Em um dia como outro qualquer, doze naves ovaladas escuras surgem sem aviso em pontos aleatórios do globo. Imediatamente, pânico, violência e confusão começam, enquanto governos tentam estruturar uma maneira de se comunicar com essa força invasora, que simplesmente paira ali, sem ação.
A premissa de A Chegada (Arrival) pode até se parecer com tantos outros longas de ficção científica, mas a sensibilidade do canadense Denis Villeneuve (Os Suspeitos, Sicario - Terra de Ninguém) dá ao filme uma qualidade clássica, do tipo que honra luminares do gênero, como Isaac Asimov e Arthur C. Clarke.
Amy Adams e Jeremy Renner vivem a dupla de especialistas em comunicação convocada para ajudar nas negociações com os alienígenas. Ela uma linguista e ele um matemático teorético. Ambos precisam responder à pergunta "o que vocês querem?" que outras onze equipes no mundo também tentam. Mas a política, interesses e diferenças culturais entrarão no caminho da ciência.
Villeneuve mais uma vez mantém o público tenso do início ao fim, com sua câmera sisuda e a música absurdamente atmosférica de Jóhann Jóhannsson. A primeira entrada na nave ecoa a missão do túnel em Sicario, por exemplo. Mas o cineasta alterna a isso momentos de beleza natural que lembram Terrence Malick, dentro das memórias da linguista.
A Chegada se parece em alguns momentos Contato, mas tem uma urgência de suspense blockbuster pouco comum em longas de ficção-científica profunda. Enquanto corre com o mistério extraterrestre, afinal, Villeneuve está na verdade discutindo a natureza da linguagem, das relações, da troca e do próprio cinema, brincando com a não-linearidade na montagem, da mesma forma como os aliens talvez percebam o tempo. Dessa forma, o filme ingressa desde já no seleto grupo dos poucos filmes de ficção-científica que conseguem efetivamente debater o que significa ser humano ao cercar-nos de desconhecido.