George Miller defendeu os filmes de ação como “o estado mais puro do cinema” durante coletiva sobre Furiosa: Uma Saga Mad Max, que aconteceu hoje (16) no Festival de Cannes 2024. O Omelete acompanhou o evento.
“Desde o começo, o cinema era cinético. 130 anos atrás, as pessoas que faziam cinema faziam, quase todas, o que hoje seria chamado de cinema de ação. Buster Keaton, Harold Lloyd, tantos outros”, comentou Miller, citando dois nomes fortes da comédia física nas primeiras décadas do cinema estadunidense. “Para mim, o cinema de ação é o cinema puro, é música visual. Alfred Hitchcock dizia que gostava de fazer filmes que não precisariam de legendas no Japão”.
Por causa dessa longa tradição que enxerga no gênero, Miller acredita que cineastas que se engajam com a ação “não precisam se preocupar com coisas como o prestígio crítico, ou o prestígio da Academia”. “O que fazemos diferencia o cinema de todos os outros tipos de arte. Você não pode experimentar isso no teatro, em um livro, nem mesmo nas histórias em quadrinhos. Só no cinema”, completou.
- Meryl Streep: "Mulheres falam todas as línguas, mas homens não falam a nossa"
- Júri de Cannes está nervoso com decisão da Palma: “Mudaremos a vida de alguém”
Miller também falou da durabilidade surpreendente da saga Mad Max, que ele iniciou com o filme homônimo de 1979. “Acho que tive sorte que todos os filmes foram recebidos como coisas alegóricas, maiores do que eles mesmos. Aqui mesmo na França, quando exibimos o primeiro Mad Max, eles disseram que era um ‘faroeste sobre rodas’, e eu acho que com o tempo fui aceitando essa influência cada vez mais. No Japão, disseram que Max era um samurai, então existe essa conexão. Tive sorte que a franquia se conectou a todas essas tradições na cabeça das pessoas”, refletiu.
“O que eu posso dizer sobre o cinema é que ele está sempre evoluindo, mudando, principalmente quando se trata de tecnologia”, disse ainda o cineasta. “Um dos vetores do meu trabalho é este. É claro que a história vem acima de tudo, mas em segundo lugar vem a vontade de encontrar as ferramentas certas para contar essa história. É muito interessante porque, mesmo que façam menos de dez anos desde Estrada da Fúria, as ferramentas que usamos em Furiosa são vastamente diferentes, superiores, do que as que estavam disponíveis para nós em 2015”.
Por trás dessa paixão técnica do Miller adulto, no entanto, existe também a fascinação artística do jovem australiano que cresceu “indo ao cinema como se fosse a Igreja”: “Eu e meus irmãos tivemos a sorte de crescer em um ambiente em que podíamos brincar, e o que fazíamos a título de brincadeira era imitar o que víamos nos filmes. Pegávamos tampas de lixeiras e transformamos em escudos de cavalheiros, esse tipo de coisa. Acho que, até hoje, eu faço algo muito parecido com isso”.
O Festival de Cannes 2024 acontece entre 14 e 25 de maio, exibindo filmes aguardados como Furiosa: Uma Saga Mad Max e Megalopolis, de Francis Ford Coppola, entre muitos outros. Fique de olho no Omelete para a cobertura completa.