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"Personagem mais heroico que interpretei", diz Brendan Fraser sobre The Whale

No Festival de Veneza, ator comentou processo de viver professor obeso em novo filme

04.09.2022, às 17H02.
Atualizada em 04.09.2022, ÀS 17H52

Brendan Fraser pode ter feito alguns filmes de ação na sua carreira, como A Múmia, mas seu personagem mais heroico não está em nenhum deles, segundo o ator. Charlie, o professor de 270 quilos que tenta se reconciliar com a filha adolescente, Ellie (Sadie Sink), em The Whale (A Baleia, em tradução livre) é o grande super-herói que o ator interpretou. “Seu superpoder é ver o lado bom dos outros”, disse ele em coletiva de imprensa do filme de Darren Aronofsky, que participa da competição do 79º Festival de Veneza.

Pelo papel, ele tem grandes chances de ser indicado ao Oscar do ano que vem. Mas demorou para Fraser ser escalado como Charlie. O diretor passou dez anos tentando escolher um ator, desde que decidiu filmar a peça de Samuel D. Hunter. “Foi muito difícil. Considerei todos os tipos de atores. Os maiores astros. Nada funcionou”, disse Aronofsky. Curiosamente, foi por causa do trailer de uma produção que Fraser rodou no Brasil, chamada 12 Horas Até o Amanhecer (2006), de Eric Eason, que Aronofsky pensou no ator. “Na hora, me deu uma luz”, disse ele.

O próximo passo foi colocar Brendan Fraser para fazer uma leitura com Sadie Sink, que já tinha sido escalada, porque Aronofsky a considera sua “atriz jovem favorita”. “Ver os dois juntos me deixou arrepiado”, disse o diretor.

Ellie, a personagem de Sink, é uma adolescente revoltada, que se surpreende ao reencontrar o pai e ver que ele é um homem bondoso e amoroso. “Na primeira cena, Ellie tem muito a dizer, pois na sua cabeça Charlie é um vilão”, disse a atriz. “Ela não esperava alguém que gosta dela, que demonstra cuidado. Não esperava um pai amoroso. Cada cena é uma batalha. Ellie recebe provas de que está errada, mas não quer estar, porque não costuma estar errada em relação às pessoas." 

Ela tem o hábito de ver só o lado ruim dos outros. É o oposto de seu pai, que acredita que as pessoas são incapazes de serem indiferentes. “O cinismo está vivo no filme, mas em guerra com a visão de Charlie”, disse Aronofsky. “Essa é a razão pela qual eu quis fazer o filme. É a mensagem mais importante para colocar no mundo agora. Todos estamos nos apoiando no cinismo e no lado sombrio, e não precisamos é disso.

Brendan Fraser usou uma roupa especial para fazer Charlie. “Eu tive de aprender a me movimentar de uma nova maneira”, disse o ator. “Eu desenvolvi músculos que não sabia ter. Sentia vertigem quando a roupa era removida. Tenho empatia por quem tem um corpo assim. É preciso ser uma pessoa forte fisicamente e mentalmente.

O filme inteiro se passa dentro do apartamento de Charlie, que tem muita dificuldade de levantar-se e movimentar-se pela casa. A mobilidade física é limitada pelo espaço. “É poético que o trauma que ele carrega manifeste-se no peso físico”, afirmou Fraser. “Sua história é contada por trás de uma porta fechada. Ele é uma luz em um espaço escuro.

No início da coletiva, Aronofsky tinha agradecido ao festival, que definiu como “sua casa” – ele ganhou o prêmio máximo em Veneza, o Leão de Ouro, com O Vencedor, em 2008, e participou com Cisne Negro em 2010. “Nós perdemos tanto nos últimos anos, nos separamos tanto da conexão humana. E cinema é conexão humana”, disse.