O Festival de Cannes 2021 chegou ao fim no último sábado (17) regado a diversas surpresas: Julia Ducournau (Raw), venceu a Palma de Ouro, por Titane, e descobriu a vitória graças a uma gafe cometida pelo presidente do júri deste ano, Spike Lee, e de sobra fez história por tornar-se somente a segunda mulher a vencer o prêmio principal - e a primeira a levar a palma só (Jane Campion, que venceu por O Piano, em 1993, ganhou em um empate).
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Entre outros vencedores dos prêmios principais deste ano, alguns dos destaques foram Annette, que quebrou a maldição do filme de abertura (que geralmente saem de mãos vazias) e levou o prêmio de direção, os empates do Grand Prix e Jury Prize, considerados como segundo e terceiros lugares do festival, respectivamente, para, em ordem: A Hero (de Asghar Farhadi) e Compartment No. 6 (de Juho Kuosmanen), e Ahed’s Knee (de Nadav Lapid) e Memoria (de Apichatpong Weerasethakul).
Já o Brasil, que figura sempre em festivais estrangeiros, levou para casa uma menção na mostra de curtas por O Céu de Agosto, de Jasmin Tennuci.
Mas ao invés de relatar prêmio por prêmio, categoria por categoria, causo por causo, o Omelete resolveu recapitular a edição de retomada do festival, que pulou a edição de 2020 por conta da pandemia do novo coronavírus, por meio dos cinco principais nomes deste ano. Selecionamos os realizadores, membros do júri, atores ou atrizes que foram os mais badalados, que mais estiveram sob os holofotes e que fizeram o festival deste ano ser tão importante.
Veja a nossa seleção a seguir:
Spike Lee
Christophe Simon/AFP
A edição foi dele, não há como negar. Desde o primeiro dia, o cineasta parece ter ido à cidade francesa com o intuito de transformar o festival em uma pequena aventura pessoal. E para nós, foi maravilhoso acompanhar cada passo dessa jornada. Como não admirar esse homem que simplesmente deu uma pausa em um dos jantares comemorativos para assistir à final, entre a Itália e a Inglaterra, da Eurocopa [via Variety]?
Ou que logo no discurso de abertura do espetáculo, chegou com os dois pés na porta, e sem titubear chamou o presidente Jair Bolsonaro de gângster? Sem contar na gafe histórica — e maravilhosa — ao deixar escapar o nome do vencedor da Palma de Ouro deste ano. Não à toa o cineasta ganhou um Air Jordan limitado para celebrar sua presidência, e seu rosto no pôster oficial do festival. Muito mais que merecido, Spike Lee foi o cara dessa edição.
Julia Ducournau
HACHE/AFP
A gafe histórica e maravilhosa de Spike Lee foi a de anunciar a Palma de Ouro de Julia Ducournau alguns momentos antes do previsto. Bem antes do previsto. Mas não importa. Ducournau tornou-se a segunda mulher a receber a honraria, depois de Jane Campion, que venceu por O Piano, em 1993. No entanto, O Piano venceu a Palma em um empate ao lado de Adeus, Minha Concubina, do chinês Chen Kaige. Então Julia é a primeira cineasta mulher a vencer a Palma completamente sozinha.
O mais surreal do prêmio dado à diretora francesa é que seu filme, Titane, que estreia no Brasil pelo MUBI, é a temática. O longa-metragem foi descrito por muito como um dos mais polêmicos e controversos do festival deste ano. A sinopse oficial do filme é: “Após uma série de crimes inexplicáveis, um pai está reunido com o filho que está desaparecido há 10 anos. Titânio: Um metal altamente resistente ao calor e corrosão, com ligas de alta resistência à tração.”
De acordo com Nicholas Barber, crítico da BBC, que escreveu sobre o longa-metragem “A fantasia linda, sombria e distorcida de Ducournau é um pesadelo, mas travessamente cômica, repleta de sexo, violência, uma iluminação sinistra e música forte. Também é impossível prever para aonde vai a seguir.” Outros comentários também compararam o longa de Ducournau com Crash, thriller erótico de David Cronenberg. Lembrando que o Titane é da mulher responsável por Raw, produção sobre canabalismo que fez o público do mesmo festival, em 2016, desmaiar. Que júri fantástico!
Tilda Swinton
MUBI/Divulgação
Já havíamos nomeado Swinton como a rainha do festival deste ano. Afinal de contas, muito incomum ter alguém em seis projetos distintos na mesma edição — mesmo que nem todos em competição. Em 2017, Nicole Kidman já havia feito história ao estar em quatro títulos paralelamente em Cannes (O Estranho que Nós Amamos, O Sacrifício do Cervo Sagrado, Top of the Lake: China Girl e How to Talk to Girls at Parties), ganhando até mesmo um prêmio especial em comemoração aos 70 anos do festival. Mas Tilda ultrapassou a australiana com dois filmes a mais.
Mesmo ocupada divulgando tantos projetos, Swinton teve tempo até de pregar uma pegadinha no queridinho da internet Timothée Chalamet. De qualquer forma, uma Palma irá à casa da atriz britânica de qualquer forma este ano, porque seu trio de cachorros Dora, Snowbear e Rosie, cães da raça springer spaniel, venceram a Palm Dog 2021, um mimo independente concedido todos os anos à melhor "atuação canina" dentro de algum dos filmes que esteja em cartaz na programação de Cannes. Os cães de Swinton estiveram em The Souvenir: Part II, de Joanna Hogg, ao lado de sua dona. A honraria já foi para o pitbull de Quentin Tarantino pelo trabalho em Era Uma Vez... Em Hollywood e para o cachorro Ollie de O Artista.