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Entrevista

Arábia | "Esse filme é uma odisseia mineira", diz o diretor Affonso Uchoa

Elogiado pelo mundo, longa inicia o Festival de Cinema Semana no Rio de Janeiro

16.11.2017, às 08H40.
Atualizada em 16.11.2017, ÀS 11H02

Reduto para invenções narrativas audiovisuais, o festival competitivo Semana (outrora Semana dos Realizadores) inicia nesta quinta-feira (16), no Rio de Janeiro, sua nona edição, tendo em sua abertura um dos filmes nacionais de maior visibilidade em solo estrangeiro deste ano: o drama Arábia, com sotaque de Minas Gerais. Dirigido pela dupla mineira Affonso Uchoa e João Dumans, o longa-metragem, que entrou no evento carioca em projeção hors-concours, correu o mundo por conta dos elogios que ganhou em sua passagem pelo Festival de Roterdã, na Holanda, no início do ano. Foi aplaudido em mostras em San Sebastián, na Espanha, e Karlovy Vary, em solo tcheco, e se prepara para tentar a sorte no Festival de Havana. Há cerca de dois meses, comprovou sua habilidade de dialogar bem com plateias nacionais ao ser eleito melhor filme no 50º Festival de Brasília, saindo de lá com troféus em outras três categorias – Ator (Aristides de Sousa), Montagem e Trilha Sonora, além de ter conquistado o Prêmio da Crítica.

“Esse filme é uma odisseia mineira por pequenas proporções, como se fosse um épico de acontecimentos banais, e, nele, o silêncio cumpre o papel de ser o som da reflexão, da autodescoberta, dos ruídos do que não é tão cotidiano”, diz Uchoa, cineasta de 33 anos nascido em Cotagem (MG), que se prepara para lançar Arábia comercialmente a partir do fim de março.

Na trama, o jovem André (Murilo Caliari) encontra o caderno de memórias de Cristiano (Sousa), metalúrgico hospitalizado. Por meio dele, o menino conhece sua trajetória atravessada por afetos, pela necessidade de sobreviver e pelo amor, emoldurada por relações de trabalho nas diversas paisagens mineiras.

“Se você olhar num mapa, o espaço que o personagem percorre não é tão grande, mas a importância da jornada está mais na percepção do viajante do que no tamanho do percurso”, diz o diretor, que acaba de filmar o curta-metragem Sete Anos em Maio e trabalha numa adaptação do romance 1919, do americano John dos Passos (1896-1970). “Se você pensar em Minas em relação ao resto do Brasil, teremos um estado ‘de interior’, uma cultura interioranamente ‘de dentro’ no país. E essa condição faz com que a nossa identidade deva muito ao trabalho... ao trabalho braçal. A gente não tem praia... não temos litoral. Aqui o que substitui o prazer é o trabalho. E essa aura de sacrifício passa pela natureza religiosa de nossa cultura também. Por isso, nosso filme é uma jornada de reconhecimento que passa pelo trabalho”. 

Confira a seguir a lista de títulos da mostra competitiva da Semana, que vai até o dia 22:

  • Antônio um dois três dir. Leonardo Mouramateus, 96 min, 2017, CE – 16 anos
  • Ava Yvy Vera – A terra do povo do raio, dir. Genito Gomes, Valmir Gonçalves Cabreira, Jhonn Nara Gomes, Jhonatan Gomes, Edina Ximenez, Dulcídio Gomes, Sarah Brites, Joilson Brites, 52 min, 2016, MG – Livre
  • Baronesa, dir. Juliana Antunes, 73 min, 2017, MG – 16 anos
  • Café com canela, dir. Ary Rosa e Glenda Nicácio, 102 min, 2017, BA – Livre
  • Era uma vez Brasília, dir. Adirley Queirós, 100 min, 2017, DF – 14 anos
  • Histórias que nosso cinema (não) contava, dir. Fernanda pessoa, 79 min, 2017, SP – 16 anos
  • Música para quando as luzes se apagam, dir. Ismael Caneppele, 70 min, 2017, RS – 14 anos
  • Não há foz não há nascente, dir. Valentina Homem, 19 min, 2017, RJ – 16 anos
  • Operações de garantia da lei e da ordem, dir. Julia Murat, 83 min, 2017, RJ – 14 anos
  • Pazucus: a ilha do desarrego, dir. Gurcius Gewdner, 110 min, 2017, SC – 18 anos
  • O peixe, dir. Jonathas de Andrade, 23 min, 2017, PE – Livre
  • Poesia na guerra, dir. Fernando Salinas, 2 min, 2017, RJ – Livre
  • Real Conquista, dir. Fabiana Assis, 14 min, 2017, GO – 14 anos
  • Resiliência, dir. Marcellvs, 24 min, 2017, Brasil/Islândia - Livre
  • Travessia, dir. Safira Moreira, 5 min, 2017, RJ - Livre
  • Vai e vem, dir. Louise Botkay, 31 min, 2017, RJ - Livre