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Filmes

Entrevista

Conheça Carolina Markowicz, diretora que fez de Pedágio um hit dos festivais

Filme da cineasta chega aos cinemas brasileiros nesta quinta (30)

27.11.2023, às 18H30.

2023 vem sendo um ano e tanto para a diretora e roteirista Carol Markowicz. Além de ter seu trabalho reconhecido pelo diretor Walter Salles, em setembro a cineasta foi a primeira brasileira a receber um troféu no Tribute Awards durante o Festival de Toronto, sendo homenageada ao lado de nomes como Pedro Almodóvar e Spike Lee. Agora, nesta quinta-feira (30), ela lança Pedágio, seu novo longa-metragem que foi aclamado no cenário internacional e também na edição mais recente do Festival do Rio, de onde saiu com um total de 4 prêmios.

Ser uma diretora brasileira e ainda por cima abrir tantas portas no exterior definitivamente não é algo fácil. A paulistana já teve seus projetos exibidos em cerca de 300 festivais, como Cannes, Locarno e SXSW, já tendo conquistado mais de 80 prêmios. "Sempre tudo para as mulheres é mais difícil (em todas as profissões e em todos os lugares do mundo), isso para mim está sendo uma construção de muitos anos, não é uma coisa de uma hora para outra. Eu tenho uma carreira de curtas, que é algo que ajuda muito, tanto no sentido de aprender, como de entender a minha própria linguagem. Basicamente eu acho que faço as histórias de personagens que eu gosto de ver e de tentar compreender. A minha vontade de fazer esses filmes advém um pouco disso", conta a cineasta em entrevista ao Omelete -- que você escuta na íntegra no podcast abaixo:

Seus projetos contam com histórias originais, retratando com frequência personagens que estão à margem da sociedade. "A realidade tá uma loucura, né. Eu acho que a arte para mim vem muito nesse momento de querer compreender isso. Como é que está a nossa sensibilidade, nossos parâmetros para os absurdos? Para o verossímil? O humor eu acho que serve muito para isso, como ferramenta crítica, para ridicularizar também. As coisas estão em uma linha tênue entre o que poderia ser verdade e o que não poderia", pondera Carol.

Em 2022, a cineasta lançou Carvão, seu primeiro longa-metragem, e ouviu muitas perguntas sobre a veracidade da trama, sobre uma família que tem sua rotina transformada após aceitar hospedar um estranho: "Eu entendo essa pergunta perfeitamente, porque poderia ser algo real. Então eu acho que o ponto é esse: basicamente eu gosto de fazer esse cinema do absurdo, mas que poderia ser real. Algumas coisas são e outras não e a gente sempre fica nessa linha meio nebulosa do que é verossímil e do que não é".

Pedágio, seu novo longa-metragem, segue uma linha semelhante: ele conta a história de Suellen (Maeve Jinkings), uma cobradora de pedágio que percebe a oportunidade de usar o seu trabalho como forma de obter uma renda extra ilegalmente. O motivo? Pagar um tratamento caríssimo de "cura gay", ministrado por um pastor estrangeiro, para poder "tratar" seu filho. Markowicz é muito conhecida por realizar trabalhos com um tom de humor ácido, e com Pedágio não seria diferente. "Eu acho que em públicos mais conservadores talvez haja um estranhamento maior disso ser tratado com um certo humor ácido. 'Um assunto tão sério e violento, por que tratar com humor?' Gente, a existência de algo chamado 'cura gay' já é a coisa mais patética que pode existir. Colocar isso no lugar do patético me parece necessário. Como artista me pareceu necessário", relata a cineasta.

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Cena do filme Pedágio

Cota de tela e novos projetos

Questionada sobre o atual momento do cinema brasileiro e as discussões em torno da cota de tela nos últimos meses, Marcowicz destaca que, nesse cenário de retomada aos cinemas no pós-pandemia, a pauta surge em um momento mais do que urgente: "Foi muito legal estar agora nos festivais, na Mostra, ver os cinemas lotados, isso deu um ânimo. A cota de tela é importantíssima, isso acontece em muitos países que valorizam a cultura como ela deve ser valorizada e é fundamental para que a gente tenha a formação de público para o nosso cinema. É muito importante que as pessoas voltem ao cinema principalmente para ver os nossos filmes, para ver a nossa cultura retratada na tela''.

Com Pedágio prestes a ser lançado, a cineasta já se dedica também a dois novos projetos. Um deles vai ser realizado com uma produtora audiovisual dos Estados Unidos e o segundo, no Brasil. "Eu acho que vai ser algo bem interessante, estou super animada para os dois. O projeto brasileiro é uma sátira sobre uma família rica de São Paulo, isso eu posso adiantar. Eu estou animada, mas ainda estou nesse começo de processo", conclui a diretora. Ambos os projetos seguem sem data de estreia definida.