Todos os anos o Emmy escolhe algumas séries para representar o oceano de excelência que existe dentro da televisão dos EUA - e todos os anos, é claro, eles deixam um monte de produções e atuações brilhantes de fora, seja por preconceito com os gêneros em que elas se encontram, por falta de sorte ou popularidade.
Mas o Omelete está aqui para consertar (em parte, como pudermos) essa injustica com a primeira edição do Emmylete, uma lista reunindo aqueles indicados ao Emmy que vivem só nos nossos sonhos.
Confira os escolhidos de 2024:
Game Changer
Cena de Game Changer (Reprodução)
Onde ver: Disponível para streaming no Dropout.
Apesar de ter estreado em 2019, o game show da plataforma de streaming cômica Dropout (marca que nasceu do CollegeHumor, canal emblemático do humor on-line dos anos 2000) foi ganhar notoriedade só agora, na sexta temporada, com o aumento da quantidade de inscritos no serviço e as premissas progressivamente (e deliciosamente) complicadas dos novos episódios. A ideia é que o apresentador Sam Reich traga um grupo de comediantes para o palco a cada capítulo, e que eles não façam a mínima ideia do jogo que estão prestes a jogar - e o resultado é um dos programas mais bizarros, surpreendentes e absurdos da comédia televisiva em muito, muito tempo.
Sentindo o cheiro do hype, o Dropout fez uma campanha forte para o Emmy 2024, mas Game Changer ainda correu por fora, especialmente na categoria de game show, que costuma premiar velhos favoritos da TV aberta dos EUA, como Jeopardy!, Family Feud, The Price is Right e Wheel of Fortune. Quem sabe em 2025.
Finn Bennett, por True Detective: Terra Noturna
Cena de True Detective: Terra Noturna (Reprodução)
Onde ver: Disponível para streaming na Max.
Não me leve a mal: apesar da birra de uma fatia dos fãs (e do Nic Pizzolatto), True Detective: Terra Noturna foi figura de destaque no Emmy 2024, com indicações garantidas para Jodie Foster e Kali Reis. Houve também quem apostasse (corretamente) em uma inclusão de John Hawkes na categoria de melhor ator coadjuvante em minissérie, por sua ótima performance como o policial Hank Prior, mas eu diria que os votantes da Academia precisam olhar com mais carinho para o Pior mais novo.
Como Pete, Finn Bennett entregou uma atuação centrada, que expressa a angústia, a ambição, a ingenuidade, o entendimento e o distanciamento da juventude de forma refrescantemente aberta, comunicativa. De muitas formas, ele foi o coração da temporada - e merecia ser reconhecido com ela.
Eco
Cena de Eco (Reprodução)
Onde ver: Disponível para streaming no Disney+.
Muita gente apostava que a segunda temporada de Loki ganharia destaque no Emmy 2024, repetindo um sucesso em premiações que o MCU só alcançou até hoje com WandaVision. Mas, se você me perguntar, a Academia deveria olhar com mais carinho para outra produção da franquia, Eco, que estreou em janeiro deste ano e se provou a narrativa mais íntegra e envolvente do MCU em muito, muito tempo.
Seria ótimo ver Alaqua Cox reconhecida por sua performance galvanizadora como Maya López, é claro, e os fãs adorariam ver Vincent D’Onofrio finalmente indicado ao Emmy por interpretar um Rei do Crime impecável. Também aceitaríamos lembranças para o excepcional elenco coadjuvante nativo-americano da série, especialmente Tantoo Cardinal, excelente como a avó da heroína. E o trabalho de Marion Dayre e Amy Rardin no roteiro é tão certeiro! Enfim, a gente pode sonhar.
Otto Bathurst, por "Aleria" (Halo)
Cena de Halo (Reprodução)
Onde ver: Disponível para streaming no Paramount+.
Fallout foi (merecidamente!) a série que levará as adaptações de videogame ao Emmy 2024 - após The Last of Us brilhar em 2023, é claro. E eu sei bem que Halo não é uma unanimidade, mas o trabalho hercúleo do diretor Otto Bathurst na segunda temporada da série merecia ser reconhecido. O cineasta assume o comando de “Aleria” (2x05), o episódio que sucede imediatamente a maior batalha que a série já filmou até agora - a celebrada queda de Reach, parte importante da mitologia dos games.
É um trabalho difícil porque, frequentemente, esses episódios pós-guerra chateiam os fãs com uma queda de ritmo e muita exposição necessária para justificar as próximas viradas dos personagens. Bathurst, no entanto, comanda uma sinfonia de fotografia sensível e valorização dramática que faz a pisada no freio funcionar muito bem, obrigado, instituindo um clima opressivo e emocional que define bem as melhores qualidades da segunda temporada da série.
Devon Sawa, por Chucky
Cena de Chucky (Reprodução)
Onde ver: Disponível para streaming no Disney+.
Já no ano passado eu estava por aqui panfletando Chucky como uma grande esnobada do Emmy, e a terceira temporada da série manteve a qualidade do discurso pop eloquente de Don Mancini com sua criação mais famosa. Se o boneco assassino é um pouco “bizarro” demais para os votantes do Emmy engolirem, no entanto, ao menos eles podiam reconhecer o trabalho de Devon Sawa, que tem feito de Chucky a cereja no bolo de uma carreira excepcional no terror (Gasparzinho, Premonição, alguém?).
No terceiro ano, Sawa se multiplicou: como o presidente James Collins, tentou nos convencer da decência de um homem falível na posição de maior poder do planeta; como o ator Randall Jenkins, entregou gaiatice, oportunismo e ingenuidade de primeira mesmo só com breves momentos de tela; e retornando como Lucas Wheeler, desfilou o carisma sinistro de uma boa assombração. Versatilidade é isso, Academia!
Carla Gugino, por A Queda da Casa de Usher
Cena de A Queda da Casa de Usher (Reprodução)
Onde ver: Disponível para streaming na Netflix.
Dá para acreditar que as minisséries de Mike Flanagan para a Netflix não conseguiram umazinha indicação ao Emmy fora das categorias técnicas até hoje? Se A Maldição da Residência Hill e Missa da Meia-Noite não foram o bastante para mover os votantes da Academia, A Queda da Casa de Usher, com seu horror muito mais franco e grotesco, dificilmente será - mas ainda podemos lamentar que uma produção de tanta excelência vá ficar de fora da principal premiação da televisão.
O caso de Carla Gugino é especialmente revoltante porque, em décadas de brilhantismo na TV e no cinema, a atriz nunca conseguiu papéis que explorassem tão bem a sua versatilidade e carisma quanto os que Flanagan lhe deu. A sua performance elástica e impactante como a Verna de Casa de Usher tem toda a pinta de feito coroador da carreira, mas o gênero em que a série se localiza vai impedir que seja reconhecida como tal. E não vamos nem falar de Bruce Greenwood, e Henry Thomas, e roteiro, e direção… enfim, que pena, hein, Emmy?
Con O’Neill, por Nossa Bandeira é a Morte
Cena de Nossa Bandeira é a Morte (Reprodução)
Onde ver: Disponível para streaming na Max.
Apesar da vida curta e das poucas ideias que as premiações deram a ela, Nossa Bandeira é a Morte vai provavelmente ser lembrada como uma das comédias mais íntegras e bem narradas que passaram pelo streaming nesta década. No segundo ano, especialmente, os personagens coadjuvantes ganharam novas dimensões diante da progressão surpreendente do romance central entre Stede (Rhys Darby) e Barba Negra (Taika Waititi), dando espaço para uma performance inesquecível de Con O’Neill como o intratável Izzy Hands.
De vilão a anti-herói a meio que um símbolo de toda a nobreza do empreendimento da pirataria à frente de um mundo que rejeita as diferenças, o personagem passa por uma transformação radical nesses oito episódios - e O’Neill enterra suas garras nesse arco com gosto, dando a cada passo na metamorfose de Izzy o respaldo que ela precisa para funcionar. Quando a temporada acaba, você está chorando por ele.
Sugar
Cena de Sugar (Reprodução)
Sugar, série de detetive do Apple TV+ que faz homenagem ao film noir e tem até direção do brasileiro Fernando Meirelles, foi uma das melhores produções televisivas de 2024 que muita gente não viu.
Na pele do detetive particular John Sugar, Colin Farrell esbanjou o mesmo charme e talento que já lhe renderam uma indicação ao Oscar. Tanto título quanto ator deveriam estar entre os indicados. (André Zuliani)