Depois de mergulhar na Hollywood dos anos 1930 com a história do roteirista Herman J. Mankiewicz em Mank (2020), David Fincher está de volta ao seu assunto favorito, o crime. O Assassino, exibido neste domingo (3) na competição do 80º Festival de Veneza e baseado na graphic novel de Alexis “Matz” Nolent e Luc Jacamon, entra na mente de um matador de aluguel interpretado por Michael Fassbender.
Não há nada do glamour de outros filmes sobre o tema. Ele se veste como um turista alemão em Paris porque sabe que os franceses fugiriam de um deles. Seu objetivo não é ser o mais elegante, mas, sim, misturar-se à multidão, sem jamais chamar a atenção para si mesmo. É um operário do crime, um trabalhador terceirizado que ganha bem, mas é uma peça sem poder de fato.
A primeira sequência traz em detalhes a tocaia do assassino sem nome, que luta contra o sono e o tédio enquanto espera seu alvo surgir na janela de um hotel de luxo na capital francesa. Mas ele comete um erro que desencadeia uma retaliação por parte de seus chefes, desencadeando seu desejo de vingança.
Não que ele admita isso. Em seu fluxo de pensamento, ouvimos o assassino definir-se como alguém frio, sem empatia. E na maior parte do tempo, ele é mesmo. Fassbender é o ator perfeito para o papel porque prende a atenção durante as duas horas de filme mesmo sem alterar o tom de voz ou deixar emoções e reações tomarem seu rosto.
Apesar de contar com um ator carismático, O Assassino não quer torná-lo um herói. Seu protagonista age violentamente, mesmo quando o espectador tem esperança de que ele vai poupar uma vida. Em seus pensamentos, justifica para si mesmo por que faz o que faz, dizendo que não é um homem mau. Curiosamente, o filme se encaixa em uma onda de obras – The Zone of Interest, de Jonathan Glazer; Oppenheimer, de Christopher Nolan – sobre a banalização do mal e as mentiras que as pessoas contam a si mesmas para ficarem com suas consciências em paz.
Como sempre, David Fincher faz um filme sem grandes firulas visuais, mas que é eficiente e preciso. No entanto, mesmo tendo locações diferentes como Paris, Nova Orleans e República Dominicana, O Assassino não é uma produção grandiosa como Se7en – Os Sete Crimes Capitais (1995), Zodíaco (2007), ou A Rede Social (2010). Já o elenco é formado basicamente por Fassbender, com participações breves de Tilda Swinton e da brasileira Sophie Charlotte, que tem poucas falas e aparece cerca de um minuto, mas é importante na trama. Por isso, é difícil prever se o longa vai ter força para chegar entre os indicados ao Oscar.
O Assassino chega à Netflix em 10 de novembro.