Talvez o diretor Gore Verbinski nunca consiga realizar o filme de BioShock que planeja há anos, mas seu retorno ao terror, A Cura (A Cure For Wellness), 15 anos depois de O Chamado, pega emprestada alguma coisa do game, do visual de uma utopia meio Belle Époque aos temas que misturam geneticismo e horror. Esse é o núcleo de um grande pastiche que, ao longo de duas horas e meia, coleta sem pudor elementos de uma dúzia de outras fontes.
Na trama, Dane DeHaan faz Lockhart, um jovem operador de mercado financeiro que é enviado para buscar um executivo de sua empresa em um retiro remoto nos Alpes suíços, local famoso entre milionários por suas fontes de água milagrosas. Entre uma hidroterapia e outra, Lockhart descobre que o misterioso spa, assim como a tal "cura", estão envoltos em segredos sinistros.
A princípio, Drácula (pela premissa do engravatado levado inadvertidamente a se envolver na história de um castelo isolado), O Iluminado (pela obsessão com o enquadramento geométrico e estilizado do hotel spa) e principalmente Ilha do Medo (pelo pastiche de referências organizado em torno de um jogo de conspiração hospitalar e ilusionismo) são as bases de A Cura. A essas referências, o roteiro escrito por Justin Haythe junta todos os principais lugares-comuns do terror - fobia de cobra, de dentista, de fantasma, de hordas de mortos, de afogamento, de sufocamento - até chegar ao principal, o medo de enlouquecer.
O fato de Verbinski embalar todo esse referencial de filme B num trabalho todo elaborado de cenografia e fotografia "de prestígio" seria apenas um esforço fora de tom, se A Cura não se desgastasse ainda mais apostando suas reviravoltas supostamente inteligentes em elementos ainda mais derivativos do horror barato, como o token (a bailarina), o enigma (as palavras-cruzadas), a insistência do tema musical. Há sempre uma veia pop que move os filmes do diretor, mas, a exemplo de Cavaleiro Solitário, essa veia sempre termina entupida pelas pretensões de autor de Verbinski.
No caso de A Cura, o acúmulo de referências (que logicamente culmina numa evocação do horror do nazismo, como uma boa Lei de Godwin) é costurado de forma bastante aborrecida em função da exposição (tudo é enunciado burocraticamente, e DeHaan passa boa parte do filme perguntando "por quê" sempre que alguém se dispõe a explicar a trama) e em torno de relações meio óbvias de causa e efeito. É muito provável que o espectador desvende o mistério todo bem antes do final do filme, o que só torna as viradas de A Cura mais ineficazes.
É muito diferente, então, do pastiche de Ilha do Medo, porque todo o acúmulo de coisas no filme de Martin Scorsese se justifica por um impulso cinefílico, para examinar gêneros, testar suas fronteiras, e divertir-se no processo. Embora A Cura tenha seus momentos de prazer de filme de gênero (especialmente quando a matriz em Drácula finalmente se consuma, no clímax), Verbinski e Justin Haythe parecem ocupados demais amarrando as pontas do filme para sequer divertir-se enquanto o fazem.