a clássica cena de um cão arrancando o pescoço de uma garota cega e Demonia (1990), trash com freiras possuídas sedentas por carne.

Os anos 1970 e 1980 foram os mais prósperos para as produções que colocavam zumbis em qualquer situação que fosse. A trilogia A Volta dos Mortos-Vivos (The Return of the Living Dead, 1985) mostrou cadáveres que pensavam, falavam e eram maníacos por cérebro. O péssimo Le Lac des Morts Vivants (1981), do francês Jean Rollin, colocou até soldados nazistas mortos em um lago para conversar com uma garotinha. E a Tröma lançou o excelente Redneck Zombies (1987), com caipiras beberrões contaminados por material radioativo.

Os anos 1990 chegaram e os zumbis apareciam cada vez menos. Poucas produções de destaque arrancaram os mortos do imaginário das pessoas.

E eis que o novo milênio trouxe bons filmes, como o engraçado Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004) e os atuais Dead Snow (Død snø, 2009), da Noruega, e o canadense Yesterday (2009). O Japão mandou pro inferno de vez as mulheres cabeludas e crianças bizarras dos filmes de fantasmas e nos brindou com maravilhas como o gore extremo Stacy (2001) e o belo Yoroi, the Samurai Zombie (2008). O Brasil começou a dar os seus primeiros passos com o bom Capital dos Mortos (2008), do brasiliense Tiago Belotti, e o lindíssimo Mangue Negro (2008), de Rodrigo Aragão.

A crítica sempre odiou as produções e os realizadores sempre deixavam implícitas pequenas mensagens políticas, ou pelo menos fingiam que deixavam. Mas quem se importa? Filme de zumbi é sangue, carne e cérebro. O resto é bobagem!

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