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Em Asteroid City, Wes Anderson se inspira na pandemia

Omelete assistiu ao filme no Festival de Cannes

24.05.2023, às 16H38.
Atualizada em 12.06.2023, ÀS 08H50

Assistir a um filme de Wes Anderson em meio à moda no TikTok de milhares de pessoas tentando replicar seu jeito só deixa bem claro que seu estilo é único. Um filme de Wes Anderson tem:

  • Visual impecável, com paleta de cores apetitosa
  • Rigidez de movimentos, com a câmera se movendo lateralmente
  • Atores com rostos impassíveis mesmo em situações absurdas
  • Elenco estrelado

Em Asteroid City, apresentado em competição no 76º Festival de Cannes, o diretor leva suas wes-andersonices para a cidade fictícia do título, que fica em um deserto dos Estados Unidos e tem esse nome por causa de um asteroide que caiu ali anos atrás. Ao fundo, de vez em quando, dá para ver também uma nuvem de cogumelo dos testes nucleares feitos por perto.

O lugar lembra um pouco Radiator Springs, cidade fictícia da animação Carros, só que em versão Wes Anderson. Augie Steenbeck (Jason Schwartzman) é um fotógrafo de guerra que vai parar lá pois seu filho mais velho, Woodrow (Jake Ryan), vai participar de uma convenção de jovens cientistas. Ele também é pai de três menininhas, e chama o avô delas (Tom Hanks) para ajudá-lo. Pelo mesmo motivo, está na cidade a atriz Midge Campbell (Scarlett Johansson), mãe de outra pequena gênia, Dinah (Grace Edwards).

O filme é povoado de personagens adoráveis, como a professora June (Maya Hawke), o general (Jeffrey Wright), a astrônoma Dr. Hickenlooper (Tilda Swinton), o gerente do hotel (Steve Carell), o mecânico (Matt Dillon).

Tudo está bem até todos precisarem fazer quarentena quando um alienígena (fofo, ao estilo de Wes Anderson) aparece. É bem clara, desta vez, a referência ao mundo real.

Asteroid City é uma homenagem ao cinema de ficção científica, em especial a Steven Spielberg. Mas também ao teatro: esses personagens são, na verdade, personagens de uma peça dentro de um programa de TV em preto e branco apresentado por Bryan Cranston.

Apesar de toda a graça dos diálogos ditos de maneira muito específica, Asteroid City é um filme sobre o luto. Augie perdeu sua mulher, mas ainda não teve coragem de falar para os filhos. “A hora nunca é propícia”, diz para seu sogro, que nunca gostou muito dele, mas que concorda e responde: “A hora é sempre imprópria”.

Ao fim, é aquela coisa: quem não gosta de Wes Anderson não vai gostar do filme; vai achar afetado, sem graça, sem emoção. Quem gosta do seu trabalho vai achar uma das melhores coisas que o cineasta fez nos últimos anos.