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Quando saiu a lista dos indicados ao Oscar de 2003, a maioria dos brasileiros estava decepcionada. O "nosso" Cidade de deus (2002) havia sido esnobado na categoria Filme Estrangeiro. Uma família, porém, comemorava bastante: os Saldanha. O carioca Carlos Saldanha mineiramente comia pelas beiradas e tinha seu primeiro grande trabalho indicado ao prêmio. Como co-diretor de A era do gelo (2002) Saldanha fazia valer todos os seus esforços desde que decidiu deixar o Brasil e tentar a sorte no competitivo mercado norte-americano. Seu próximo passo foi dividir mais uma vez a direção com Chris Wedge, desta vez em Robôs (2005). Agora, em A era do gelo 2 (Ice age 2 - The meltdown, 2006), ele finalmente ganha a chance de voar solo. E se dá muito bem!
A nova aventura do mamute Manny (voz de Ray Romano no original e Diogo Vilela na versão nacional), o preguiça Sid (John Leguizamo/Tadeu Mello) e o dente-de-sabre Diego (Denis Leary/Marcio Garcia) está mais engraçada, mais emocionante e se utiliza das novas tecnologias para criar cenários cada mais realistas. E, o que é ainda melhor, utiliza de forma mais certeira o esquilo pré-histórico Scrat (cujos grunhidos foram mais uma vez criados por Chris Wedge) e sua desesperada busca por nozes. Desta vez, todos os apuros pelo qual o cartunesco personagem passa estão mais ligados ao que acontece com os outros personagens, embora sua saga na verdade seja paralela a tudo isso.
As referências a outros filmes não são tantas quanto no parodista Shrek, mas se mostram já na primeira cena, quando Scrat escala um paredão, em tomada idêntica à de Tom Cruise em Missão: Impossível 2. Enquanto isso, lá embaixo, centenas de outros animais pré-históricos se divertem em um parque aquático rodeado de muito verde. Porém, quando Sid, Manny e Diego descobrem que os penhascos de gelo ao redor do vale estão prestes a ceder, inundando toda a região, começa a aventura por um lugar em que todos poderão se salvar do fim do mundo.
Por trás de tudo isso, claro, há um caráter eco-político: o alerta ao aquecimento global, que é uma ameaça nos dias atuais e vem sendo solenemente ignorado pelas grandes potências. O uso de um tema tão sério em uma animação já não causa mais espanto, afinal, há muito tempo o gênero deixou de ser infantil. Hoje, os grandes estúdios que fazem animação - seja ela em 2D, stop-motion ou computação gráfica - não querem divertir apenas os pequenos, afinal, eles não vão ao cinema sozinhos. O conceito é de "filme-família", com situações que agradem a todas as idades e nisso o roteiro escrito por Jon Vitti beira a perfeição.
A parte mais dramática da história - mais uma vez - se passa com Manny. Depois de ser afastado de sua família, ele vaga solitário e muitos julgam ser ele o último de sua espécie. Quando ele está quase conformado com a situação, acaba encontrando Ellie (Queen Latifah/Cláudia Jimenez). Pronto, a perpetuação da espécie está garantida, né? Nada disso! Quando era pequena, a mamute se perdeu dos seus pais e foi adotada por uma família de gambás. Pior, ela TEM CERTEZA de que é uma gambá! A inusitada situação e a presença dos dois "irmãos" de Ellie, Crash e Eddie, vai render ótimas situações cômicas, que vão do humor físico ao literal, com ótimas tiradas.
Curioso notar que o tema da família esteja mais uma vez no centro das atenções. Se no primeiro longa o grande desafio era levar o bebê humano perdido de volta para os seus pais, aqui temos situação semelhante enfrentada por Ellie. E a história não pára aqui, afinal, o brasileiro Carlos Saldanha foi criado pelos lobos hollywoodianos e está mostrando que os Moglis não estão só nos livros e desenhos.