Cena de The Apprentice, que está na seleção do Festival de Cannes 2024 (Reprodução)

Filmes

Entrevista

Chefe de Cannes quer que "a política fique na tela": "Os filmes ditam o debate"

Thierry Frémaux se esquivou de perguntas sobre #MeToo, greves e conflito Israel-Palestina

13.05.2024, às 17H13.
Atualizada em 13.05.2024, ÀS 17H32

Thierry Frémaux, o delegado-geral e diretor artístico do Festival de Cannes 2024, precisou se esquivar de várias perguntas espinhosas durate a coletiva de imprensa que aconteceu na tarde de hoje (13). Da crescente onda do #MeToo francês às ameaças de greve por parte dos funcionários dos bastidores do festival, passando pelo conflito Israel-Palestina, a troca entre o delegado-geral e os jornalistas foi quente.

"O ano passado foi ótimo em termos de cinema, assim como este ano é ótimo em termos de cinema. 20 anos atrás, essa era a nossa única preocupação com o festival - selecionar bons filmes, filmes representativos do cinema mundial, e especular sobre quem vai ganhar os prêmios", comentou Frémaux, frustrado, em certo ponto. "O que mudou nesse tempo, ao que me parece, são as questões que vocês levantam em coletivas como esta, trazendo polêmicas e questões que são externas ao festival".

O delegado-geral usou as denúncias de assédio sexual na indústria cinematográfica francesa como exemplo: "Isso só se relaciona à organização do festival no sentido que tomamos todas as medidas necessárias para que esse tipo de coisa nunca aconteça por aqui. E tem funcionado!".

Frémaux evitou cravar de que maneira o festival reagirá caso ocorram demonstrações pró-Israel ou pró-Palestina durante o evento, e jogou seguro também diante da ameaça de greve dos funcionários de bastidores. Organizados em um coletivo denominado CGT-Spectacle, eles estão demandando pagamentos melhores e aceso a benefícios governamentais.

"Para esclarecimentos nesse sentido, eu encaminharia vocês para o departamento de recursos humanos do festival, que sabe mais do que eu. O que posso fazer é expressar a minha esperança de que cheguemos a um acordo final e que o festival ocorra tranquilamente, com todas as condições de trabalho adequadas para os funcionários", comentou o delegado-geral.

Por fim, Frémaux não negou que os filmes selecionados para o festival tenham teor político - nesse sentido, segundo ele, não há nenhuma autocensura entre os organizadores de Cannes: "A ideia é que o cinema seja o protagonista - e, em Cannes, a política está na tela. Uma vez que virmos os filmes, é claro que eles podem provocar reações. O que não queremos é que as polêmicas venham da organização do festival".

Na edição deste ano, o Festival de Cannes vai exibir títulos como o documentário Luladirigido por Oliver Stone, sobre os anos de encarceramento do atual presidente do Brasil; o drama biográfico Being Mariaque recria a trajetória de Maria Schneider antes e depois do abuso sofrido no set de O Último Tango em Paris; The Apprenticeem que Sebastian Stan interpreta um jovem Donald Trump.

"Em 2004, demos a Palma de Ouro para Michael Moore pelo seu documentário Fahrenheit 11 de Setembro. Isso afetou a reeleição de George W. Bush? Eu acho que não", admitiu Frémaux. "Acho que o cinema é uma forma de acompanhar o mundo, mas não sei se ele tem esse poder de influenciar disputas políticas".

Festival de Cannes 2024 acontece entre 14 e 25 de maio, exibindo filmes aguardados como Furiosa: Uma Saga Mad Max e Megalopolis, de Francis Ford Coppola, entre muitos outros. Fique de olho no Omelete para a cobertura completa.