Filmes

Crítica

A Casa do Medo - Incidente em Ghostland

Novo filme do diretor de Mártires decepciona com terror sádico e vazio

17.10.2018, às 18H15.
Atualizada em 18.10.2018, ÀS 13H53

[Cuidado! Spoilers de A Casa do Medo abaixo]

Incidente em Ghostland/Divulgação

O uso de violência sempre foi um tema de debate no cinema, sendo ainda maior nos gêneros de ação e terror. Assim como toda ferramenta narrativa, sua utilidade depende da aplicação: os filmes que fazem bom uso são aqueles que criam justificativas para isso, levantando discussões pertinentes e investigando a mente daqueles capazes de cometer crimes brutais. A Casa do Medo - Incidente em Ghostland, nova aposta do diretor Pascal Laugier (Mártires), não é um desses exemplos.

A trama mostra duas irmãs viajando com a mãe para a casa de sua tia. Elas não se dão bem entre si: Beth (Emilia Jones) é reclusa e sonha em ser escritora, Vera (Taylor Hickson) está de saco cheio de sua família. Ao chegar na casa, elas são atacadas por dois estranhos que anteriormente viram na estrada. Se a premissa parece corrida e sem nexo, é porque ela é mesmo. O filme sequer desenvolve as personalidades e motivações dos personagens - e em momento algum volta para corrigir esse erro, mesmo tentando ressaltar o emocional das garotas e a brutalidade dos inimigos como o pontos principais do conflito.

Ter protagonistas e vilões rasos traz consequências. Após a violenta cena de invasão domiciliar, a trama avança para a vida adulta de Beth (Crystal Reed), que agora é uma escritora de sucesso, casada e com um filho - mas que ainda é perseguida pelo trauma de ter visto sua família sendo agredida. Assim, Ghostland vira um conto de fantasmas onde Beth passa a misturar a realidade com os horrores do passado.

Isso deixa a sensação de que o longa talvez tenha algo a dizer - até que é revelado que a garota, na verdade, continua presa pelos invasores e apenas está usando sua imaginação como forma de escapismo. Quase meia hora é desperdiçada com esse "sonho" de pouca relevância e não há tensão além de sustos baratos e previsíveis. É uma tentativa de plot twist ofensiva, e o roteiro literalmente tira um momento para explicar ao espectador o que realmente aconteceu com a menina através de diálogos que duvidam da capacidade do público.

Essa inconsistência de tom, alternando aleatoriamente entre terror de fantasmas e suspense de invasão doméstica, revela um filme que não tem ideia do que quer fazer ou contar. Isso também se reflete na estética, que até emplaca algumas boas cenas, mas que no geral é composta por fotografia genérica e sem graça. A Casa do Medo pode ser confundido com qualquer terror de qualidade duvidosa feito na última década.

No fim das contas, Ghostland é uma experiência pouco original e nada assustadora que abusa de todos os clichês para entregar algo sofrível. Com Mártires (2008), Laugier já provou que consegue justificar a violência e humanizar o horror através do trauma e vingança. Isso não se aplica ao seu trabalho mais recente, que termina sádico e vazio.

Nota do Crítico
Ruim