Sem Pedro Pascal, mas com Ethan Hawke, Pedro Almodóvar apresentou seu curta-metragem Strange Way of Life (na tradução, estranha forma de vida) na tarde desta quarta-feira (17) no Festival de Cannes, fora de competição. O ingresso foi um dos mais disputados do evento, pois se tratava de uma sessão única seguida de bate-papo com o diretor e Hawke. Na plateia estavam também o produtor do filme e diretor artístico da Yves Saint-Laurent, Anthony Vaccarello, e Jennie, do Blackpink, convidada da grife. Pascal não veio, aparentemente porque as filmagens de Gladiador 2 começam nesta semana. Quem também ficou de fora foram dezenas de pessoas com ingressos na mão, incluindo o crítico do Los Angeles Times e a presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que passaram uma hora na fila à toa. Foi uma falha do festival, que deixou gente sem tíquete entrar na sala antes de quem tinha.
No bate-papo, Almodóvar disse que quis fazer um western clássico, mas que fala do amor entre dois caubóis, Silva (Pascal) e o xerife Jake (Hawke), que se reencontram após 25 anos. “Sempre falam que o western está morto. Mas dois anos atrás a Jane Campion fez Ataque dos Cães”, disse o cineasta espanhol. “No filme, a sexualidade do personagem de Benedict Cumberbatch era ambígua, mas eles nunca falavam de desejo. E, claro, eles não fodiam”, afirmou, em bom espanhol, arrancando risos da plateia. O diretor também disse que, além de Campion, Chloé Zhao, com The Rider, e Kelly Reichardt, com First Cow, fizeram westerns. “Todas são cineastas mulheres e trouxeram uma nova maneira de ver o gênero”, afirmou, emendando uma crítica à série Yellowstone, que, em sua opinião, é tradicional da pior maneira possível. “Mas o western está bem vivo.”
- Strange Way of Life | Pedro Pascal e Ethan Hawke comentam cenas íntimas
- Ethan Hawke, Pedro Pascal e Almodóvar aparecem em fotos de Strange Way of Life
Almodóvar também explicou a escolha de Ethan Hawke para viver o xerife Jake. “Ele é texano, ou seja, muito americano, mas não é um ator americano típico, pois procura projetos mais desafiadores. Ele sempre se mostrou muito versátil. E me deu a impressão de que saberia andar a cavalo”, disse, provocando risos. “Também gosto que ele pode ser frio, distante, hermético.” Hawke disse que mal pôde acreditar ao receber o e-mail o convidando para fazer o curta: “Fiquei muito grato. A melhor coisa da minha vida é trabalhar com um cineasta que admiro.”
O diretor disse que, nos figurinos, se inspirou em James Stewart para Pascal e Kirk Douglas e Burt Lancaster para Hawke. Mas quis fazer um “western à sua maneira”. “Em nenhum western você vê dois homens arrumando uma cama. Essa cena separa o meu filme dos outros. E isso é importante porque, para Jake, é como se estivessem apagando o que aconteceu na noite anterior. Para Silva, é o contrário, uma recordação.”
Ele, que fez muitos filmes com cenas de sexo explícito, preferiu sugerir mais do que mostrar. “Os olhares desde o início são cheios de sensualidade”, explicou. Hawke disse que gosta de ser desejado. “E ser desejado por Pedro Pascal não é ruim. Se for alguém atraente, não me importa”, disse, em tom de brincadeira.
Strange Way of Life tem 31 minutos, mas na cabeça de Almodóvar há todo um longa-metragem que mostra as trajetórias de Jake e Silva após os acontecimentos do curta. “Quem sabe um dia eu faço”, brincou o cineasta depois de descrever a trama em detalhes. O filme será lançado no Brasil pela MUBI.