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As Aventuras de Molière

Como o subtítulo diz, história do comediógrafo se resume ao seu lado irreverente de sedutor

17.07.2008, às 17H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 04H00

Molière é aquele tipo de comédia de época segura, inofensiva. Pelo título já dá para saber o que esperar - no caso, As Aventuras de Molière, Um Irreverente e Adorável Sedutor.

molière

Inofensiva e segura porque limita uma figura rica como Jean-Baptiste Poquelin (1622-1673), o Molière, a esse estereótipo do "irreverente e adorável sedutor". O autor de Tartufo e O Misantropo, considerado um dos grandes autores de comédias de teatro de todos os tempos, capaz de elevar o gênero antes tido como menor a grande arte, tem apenas uma fração de sua biografia retratada no filme co-escrito e dirigido por Laurent Tirard.

Ao invés de uma biografia horizontal de Molière, repassando sua carreira inteira, Tirard opta por uma história vertical: separa-se um evento definidor na vida do personagem e, pela metonímia, a parte passa a representar o todo. No caso, é um amor não correspondido nos anos 1640 que marca Jean-Baptiste Poquelin para sempre. Contratado por um aristocrata francês para ensiná-lo a atuar, Molière não apenas se mete com a esposa do seu empregador como muda a família dele para sempre.

O episódio do aristocrata é definidor da carreira de Molière, no filme de Tirard, porque ali o autor e comediante aprendeu a observar e retrabalhar em suas obras a rotina pomposa dos palacetes. Há humor e há drama em suas peças - o equilíbrio entre tragédia e comédia que até hoje é o centro das discussões sobre a obra de Molière - mas acima de tudo há crônica. É essa observação da realidade ao seu redor e, mais importante, é a forma como devolve essa realidade ao esnobe público, que imortalizou as peças do parisiense.

Interpretado com carisma pelo astro francês Romain Duris (de Albergue Espanhol, À Francesa, Exílios, Em Paris), o Moliére do filme é tocado por essas questões, mas sem deixar de fazer palhaçada e derreter corações - afinal, como o título também diz, o espectador pode estar atrás das "aventuras" e quer mais é se entreter e não necessariamente aprender quem é Molière.