Não é a primeira vez que o cinema coloca paladar na telona. Fazem parte desta categoria filmes belíssimos como o americano Tomates Verdes Fritos, o chinês Comer, beber, viver e o europeu Como água para chocolate, por exemplo. Desta vez, foi Hollywood que resolveu espalhar chocolate na película para tentar garantir um Oscar. As quatro indicações ao Globo de Ouro (melhor filme musical ou comédia, melhor atriz - Juliette Binoche -, melhor atriz coadjuvante - Judi Dench - e melhor trilha sonora provavam que Chocolate estava no caminho certo.
A divulgação do Oscar só confirmou o que muitos já estavam esperando: Chocolate conseguiu seu lugar ao sol. Com cinco indicações, incluindo categorias importantes como Melhor Filme e Melhor Atriz (Juliette Binoche), o filme dirigido pelo sueco Lasse Hallström (Regras da Vida), entra para uma seleta lista. Não houve surpresa porque este é mais um produto da Miramax.
Quem não se lembra do ano de 1999, quando a produtora de Shakespeare Apaixonado e A Vida é Bela levou quase tudo que disputou para casa? Houve nesta época uma grande campanha aqui no país contra o filme de Roberto Benigni. Afinal, ele foi o vilão que, junto com a Miramax e seu poderíssimo lobby, "roubou" o Oscar de Central do Brasil. Injustiça? Difícil dizer. Shakespeare Apaixonado, A Vida é Bela e Regras da Vida, os filmes da produtora dos irmãos Weinstein que disputaram a estatueta da academia nos dois últimos anos, são filmes com muitos méritos. O mesmo acontece com Chocolate.
Assim como o saboroso doce feito do cacau, o filme mistura ingredientes na medida certa. Há comédia, romance, tensão e uma cuidadosa fotografia, que deixa na dúvida o desavisado que não sabe se o filme é ou não europeu. Juliette Binoche está linda como sempre e mereceu a indicação, mas dificilmente ganhará. Estar na lista já deve ser encarado como um prêmio. Quem tem um pouco mais de chances de ir para casa com um Oscar dentro da bolsa é Judi Dench, embora Kate Hudson (Quase Famosos) seja a favorita.
Juliette Binoche tem dito em suas entrevistas mais recentes que a França não é mais o seu lar. Não importa se ela esteja no cinema, teatro ou qualquer outro trabalho, seus contemporâneos não conseguem mais enxergar beleza no seu serviço. Parodiando os gauleses de uma certa irredutível aldeia: são loucos estes franceses. Por causa desta marcação cerrada, a belíssima atriz francesa mora atualmente em Nova York, onde encena Betrayal.
Esta mesma discriminação sofreu Vianne Rocher (Juliette Binoche) quando chegou à pequena vila francesa de Lansquenet, trazida pelo vento norte. Junto dela está sua filha, Anouk (Victoire Thivisol). A chegada das duas muda o dia-a-dia dos habitantes locais. Vianne abre uma chocolateria em plena quaresma, época de jejum entre os cristãos, e ganha de cara um inimigo de peso, Conde de Reynaud (Alfred Molina), líder da comunidade. A disputa entre os dois se acirra quando Roux (Johnny Depp) aporta seu barco à margem da cidade.
Vianne é meio bruxa, meio cigana. Ela diz ter o dom de adivinhar qual o tipo de chocolate é o preferido da pessoa. Pode ser chocolate quente, com pitada de canela ou até mesmo pimenta! Aos poucos, ela vai ganhando a confiança das pessoas de Lansquenet, mas duas pessoas se tornam importantes nesta batalha: Amande Voizin (Judi Dench) e Josephine Muscat (Lena Olin). A primeira por se tornar a primeira aliada e a última por mostrar que Vianne estava certa ao tentar mudar as pessoas, mostrando-lhes a liberdade de escolha. A grande contradição do personagem vivido por Binoche é que ela mesma era uma prisioneira. Seu sangue materno a fazia mudar-se constantemente, causando infelicidade em sua pequena filha.
Vá ao cinema desprovido de grandes expectativas e você sairá muito satisfeito. Ah, não se esqueça de comprar um cholate na bomboniere... sempre ajuda :)