Nem todas as experiências amorosas são passageiras em tempos de modernidade líquida, e anos de intimidade não necessariamente são sinônimo de conformidade. Seguindo essa premissa, 13 Sentimentos busca mostrar como o afeto não é esquecido com facilidade, e em como ele pode interferir profundamente na vida de cada ser humano disposto a amar.
O filme do diretor Daniel Ribeiro se encaixa informalmente como a segunda história de uma trilogia sobre relacionamentos, iniciada por Hoje Eu Quero Voltar Sozinho - desta vez, no entanto, a faixa etária sobe um pouco além das descobertas juvenis. João (Artur Volpi) é um cineasta que termina um relacionamento de 10 anos, mas mantém uma amizade próxima com o ex-namorado. No pessoal, João resolve engatar em aplicativos de namoro. No lado profissional, perde a chance de realizar o seu primeiro filme e se vê obrigado a recorrer à pornografia caseira para manter-se empregado.
O que vemos a partir disso é a tentativa, com graus de frustração, de se aventurar na solteirice, o que implica lidar com tabus ligados ao sexo. Ao falar sobre afeto, o longa acompanha as etapas (nem sempre conscientizadas) de um luto amoroso, vivido sempre de forma muito íntima e particular por cada pessoa, ao mesmo tempo em que presta atenção em questões coletivas do sentir nos dias de hoje. O filme mostra de forma crua toda a confusão que envolve redescobertas - e recomeços.
Pelo seu próprio título, que sugere uma catalogação de sentimentos a serem ticados e enquadrados no processo de superação, 13 Sentimentos se deixa prever com facilidade em direção a um desfecho apaziguador. Não existe razão para o protagonista não conseguir se desprender de suas amarras do passado e se abrir para um novo amor, mas a forma como João se perde em si mesmo parece pensada apenas para funcionalizar sua jornada. Uma montagem confusa, que peca em organizar as passagens de tempo e a imaginação fértil de seu protagonista, pode alienar ainda mais o espectador.
Entre romances e relações abordadas de forma casual na vida que se abre para João, é a sua amizade com Alice (Julianna Gerais) e Chico (Marcos Oli) que pode servir de lastro para que o público se aproxime mais. São eles que o apoiam desde o início de sua jornada através do amor, que cuidam e cobram. A dupla de atores, além de sincronizados entre si e com toda a confusão do personagem de Volpi, se presta a algo além da escada ou do alívio cômico, e poderia render muito mais do que se mostra em tela.
Diferente de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, que no seu coming-of-age lidou muito com a introspecção do seu personagem principal, 13 Sentimentos acaba sendo uma jornada mais solitária. Em tempos de atenção sobre o Eu, quando se fala muito em narcisismo e tudo nas redes sociais aponta para soluções autodidáticas de aprendizado, este segundo longa da trilogia de Daniel Ribeiro talvez seja mais um sinal dos dias do que o próprio filme reconhece.