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Baz Luhrmann explica por que escolheu Coronel Tom Parker como narrador de Elvis

Omelete entrevistou diretor em Cannes

19.07.2022, às 06H00.

Com Elvis, Baz Luhrmann sente uma certa responsabilidade de participar na volta dos espectadores às salas de cinema, em meio a um monte de marcas estabelecidas, como Marvel. “Como eu sou masoquista, eu escolho marcas mortas, como O Grande Gatsby, William Shakespeare”, disse o cineasta em entrevista com a participação do Omelete, em Cannes. “Mas eu consegui trazer bons públicos e ressuscitar essas marcas.

Curiosamente, por um instante, o diretor pensou em chamar Elvis de “O rei e o coronel”. Ele desistiu porque Elvis Presley, na verdade, não gostava de ser chamado de rei, apontando que o rei do rock, na verdade, era Fats Domino. E também porque Elvis é uma marca "tão forte quanto Coca-Cola".

Mas não seria totalmente absurdo. Porque Elvis, o filme que estreou na última quinta-feira (14) no Brasil, depois de fazer sucesso, fora de competição, no último Festival de Cannes, na realidade tem como narrador o “Coronel” Tom Parker, interpretado com a ajuda de pesada maquiagem prostética por Tom Hanks. Parker era o produtor de parques de diversão e circos que virou empresário do cantor (vivido por Austin Butler) logo no início de sua carreira. Parker também é um personagem controverso, que nem era coronel, nem se chamava Tom Parker e tinha um passado misterioso na Holanda.

Mas por que o diretor escolheu um narrador tão pouco confiável para contar a história do mito Elvis Presley? “Você tem algum amigo que conta histórias de maneira confiável?”, respondeu Luhrmann. É uma provocação e tanto em uma roda de jornalistas, mas ele continuou. “Documentários são aparentemente a verdade e em geral trazem aquela narração típica”, disse o diretor. “Mas daí a gente vê na internet como é fácil manipular as pessoas a acreditarem que algo é a verdade, quando não é. Eu acho que os dramas são mentiras contadas por alguém para chegar a uma verdade maior.”

O filme começa com Parker deitado em uma cama de hospital, sob efeito de morfina. E ali ele se defende das acusações de ser uma má pessoa, que explorou Elvis Presley, impediu sua carreira internacional e acabou pressionando tanto o cantor, que ele se viciou em remédios e acabou morrendo prematuramente, aos 42 anos de idade. “Ele está dizendo que não é o vilão. Que só fez seu trabalho, que era fazer com que a carreira de Elvis fosse a mais lucrativa possível”, explicou o diretor.

E Parker vai além: joga a responsabilidade para os fãs, ou seja, para o público. “Parker diz que fez seu trabalho tão bem que nós amamos Elvis, e ele nos ama. Que o cantor só se sentia bem quando estava sendo amado pelos seus fãs e amando-os de volta.” E que, no momento em que Elvis Presley morreu, seus discos bateram recordes de vendas.

Luhrmann compara a escolha narrativa à de Amadeus, o filme de Milos Forman de 1984 que ganhou oito Oscars. Aparentemente uma cinebiografia do compositor e músico Wolfgang Amadeus Mozart, é na verdade sua história contada sob o ponto de vista de Antonio Salieri, um talentoso artista que foi ofuscado pela genialidade de seu contemporâneo. “O filme é sobre inveja”, disse Luhrmann. Ele tem suas suspeitas de que Parker sentia-se de forma parecida. “Os dois tiveram infâncias muito complicadas, ambos tinham um buraco no peito e eram sonhadores”, contou. “Parker queria ser grande. E Elvis, também.