A Entidade traz uma atmosfera de filmes de cabana mescalada a suspenses investigativos. A economia de efeitos e a aposta na amargura do personagem de Ethan Hawke o fez se destacar entre os demais, ainda que escorregasse no exagero do uso da trilha sonora e na presença das crianças. Agora, a sequência esquece estes conceitos, traz a maldição do Bicho Papão para o centro da história e faz referências à obsessão inescrupulosa das pessoas em se filmar e ter a necessidade de atenção.
Scott Derrickson, diretor do primeiro filme, escreve o roteiro baseado na história de uma mãe (Shannyn Sossamon) e dois filhos (os gêmeos Robert Daniel e Dartanian Sloan), e nas investigações do ex-xerife So & So (James Ransone), que deixou a força policial após o caso do escritor Ellison Oswalt (Hawke). O cineasta Ciaran Foy comanda a trama com um visual quase documental, colocando nas mãos dos personagens a condução da história por meio de antigas filmagens encontradas. A partir daí, A Entidade 2 explora mais a morbidez de crianças assistindo às torturas incluídas nestas fitas achadas, do que o conflito familiar em si.
Foy mostra sem pudor a alegria das meninos ao testemunhar assassinatos e violência, e deixa a influência do espírito do mal subentendida - como uma entidade por trás de atos bestiais. A frequência com que mostra estas imagens faz o espectador não só se incomodar com os rituais, mas também criar uma antipatia imediata às crianças que aparecem. É como se fosse uma provocação de Foy e Derrickson à uma geração que não consegue tirar o olho da segunda tela, sempre dando mais atenção à própria obra do que ao assunto que realmente importa. Na cena em que o detetive se confronta com um espírito por meio do celular, a intenção fica ainda mais evidente.
A tentativa de dosar este tom com humor, porém, não acompanha o mesmo ritmo. Ransone se porta como o alívio cômico de uma história que se leva a sério demais para conseguir emplacar algumas risadas, principalmente por não as encaixar da maneira mais sutil - nenhuma piada vem sem aviso. O imbróglio familiar também não ajuda, mas tem nos gêmeos a válvula de escape para a provocação proposta por Foy. O desespero em um ser melhor que o outro, em um “publicar um vídeo” mais mórbido, e todas as disputas entre os dois são o direcionamento certo para o simples desespero de atenção que eles (ou um deles) precisa.
A Entidade 2 conta uma história de Bicho Papão diferente do primeiro filme. Enquanto um se escondia por trás do suspense, esta aqui não tem vergonha de se mostrar ou anunciar o susto. Por mais que cumpra os requisitos obrigatórios do gênero e escorregue em certos momentos, o filme vai além do trivial e conversa de uma maneira diferente sobre um assunto atemporal. E conversar sobre a necessidade de atenção de uma geração sob a pele de crianças assassinas é admirável.