Ave rara no cinema nacional, um filme de lobisomem nas raias mais sombrias do terror conquistou o troféu Redentor de melhor Filme de Ficção da Première Brasil do Festival do Rio 2017, encerrado no domingo: As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra. "Fizemos aqui uma aposta numa luz mágica", disse Dutra ao Omelete quando este terror foi apresentado.
Há cerca de dois meses, a produção conquistou o Prêmio do Júri no Festival de Locarno, na Suíça. A cerimônia de encerramento da Première, no Cine Odeon, tendo como apresentadoras Renata Boldrini e Suzana Pires, rendeu ainda ao terror de Juliana e Dutra os troféus de melhor atriz coadjuvante (Marjorie Estiano) e melhor fotografia, o prêmio Félix (de toada LGBTQ) e a láurea da Crítica, dada pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci). "É lindo estarmos resistindo. O Brasil está pulsante mesmo nestes momentos sombrios. Mas a cultura precisa ficar de olho", disse no palco a gaúcha Sara Silveira, produtora do filme.
No terreno da dramaturgia que (mais e melhor) cabe às palavras, o roteiro, venceu "o" autor mais disputado do momento Lucas Paraíso pelo drama tenso Aos Teus Olhos, de Carolina Jabor. Este longa, sobre um professor de natação acusado de beijar um aluno de sete anos na boca, foi um dos mais laureados da noite, coroado com o prêmio do Júri Popular e mais dois troféus. A trama, baseada livremente na peça de teatro catalã O Princípio de Arquimedes, rendeu ainda os Redentores de melhor ator (Daniel de Oliveira, em um empate com Murilo Benício) e melhor ator coadjuvante para Marco Ricca. "A reação do público ao filme demonstra, de certa forma, nossa preocupação com a questão dos linchamentos virtuais", disse Carolina.
Benício foi premiado por sua arrebatadora atuação no thriller manchado de sangue O Animal Cordial. O longa passou pelo Festival de Filme Fantástico de Montreal. Na briga pelo prêmio de melhor atriz, venceu Grace Passô, uma das mais aclamadas intérpretes do teatro nacional hoje. Ela ganhou por Praça Paris, da veterana Lucia Murat, que recebeu o troféu de melhor direção de ficções. Foi a segunda vez que ela vence nessa categoria: antes, ganhou por Quase Dois Irmãos, em 2004.
Como ganhador do Prêmio Especial do Júri, o escolhido foi o documentário Slam: A Voz do Levante, de Tatiana Lohmann e Roberta Estrela D'Alva. A láurea foi entregue a elas pelo presidente dos jurados, o produtor espanhol António Saura. As duas foram ao palco de novo pra buscar o Redentor de melhor direção de .docs. Mas ao selecionar qual seria o melhor documentário deste festival, o coração do júri oficial bateu mais forte por Piripkura, de Mariana Oliva, sobre dois índios nômades. Já o povão votou em Dedo na Ferida, do mestre da narrativa historica, Silvio Tendler, como seu preferido.
Extensão poética do curta homônimo de 2006, Alguma Coisa Assim ganhou a láurea de melhor edição. Como melhor curta, o eleito foi o .doc Borá, sobre a segunda menor cidade do país. Há múltiplas competições no Festival do Rio. Por isso, fora da seleção oficial, uma penca de prêmios foi entregue.
Exibida em Montreal, a comédia romântica Altas Expectativas levou uma menção honrosa na mostra Geração. Entre os longas concorrentes na seção Novos Rumos, venceu o documentário A Parte do Mundo Que Me Pertence, de Marcos Pimentel. E saltou ainda um prêmio especial do júri para a ficção Vende-se Essa Moto, de Marcus Vinícius Faustini.